XLVII • Perspectiva

356 30 0
                                        

Jacaerys e Daemon estavam dentro da sala do pequeno conselho. O mais velho estava sentado na cadeira da cabeceira, normalmente reservada ao rei, enquanto o mais novo, de maneira impaciente, observava a vista da cidade. Do lado de fora da sala, era possível ouvir a delegação de conselheiros se aproximando, conversando em tom alto sobre qualquer assunto.

Os guardas abriram a porta da sala do pequeno conselho para que os membros entrassem. Num primeiro momento, houve certo espanto por parte dos conselheiros ao avistarem o príncipe Daemon sentado na cadeira do rei. Mesmo assim, eles entraram e tomaram seus lugares, cumprimentando Jacaerys e Daemon enquanto se aproximavam.

– Bom dia, Vossa Alteza. – O lorde das leis disse formalmente após posicionar sua pedra de mármore avermelhada em seu apoio. Daemon não fez questão de responder.

Antes que qualquer um pudesse engajar em outro assunto, Lucerys , acompanhado de Sor Erryk, entraram na sala. O príncipe Velaryon não estava com uma expressão amigável.

Jacaerys voltou-se para seu irmão com olhos ansiosos. Lucerys devolveu o olhar brevemente, mas então se posicionou perto da mesa de pedra, sem se importar com Daemon sentado na cadeira que deveria ser sua.

– Como todos devem saber, a crise em Dragonstone foi controlada graças aos esforços dos príncipes Daemon e Jacaerys. – Luke começou a falar, mantendo-se de pé próximo à cabeceira oposta da mesa. – Espero que nenhum outro incidente aconteça na ilha pelos próximos meses... A princesa Rhaenys me escreveu ontem dizendo que logo estará em King's Landing, mas também me informou que lorde Corlys enviou três frotas náuticas para fortalecer a guarnição de Dragonstone e ajudar a manter a ordem enquanto as vilas são reconstruídas.

Os lordes do pequeno conselho pareciam acostumados com a dinâmica de Lucerys em conduzir a reunião, fato que pareceu intrigar Daemon e irritar levemente Jacaerys.

– Quanto aos preparativos para a reintegração do rei, fui informado de que... – Lucerys estava no meio de sua sentença quando Jacaerys o interrompeu.

– Parece-me que há algo de que você está se esquecendo, irmão. – Jace comentou, chamando a atenção de todos.

Lucerys pareceu se controlar para não responder ao irmão mais velho de maneira rude.

– E o que seria que estou esquecendo, príncipe Jacaerys? – Luke o questionou com um tom seco.

– Eu retornei para a capital.

– Sim, estou vendo com meus próprios olhos.

– Então poderia me explicar por que ainda está assumindo a regência de Westeros? – Jace questionou Lucerys. Nenhum conselheiro parecia confortável com aquele diálogo.

– Cumprindo o meu dever, algo que você entende muito bem, já que acabou de voltar de uma tarefa difícil em nome da Coroa. – Luke respondeu a Jacaerys e, sem dar tempo para Jace retrucar, continuou: – Mas você não deve se preocupar com questões burocráticas exaustivas, irmão. Seus deveres com o reino serão entregues a você o quanto antes...

Jace não respondeu.

Lucerys terminou a reunião com o conselho após mais algumas instruções sobre o novo exército da cidade que estava em formação. O jovem regente se retirou da sala, sendo acompanhado por Sor Erryk.

– Você se saiu melhor do que eu imaginei. – A voz de Daemon se fez presente no corredor, do lado de fora da sala do pequeno conselho. Ele havia saído para tentar interceptar Lucerys e ter um momento a sós com o filho. Luke parou de andar e voltou-se para Daemon assim que ouviu sua voz. – Mas estou intrigado. A primeira coisa que vejo ao retornar é você sujo, chorando em meus braços no pátio principal da Fortaleza, e agora, o que vejo é, na verdade, a imagem de um verdadeiro rei, ordenando seus subordinados e comandando o pequeno conselho com uma maestria na manipulação que antes só havia visto no próprio Otto Hightower.

– Devo tomar isso como algum tipo de elogio? – Lucerys questionou o príncipe mais velho.

