Capítulo 28

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Itachi sempre foi um bom irmão e sempre cuidou de mim. Me educou, me tratou bem e sempre me manteve distante de quaisquer problemas que ele mesmo arrumava para si... Sempre admirei isso nele, mesmo que não fosse exemplar, ele procurava me ensinar o certo... Quando criança, Itachi chorou enquanto me abraçava, pedindo perdão por não estar lá e dizendo que a culpa não era dos nossos pais... Naquela noite, Itachi saiu com seus amigos e voltou apenas de madrugada, pela janela de nosso quarto. Ele sempre tinha uma forma mirabolante de entrar em casa, mesmo que a janela do nosso quarto fosse simplesmente altíssima (inclusive, aconteceu dele se machucar feio naquela janela, em uma de suas aventuras), e ao chegar em casa, eu estava completamente vermelho e com os olhos inchados de tanto chorar... Acontece que, também naquela noite, eu havia entrado em uma discussão entre nossos pais para defender okaasan, e no fim das contas, fui "castigado" por isso... Ele sentiu-se culpado por não estar lá para me proteger, e por estar levemente alcoolizado, desabou em choro comigo em seus braços, como se tivesse alguma culpa... Quando Itachi fora expulso de casa, prometeu para mim que nunca mais ia se envolver em problemas, ele abandonou as drogas e passou sete anos inteiros sóbrio, ele é um homem bom que não faz mal à ninguém, apenas à si mesmo... Tudo isso, tudo isso até agora...
Todos os abraço, os carinhos, os beijos, os consolos, o vício, o cansaço, as discussões, o abandono... Os conselhos, as demonstrações de afeto, a preocupação, a mudança, a proteção... Tudo isso acaba de passar por minha mente assim que bato meus olhos nos seus nesta maldita mercearia... Os assaltantes saem e eu permaneço imóvel, agora, encarando o líquido e pedaços de vidro no chão, raciocinando e recapitulando a cena que acabo de passar, como em um filme... Eu não posso crer que isso é real... Esse tempo inteiro, a música ainda toca em meus fones, e assim que acaba, ouço A Pearl da Mitski começar...

Ando lentamente até o caixa e tiro várias notas da minha carteira, e deixo todas em cima do caixa. O homem à minha frente me encara, ainda assustado. ─ Isso é tudo que tenho para cobrir. Sinto muito... Pelo saquê que quebrei. ─ E assim, saio da mercearia... Nitidamente deixei muito mais do que o saquê valeria, no entanto, o peso na consciência que estou sentido agora é quase inexplicável... Na verdade, é bem explicável... Olho para o chão e vejo as marcas dos pneus do carro que usaram para cometer o crime, céus... Eu ainda não posso acreditar.
Volto à pé para casa, ainda levemente atordoado e demoro para chegar propositalmente, ainda analisando o que acabara de acontecer.
Chego em casa e minha mãe já deve ter comido e ido dormir, felizmente... Vou ao banheiro e lavo meu rosto. Enquanto encaro o espelho, solto um suspiro doído e noto minha voz fanha... ─ Mas que porra de pecado é esse que estou pagando..? ─ Saio do banheiro e sentado no sofá, esperando pelo pior, já que, depois de hoje, acabo de perceber que sempre tem como piorar...

[ ... ]

Às 2:48 da madrugada, ainda totalmente desperto, sem tomar café ou tentar fazer com que nada me mantenha acordado, escuto a porta da casa se abrir. Vejo Itachi aparecer na porta, com uma mochila preta cheia, ele aparenta estar pálido e exausto, enquanto a minha expressão permanece a mesma... Nossos olhos se encontram novamente, e desta vez, diferente de quando estava na mercearia, sinto um frio percorrer todo o meu corpo, como medo.... E eu jamais tive medo de Itachi... Até então.
Seu olhar é frio e indiferente, como se nada tivesse acabado de acontecer... Nossos olhares se desencontram quando ele vai caminhando até a cozinha com passos lentos e deploráveis. Não trocamos palavra alguma enquanto ele permanece na cozinha, e eu, sentado no sofá virado para a porta de entrada... Se fosse apenas um dia comum, ele perguntaria o que estou fazendo acordado à essa hora em plena quarta-feira, e eu perguntaria o que ele faz fora de casa essas horas... Mas nós dois sabemos que não é apenas um dia comum.
Ele permanece em silêncio na cozinha e não me contento em deixar essa situação, meu sangue ferve instantaneamente e levanto do sofá irado até a cozinha. Da divisória da cozinha, o encaro em silêncio, e ele permanece frio e indiferente... Itachi nunca me tratou assim, muito menos me ignorou alguma vez na vida quando eu estava sequer próximo dele, talvez isso que está me deixando nervoso e com medo? O medo de não conhecer quem está na minha frente, tirando várias coisas roubadas de dentro da mochila como se estivesse sozinho, me ignorando completamente?! Eu não posso, Itachi é meu porto seguro, e-era... Céus, isso não pode ficar assim!

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⏰ Última atualização: Feb 10 ⏰

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