Valyrian Boys • Aemond and Lucerys

XVI • O Deleite de Vhagar

A tempestade estourava solta em Porto Real. Naquela madrugada a família Velaryon-Targaryen estava recolhida em seus quartos. Após os acontecimentos entre Brandon e Lucerys, o rei ordenou que dois guardas fizessem vigias na porta de seus netos Jace e Luke, e na porta do quarto do Stark para impedir que ele fugisse.

Aemond não estava dormindo. Ele estava andando por um corredor escuro que foi apenas iluminado quando um raio rasgou o céu da capital. Ele andava de forma lenta e calma, seu dedo se arrastava pela parede de maneira suave enquanto ele subia um lance de escadas.

Quando chegou perto da Torre Norte, ele virou a esquina e colocou as mãos para trás de seu corpo. Seu andar tomou uma atitude militar como se estivesse marchando de maneira perfeita. Ele avistou dois guardas com o estandarte Targaryen em seus escudos e lanças negras mais altas que seus corpos parados a frente de uma porta.

Aemond continuou andando. Os guardas perceberam sua presença. Quando Aemond parou em sua frente, eles fizeram uma reverencia com a cabeça. O príncipe os encarou, e eles permaneceram em silêncio sem conseguir entender o que o Targaryen queria.

— Meu príncipe? — um dos guardas arriscou perguntar.

— Podem ir. — Aemond disse de maneira indiferente.

— Senhor, temos ordens do rei para não sairmos da vigia de Lorde Brandon.

— Hm. — Aemond suspirou. — Entendo. — Ele disse olhando para os pés. Aemond ficou encarando o chão de pedra por alguns segundos para criar sua distração. Quando um dos guardas a sua frente fez uma menção de falar mais alguma coisa, Aemond foi tão rápido quanto o bote de uma víbora. O príncipe socou o rosto de um dos guardas tão forte que ele caiu instantaneamente desmaiado. O segundo, tentando ter alguma reação e sendo pego de surpresa pelo movimento de Aemond, tentou se esquivar, mas o Targaryen empurrou sua cabeça contra a parede dura de pedra. O impacto de seu capacete de metal com a rocha foi tamanho que ele também desmaiou. Aemond girou a maçaneta da porta lentamente, passando por cima dos corpos inconscientes dos soldados para dentro do quarto de Brandon Stark.

O ambiente estava completamente escuro. Ventos gelados entravam pelas janelas carregando algumas gotas de água da chuva para dentro do quarto. Brandon dormia em sua cama. Aemond se movimentava como um verdadeiro leão caçando, silencioso e mortal.

O príncipe estava ao lado de Brandon, observando-o dormir. Seu rosto estava com alguns hematomas. Seu lábio cortado com uma casquinha de sangue seco. Suas bochecha parece estar um pouco inchada e em sua maçã do rosto continha um sombreado amarelado residual.

Aemond calculou infinitas maneiras de matá-lo. Um simples movimento de sua adaga de aço valiriano seria o suficiente. Ele morreria engasgado no próprio sangue em poucos segundos. Mas não. Aemond não queria matar Brandon de maneira tão misericordiosa.

O príncipe tomou o cuidado de se preparar para pular em cima da cama. Em um movimento rápido, Aemond estava em cima de Brandon, praticamente sentado em seu colo, sua mão correu para cobrir a boca do Stark para que ele não gritasse. Já sua outra mão, empunhava sua adaga, estava agora perto do rosto dele.

Brandon acordou em um susto. Ele estava com os olhos arregalados. Tentou se mexer, mas o fato de seus braços estarem embaixo do cobertor não permitiam que ele conseguisse empurrar Aemond de cima dele.

— Me diga, o que me impediria de enfiar essa faca através de seu lindo olho azul até o outro lado do travesseiro, Lorde Brandon. — Aemond sussurrou analisando todo o rosto assustado de seu prisioneiro. Existia um tom assustadoramente calmo em sua voz acompanhada de um sorriso de lado psicopata. — Seria tão fácil e rápido, mas qual a graça? — Ele pergunta, e encara Brandon. — Eu vou remover minha mão da sua boca nojenta, se você fizer alguma menção de gritar eu corto sua garganta. — Sua ameaça era verdadeira.

Brandon balançou a cabeça em afirmativo.

— Bom garoto. — Aemond disse e lentamente tirou a mão de cima da boca do Stark.

— O que você quer? — Brandon perguntou. Ele parecia estar com falta de ar.

