Parte 13

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______________ [29 e ...] ______________

O prêmio que tinha recebido pelo curta-metragem lançado no ano anterior foi deixado de qualquer jeito sobre a pia da cozinha e um esbarrão ou vento mais forte o derrubaria, mas Nanon não se importava.

Ele girava o copo, que segurava com as pontas dos dedos, e o som do gelo batendo nas laterais era tudo o que ele precisava para se distrair enquanto folheava a revista que estampava seu rosto sorridente após o evento de cinco dias atrás.

O troféu estava esmagado contra seu rosto sorridente e naquela hora pareceu muito maior e mais importante do que agora.

Era só mais uma coisa para ocupar espaço e forçar as memórias de antes.

Sua mãe esteve ao seu lado, mas seu pai não veria o seu sucesso, sua irmã havia desistido dele, Chimon tinha mandado flores e um cartão e ele tinha sido covarde demais para abrir. Praticamente todas as pessoas importantes do seu passado tinham sido deixadas para trás por tantos motivos diferentes, que ele mal conseguia ver sentido nessa conquista.

Será que Pat ainda lembrava daquele tempo? Ele reconheceria a praia onde a única coisa que importava eram eles dois? Aquela praia onde tudo foi perdido? Ele estaria feliz pela sua vitória?

O coqueiro ainda estava lá.

Podia ser outro, um novo e mais forte, quem saberia dizer?

Pran estava sendo bobo novamente.

Nanon fechou a revista e a colocou embaixo do braço, pegou a garrafa com sua mão livre e caminhou até o sofá. Ele se jogou no assento, deixando a revista cair ao seu lado, bebeu o whisky que tinha no copo de uma vez só e o encheu de novo.

Ele olhou para o teto, respirou fundo e puxou a revista de volta para o colo.

As palavras atribuídas a ele não faziam sentido, ele não se lembrava do que tinha dito e nem quando, mas pelo menos parecia coerente. Ele levou o copo à boca e depois o colocou sobre a mesa de centro.

Será que ele realmente estava exagerando como as pessoas diziam?

A repórter dizia que o senhor Korapat Kirdpan era um verdadeiro cavalheiro, sorridente e simpático, quase um galanteador, que se mantinha respeitoso o tempo todo.

O que ele tinha dito ou feito? Havia um grande buraco na sua memória que vez ou outra era preenchido com imagens desconexas e borradas.

Ele fechou a revista e deitou para trás, apoiando a nuca no encosto do sofá, e olhou para o teto.

Só mais uma dose e depois iria dormir.

Não, ele tinha que parar.

Uma dose a mais faria diferença?

Não, não faria.

Nanon se aprumou no sofá, virou o copo da sua bebida e o colocou ao lado da garrafa, abriu a revista e virou as páginas aleatoriamente, sem se prender a nenhuma parte específica até que uma imagem chamou sua atenção. Ele piscou algumas vezes e, sem nem ao menos prestar atenção, esticou a mão em direção a garrafa e encheu o copo, como se existisse um poder sobrenatural de encontrá-lo mesmo sem vê-lo.

Era óbvio que Pat estaria ali: era uma revista e ele era famoso.

Pawat e seu maldito sorriso e desta vez não era uma propaganda, mas uma reportagem sobre sua família. Uma linda família: pai, mãe e filha, os três lindamente sentados em um lindo sofá grande, na linda sala da sua linda casa.

Esta sala tinha uma porta de vidro que tomava boa parte da parede ao fundo e se abria para o quintal florido, com um gramado verde e bem cuidado.

A impressão de Pran era que a paisagem externa era o único adorno interessante do lugar, pois dentro da sala tudo era bem insosso. Havia um quadro sem graça em uma das paredes, uma estátua estranha e monótona em um dos cantos e, no centro, tinha uma mesa com um design minimalista, como parecia ser toda a decoração do lugar.

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