XXXVI - Elos De Poder E Confiança

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— Que história foi aquela de "brincadeiras" em torres de astronomia? — Kain se recostou nos travesseiros e levou as mãos atrás da cabeça.

A claridade do lado de fora desvanecia lentamente e apenas as lamparinas iluminavam o amplo espaço do quarto que agora ambos dividiam. Lin continuava ausente, Finn permanecia preso e Archer havia marcado uma assembleia para a manhã seguinte. Restava a eles esperar por boas notícias.

— Finn e eu sempre tivemos nossas desavenças. Parte pelas expectativas do pai, parte por Griffyn me conceder privilégios que os outros não tinham. — Éden sentou-se na borda da cama e jogou os cabelos soltos por sobre os ombros. — Ele dirá qualquer coisa que julgue elevá-lo em moral. Ignore-o.

— Talvez possa me ajudar a esquecer. — Inclinado-se, Kain tocou a pele de Éden. Seus dedos traçaram um caminho lento desde o pulso até o antebraço dela, divertindo-se em vê-la estremecer sob seu toque.

— Kenneth estava certo. — Éden deu um tapa na mão dele ao ver o sorriso felino se formando em seus lábios. A sós, Kain era um predador declarado, desejando-a como presa sem disfarçar.

— Certo sobre o que?

— Tente pensar como ele e vai descobrir.

Kain gargalhou e puxando-a pelo cotovelo com delicadeza, deitou-a em seu peito. Éden inspirou o aroma intenso de tempestade que o envolvia, perguntando-se como poderia ele ter tal cheiro, embriagando-a sempre que o sentia por muito tempo.

— Espero que isso não a deixe desconfortável. — Seus lábios roçaram levemente os cabelos de Éden antes de depositar um beijo carinhoso no topo de sua cabeça.

— Só não estou habituada a ter relações, sejam elas sociais ou... íntimas. — sussurrou, encolhendo-se nos braços dele, as bochechas ardendo.

— E acha que eu estou? — Kain enrolou uma mecha dos cabelos dela nos dedos, observando a cor de piche misturando-se com o tom quase leitoso.

— Espere! — Éden levantou a cabeça de súbito e o encarou, ambas as sobrancelhas arqueadas. Curiosidade dividia espaço com a cautela em sua mente. — Antes de nós, você nunca... nunca...

— Não — admitiu ele.

Éden estreitou o olhar.

Nenhuma vez?

— É tão surpreendente assim? — riu o príncipe, voltando a brincar com os cabelos dela.

— Um pouco — sussurrou Éden com a testa franzida. — Você não teve, não sei... namoradas, noivas?

Um brilho passou pelos olhos dele, rápido demais para que Éden o identificasse.

— Ah, quer dizer que está na hora dessa conversa? — sorriu ele, deixando transparecer um toque de malícia na voz. As bochechas de Éden voltaram a queimar. Ela tentou se afastar, mas Kain foi mais rápido. Segurando-a pela cintura, ele a puxou mais para cima até que seus rostos estivessem a centímetros de distância. — Se quer saber de algo, pergunte.

Éden limpou a garganta.

— É que, levando em conta que você é seis anos mais velho do que eu e herdeiro de um reino, achei estranho ninguém nunca ter mencionado algum... casamento.

— Meu pai nunca tentou empurrar mulheres para mim, porque nunca estive por perto para que ele conseguisse me exibir para nenhuma delas.

— E onde você estava?

— Em todo lugar e em lugar algum. — Seus olhos distanciaram-se do presente e sombras retornaram ao seu rosto.

Éden começava a entender o que causava tal reação no príncipe. O pai. A mãe. O dever com o reino e seu passado. Protegê-la na sala do trono o levou a exibir o mesmo comportamento. O príncipe havia deixado claro seu livre arbítrio ao realizar ações que Éden julgava serem ruins. Ela se sentia mal por temê-lo ao ver como o sangue em suas roupas não o incomodava nem um pouco. Kain estava lá para ela quando Ghris a queria morta. Encarregou-se de não permitir que fosse insultada. Mandou Anne para cuidar dela. Guardou seus segredos sem pedir nada em troca. Foi à sua procura em Ijhaha e deixou-se ser seu porto seguro no momento em que todas as suas barreiras começaram a ruir.

Solstícios de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora