Capítulo 75

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Enquanto encarava o teto, Street checa seu relógio de pulso e exatamente um segundo depois ele apita informando o horário: cinco horas da manhã. Ele se levanta e fica sentado no sofá, apoiando seus cotovelos no joelho e levando seu rosto às mãos, coçando seus olhos. Ele respira fundo e então se levanta de vez, indo até o seu quarto. Chris havia deixado a porta encostada então ele espiou pela fresta e a viu dormindo. Ele entra em silêncio e se senta na cama ao lado dela. Chris estava dormindo de lado, encolhida, com as mãos debaixo do rosto. Parecia plena, calma. Street sentiu paz em vê-la assim. Não queria acordá-la. Poderia ficar horas vendo ela dormir. Ele respira fundo mais uma vez e apoia a mão em sua cintura fazendo um carinho. Ele a balança gentilmente e a chama duas vezes, a fim de acordá-la. Quando Chris se mexe, suspirando, ele tira a mão e a observa, despertando de uma maneira fofa e abrindo um sorriso sonolento.

- Bom dia. - Street fala baixinho.

- Conseguiu descansar? - Chris pergunta desorientada mas analisando o rosto de Street, visivelmente cansado.

- Tirei alguns cochilos... - Ele responde com um breve sorriso. - Vou fazer um café. A gente sai em 15 minutos, ok? - E então fala sério, se colocando de pé logo em seguida.

Chris assente com a cabeça e se levanta logo depois que Street se retira. Ela vai ao banheiro, lava o rosto, escova os dentes e dá uma leve ajeitada no cabelo. Ela veste sua botinha e arruma a cama de Street e passeia seu olhar pelo quarto. De repente ela sente uma certa nostalgia e saudade. E então sai do quarto, colocando uma alça da mochila em um dos ombros. Street está do outro lado da bancada, na cozinha, servindo o café em uma xícara.

- Pega aqui. - Ele fala de maneira gentil. - Vou tomar uma ducha e a gente já sai. - E pega a sua xícara e vai em direção ao quarto.

Chris apenas assente com a cabeça e apoia a mochila em uma banqueta, se sentando na outra. Ela bebe um gole de café com vontade, como se estivesse dependendo dele para viver. Ela mexe um pouco em seu celular enquanto termina o café e depois vira seu corpo para a sala, observando o apartamento de Street, e se levanta indo em direção à prateleira. Street não tinha muitos livros, mas os que tinham eram excelentes. Chris fica impressionada em reconhecer tantos títulos bons no acervo dele. Crime e Castigo, Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451 estava entre eles. Chris gostava mais de romance, sentia que relaxava mais com eles, mas também gostava de leituras mais profundas. E então Street abre a porta do quarto terminando de vestir uma camisa e seu olhar vai de encontro ao de Chris, que sente seu corpo esquentar. Eles se observam por um tempo. Street estava visivelmente abalado. E por dentro, estava confuso. Ao mesmo tempo que queria a companhia de Chris, tanto pela situação em que estava enfrentando com sua mãe quanto por gostar de ter ela ao seu lado, desejava que Chris fosse embora. Não queria que ela presenciasse a cena deplorável de encontrar sua mãe drogada. Street se sentia envergonhado. Sentia que Chris não precisava ver aquilo e nem ter acesso à essa parte feia e desagradável de sua vida. 

Chris, por outro lado, queria demonstrar apoio para Street, mas não conseguia deixar de notar uma certa aversão da parte dele. Ela sentia que parecia que ele não queria ela ali, o que a fazia questionar se ele queria que ela se afastasse, por ter negado seu pedido de namoro.

- Vamos? - Street finalmente quebra o silêncio.

- Vamos. - Chris espanta esse pensamento, pega a sua mochila e se dirige até a porta.

- Eu acho melhor... - Street fala olhando para a chave da moto em sua mão e Chris o olha, enquanto colocava a mochila nas costas e passando o cabelo para frente. - A gente ir no seu carro. - E então olha para Chris. - Se minha mãe estiver mesmo lá, assim a gente consegue trazer ela de volta.

- Tá, claro... - Chris responde abrindo um leve sorriso.



O caminho todo Street fica em silêncio. Chris dirige atenta. A rua estava deserta e o sol ainda estava nascendo. Ela percebe ter chegado no distrito de Skid Row ao avistar as barracas de moradores de rua nas calçadas. Chris se lembra de já ter realizado operações naquela parte da cidade quando trabalhava no K9. É um local sujo, abandonado e repleto de mendigos. As drogas por ali correm solta e o clima é visivelmente pesado.

- É aqui. - Street fala e aponta para frente, indicando uma vaga na esquina para Chris estacionar.  

- Acho melhor você ficar... - Ele fala assim que ela desliga o carro. - Não é lugar para você. É melhor você esperar no carro. O que você vai ver... Não é bonito. 

Chris olha confusa para ele. Como policial ela presencia cenas deploráveis envolvendo drogas quase que diariamente, e por isso estranha ele falar assim. Mas Street não se referiu ao fato de achar que ela não era forte ou madura para entrar ali. Ele apenas queria proteger ela.

- Street, não vou te deixar entrar naquele prédio sem companhia. É perigoso.

Ele vira seu rosto e observa a rua pela sua janela.

- Eu vou com você. - Ela abre a porta do carro. - E eu não me importo. - E sai.

Street respira fundo e sai do carro também. Eles atravessam a rua indo em direção ao prédio. Chris olha ao redor e na mesma hora passa um drogado resmungando alguma coisa. Street coloca sua mão nas costas de Chris e a guia para passar a sua frente e subir as escadas do prédio, enquanto encarava o drogado. Chris para na porta e leva uma mão às costas, ao cós da calça jeans, levantando levemente a blusa e segurando sua pistola que estava ali. Street, atrás de Chris, olha a cena e se recorda que ele é policial. Em momento algum ele havia pensado que estaria, como policial, indo resgatar sua mãe drogada. Ele faz o mesmo movimento e pega em sua arma, mas ao contrário de Chris, ele a tira da calça e fica com ela na mão. Chris tenta abrir a grande porta de madeira, velha e pixada, empurrando-a com a mão, mas ela está emperrada. Ela então empurra com o ombro e a porta se abre.

O hall de entrada é comprido e mal iluminado. Chris analisa rapidamente o ambiente, quieto e sujo e com cheiro de mijo. Street entra logo em seguida com a arma apontada para baixo. Ele avista uma sala à direita e olha para Chris como um sinal de que irá entrar. Chris olha a arma na mão de Street e então finalmente retira a sua, ficando a postos. Street se dirige até a sala e para ainda na soleira da porta e rapidamente analisa o espaço, não encontrando nenhuma ameaça, apenas caixas velhas de papelão e algumas pessoas dormindo no chão. Ele volta para o hall principal e então eles seguem para a escada no final do cômodo, andando devagar e atentos.

- Guarda a arma. - Ele fala baixinho para ela, colocando a sua de volta no cós da calça. - É pior se nos virem armados.

Chris assente com a cabeça e a guarda. E então ela se pergunta quantas vezes Street já havia passado por uma situação como essa, indo buscar a mãe drogada em um local insalubre. De repente ela se assusta com uma cena no fundo. Ela se depara com uma mulher ajoelhada de costas e um homem encostado na parede virado para ela, com as mãos segurando a cabeça dela. O homem devia ter uns cinquenta anos, careca, barrigudo e mal vestido, mas não parecia um usuário de drogas. A mulher, por outro lado, aparentava ter vinte anos, usava uma saia preta, uma sandália suja e velha e uma camiseta rasgada.

- Está encarando o quê? - Ele grita com raiva para Chris e Street. Chris olha com espanto e nojo ao mesmo tempo. A garota, provavelmente drogada, não virou o rosto. Ela continuou fazendo sexo oral no homem, que também continuou segurando a cabeça da garota, balançando-a com força para frente e para trás. Street encara o cara com raiva e puxa Chris pelo braço, fazendo ela subir as escadas que ficavam à direita.

SWAT - A história de Christina AlonsoOnde histórias criam vida. Descubra agora