Daemon riu.

– Até suas respostas estão envenenadas com a política da corte. – Ele parecia orgulhoso de Lucerys, o que o deixou intrigado. – Mas tenho algo para lhe contar. – Daemon caminhou para perto do filho. – Eu cumpri minha promessa. Comandei a patrulha da cidade e trouxe para as masmorras todos aqueles que estavam participando das lutas de crianças. Também me adiantei e ordenei que os patrulheiros destruíssem todos os outros ringues de lutas clandestinas.

– Existiam... existem outros? – Lucerys pareceu vacilar por um momento.

– Você realmente acreditou que aquele pequeno circo na região rica da cidade fosse um caso isolado? Certamente havia outros eventos como aquele, até maiores, disseminados por toda a capital. – Daemon contou, enquanto notava o olhar de ódio florescer nos olhos brilhantes e azuis de Lucerys.

– Obrigado por sua ajuda. – Luke disse com certo alívio.

– Você precisa passar a regência para Jacaerys. Não é de bom tom um irmão mais novo tentar roubar o lugar de um herdeiro. – Havia certa ironia nas palavras de Daemon. Por um momento, o príncipe se recordou de todas as vezes que foi acusado de tentar usurpar a coroa de seu irmão mais velho, Viserys.

– Estou cuidando disso. – Lucerys respondeu, voltando à sua postura de regente real. Ele não esperou por outra resposta de seu tio-padrasto. – Preciso ir. Tenho outros assuntos para resolver antes de entregar tudo para Jace... – E, com essas palavras, Lucerys se retirou. Daemon o observou com uma expressão intrigada.

...

Do lado de fora da majestosa Fortaleza Vermelha, Daeron observava a vista para a cidade de um dos mirantes do Jardim de Alyssane. Ele estava de pé, com a cidade à sua frente. De seu ponto de vista privilegiado, conseguia observar grande parte da Alta Cidade, até os portos, onde navios com bandeiras carregando o estandarte Velaryon atracavam, trazendo suprimentos e demais itens comerciais.

– Sua recente calmaria está me preocupando, irmão. – A voz de Aemond se fez presente. Daeron não se deu ao trabalho de se virar para olhá-lo, mas um sorriso divertido apareceu em seu rosto.

– Que estranho você comentar isso. Eu estava agora mesmo me recordando daquele ditado sobre a calmaria antes da tempestade. – Daeron disse e então virou-se para encarar o rosto de seu irmão mais velho. – A que devo a honra de sua visita? Certamente você já deixou claro mais de uma vez que não aprecia minha companhia como antes... Algo o perturba, príncipe Aemond?

– Você tem sido toda a fonte de minha preocupação ultimamente, Daeron. – Aemond respondeu. – Desde o incidente com Lucerys, você tem estado recluso, raramente participa dos encontros da corte e parece estar sempre andando pelas sombras, esgueirando-se pelos caminhos secretos.

– Que imagem vil a que você tem de mim, querido Aemond. – Daeron deixou escapar uma risada sincera. – Se houvesse apenas tempestades e apocalipses pelo mundo, como poderíamos apreciar a construção de coisas novas?

– O que quer dizer com isso? – Aemond questionou.

– Quero dizer exatamente o que disse. Não há graça em propagar o eterno caos. Às vezes, devemos deixar o fluxo da casualidade seguir livremente. – Daeron comentou e então voltou a observar a cidade. – Tenho verdadeiro fascínio pela tendência natural humana de procurar o caos... Não é uma coisa engraçada?

– Apenas me diga o que planeja fazer. – Aemond parecia sem paciência para os joguinhos de palavras do irmão.

– Você precisa aprender que nem tudo está ao seu alcance para ser controlado, Aemond. Quando aprender isso, poderá talvez desfrutar de algo que há muitos anos venho desfrutando...

– O que seria isso? – Perguntou Aemond.

Daeron voltou sua atenção novamente para o irmão mais velho e, com um sorriso nos lábios, respondeu:

– Perspectiva. – Seus dentes brancos pareciam brilhar sob a luz do dia devido ao seu sorriso largo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 01 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Valyrian Boys • Aemond and LucerysOnde histórias criam vida. Descubra agora