— Conversar, apenas. Afinal, não é você que gosta de conversar em particular em quartos escuros com Tagaryens? — Aemond começou. — Ah Brandon, eu estou com tanto ódio de você. — Sua voz saiu baixa e amedrontadora. — Você não consegue imaginar, um terço, do que eu estou com vontade de fazer com você. Talvez a mais tentadora das minhas ideias seria arrancar seu pau e enfiá-lo na sua garganta e depois costurar ela... ou talvez, amarrar você de cabeça para baixo e te sangrar como um porco! — Aemond passou os dedos pelos fios de cabelo negros de Brandon.

— Eu cometi um erro, mas você não pode me matar, eu sou um Stark, se me matar vai comprar uma guerra com o Norte! — Brandon parecia desesperado em seus argumentos.

— E o que faz pensar que você teria o direito de sair desse castelo andando, pela porta da frente, depois do que fez com Lucerys? — Aemond ri. — Jace fez um bom trabalho com seu rosto, ele ainda vai crescer e ficar mais forte, mas o garoto tem futuro pelo que estou vendo. — O príncipe passa a ponta de sua adaga na bochecha de Brandon e um corte minúsculo faz nascer uma gota de sangue. — Deuses! Como eu queria estar com meu irmão e sobrinho quando eles te acharam em cima dele! Como eu queria colocar minhas mãos em você e enfiar sua cara nojenta dentro da lareira e te ouvir gritar sem ar, queimando, ardendo em chamas... E sabe qual seria a melhor parte? Eu sairia como um herói, um príncipe que lavou a honra de sua família perante um ato profano e grotesco. Os Starks seriam expulsos de Winterfell, todos seriam executados pela Justiça do Rei, sua linhagem milenar iria desaparecer da face da terra tão rápido quanto você desse seu último suspiro com um pedaço flamejante de carvão na boca. — Aemond estava insano. Mas seu tom calmo de falar e sua postura eram o que deixavam Brandon ainda mais aterrorizado. — Eu ainda poderia montar em Vhagar, voar até o norte, destruir seu castelo com sua família dentro, eu consigo até ouvir os gritos deles de pavor, queimando sem ar, derretendo de dentro para fora sem conseguir se defender. A última vez que Vhagar voou no Norte foi durante a Conquista, imagine só o deleite que seria para ela finalmente, pousar sobre os ossos carbonizados da sua família... — Aemond sorri. — Você cometeu o pior erro da sua vida. Entrou em uma caverna de dragões sorrateiramente e pensou que conseguiria alguma vantagem com isso.

— Me... Me desculpa... — Brandon tem lagrimas nos olhos seu corpo todo ardia.

— Não, shh shh — Aemond secou as lagrimas dele. — Não chore, querido Lorde Stark...

— Aemond... Príncipe Aemond, não me mate por favor. — Brandon suplicou em um soluço.

— Matar você? — Aemond riu um pouco mais alto causando um eco no quarto. — Sua vida agora pertence a mim, Brandon Stark, a cada passo que você der, a cada vez que se deitar em sua cama e acordar, saiba que foi um presente meu. — Aemond começou a brincar com o sangue que escorria na bochecha dele. — Mas, um dia, eu posso acabar me cansando da ideia de viver em um mesmo mundo que você. Eu posso me cansar de ser misericordioso. E quando esse dia chegar, um dragão cuspindo fogo será a última coisa que você verá. — Aemond afastou um pouco seu corpo do de Brandon, mas continuou em cima dele. — Isso pode acontecer amanhã, daqui um ano ou em dez anos... Você nunca vai saber, mas saiba que eu nunca irei me esquecer do que você fez com Lucerys e se por algum acaso ele me pedir para te matar eu irei te varrer da realidade com o maior prazer do mundo.

Aemond saiu de cima de Brandon. Ele parou ao lado da cama e guardou sua adaga no cinto novamente.

— Sua vida agora está nas mãos dos Targaryen, seu destino e o destino da sua Casa serão definidos pelo Fogo e Sangue. — Aemond estava totalmente indiferente. — Se aproxime do meu garoto de novo eu vou te jogar dentro de uma cova cheia de lobos famintos. — O príncipe ajeitou sua roupa se preparando para sair. Brandon continuava imóvel em cima da cama, encarando Aemond.

Aemond caminhou para longe e saiu do quarto, trancando a porta. Ele retornou para seus aposentos onde passou o resto da madrugada acordado pensando em Lucerys.