Valyrian Boys • Aemond and Lucerys

II • Torta de Limão

O jantar se inicia com todos na mesa. Viserys sentado bem ao meio da grande mesa e de seu lado direito a rainha Alicent e do lado esquerdo a princesa Rhaenyra. Todos mantem uma conversa baixa e bastante calma. A comida, como sempre, está deliciosa. Cordeiro assado pelo fogo de dragão, uma iguaria que só pode ser provada pelos Tagaryens e seus mais estimados convidados.

Em uma extremidade está sentado o príncipe Aemond e na outra o príncipe Lucerys, as vezes eles trocam olhares, principalmente quando Aemond percebe que Lucerys está o encarnado do outro lado. Quando isso acontece, Luke rapidamente desvia o olhar para o prato ou para outro alguém da mesa. Jacaerys chama a atenção de seu irmão mais novo para algo e os dois começam a conversar sobre algo em tom baixo, Aemond os observa. Ele percebe quando Jace faz uma careta que arranca uma risada um pouco mais alta de Lucerys, e isso o deixa envergonhado porque algumas pessoas da mesa olham para eles, Jace ri enquanto seu irmão está com o rosto vermelho ao receberem um olhar repreensivo da princesa Rhaenyra, mas que logo volta a conversar com Daemon e Viserys sobre a vida em Dragonstone.

As horas se passam e todos terminam o jantar. Aemond toma a sua terceira taça de vinho enquanto começa a reparar no príncipe Lucerys do outro lado da mesa. Lucerys está sorrindo para Jace e Daemon enquanto eles planejam uma corrida de dragões até Dragonstone, Aemond sente a acidez do vinho descer por sua garganta e esquentar seu corpo, ele olha para seu prato vazio que logo mais será recolhido por algum criado e quando retorna para continuar olhando para Lucerys ele também está com sua taça em mãos e pretende tomar um gole de vinho, mas para no meio do caminho para poder responder a Jace uma pergunta que ele não conseguiu ouvir, quando termina da falar Lucerys toma o liquido de tom roxo escuro e de forma atrapalhada deixa uma gota cair para fora seu lábio, ele tem que usar o dedo para limpar, Aemond o observa em cada movimento, e nesse momento, Lucerys volta seus olhos para Aemond que não desfaz a conexão. Passa-se um segundo e meio até Lucerys não conseguir sustentar mais o olhar penetrante de seu tio em cima dele e ele é obrigado a olhar para baixo. Nesse mesmo instante, os criados entram no salão de jantar para recolherem os pratos e servirem as sobremesas. Rapidamente a mesa está coberta de diversos doces.

— Torta de limão, meu príncipe. — Leon, um criado jovem serve no prato de Lucerys. — Príncipe Aemond nos disse que é o seu favorito. — Ele sussurra a última parte apenas para que Lucerys pudesse ouvir. Lucerys paralisa seu corpo encarando o bolinho de massa branca com uma rodela de limão cristalizado a sua frente, ele não consegue entender o sentimento que passa por ele, a forma como sua mão vai tão suavemente em direção e toca aquela sobremesa que parece estar um pouco mais gelada que a temperatura de sua mão. Ele sente a textura grudenta da calda de açúcar grudar em seus dedos e quando segura o bolinho tem que recalcular sua força para que ele não escorregue e caia de volta no prato. Lucerys percebeu que estava com a respiração presa quando a incrível necessidade pelo ar fez seu peito arder e em um suspiro pesado tomou-lhe como um soco o aroma inebriante de limão silvestre que vinha de Highgarden. Ele deu uma mordida, sentiu a textura macia da massa de baunilha saborizada com o suco da fruta acida e a textura mais rígida e suculenta do limão cristalizado que enfeitava o doce. Sua boca, encheu-se de saliva quando a acidez invadiu todos os sentidos de seu paladar, o contraste alucinante entre o azedo e o doce permitiu que os músculos do corpo de Lucerys relaxassem, e um sorriso nasceu em seu rosto ainda com boa parte da porção do bolinho que havia mordido dentro da boca.

Aemond, observou todo o processo do outro lado da mesa de madeira, ele sentiu uma ardência em sua mão, e então percebeu que estava segurando a taça com força. Ao soltar o ornamento de metal que sustentava a porção de vidro sua mão se viu em um alívio doloroso. Ele olhou para sua mão vermelha pela pressão. Por um momento, se perguntou, o que estava acontecendo com ele. Ele não conseguia entender o que estava sentindo. Se viu como o menino que foi um dia, perdido em tantos pensamentos que mal conseguia formular uma frase completa. Uma figura que ele sufocou e lapidou após domar sua dragão Vhagar em Driftmark.

— É tão bom ter aqui, reunidos mais uma vez, toda a minha família. — O rei Viserys toma a atenção de todos. Ele, um homem de idade um pouco avançada, usa a força de seu corpo para apoiar-se em uma bengala ornamentada com a cabeça de um dragão esculpido em mármore de Dorne. — Quando minha filha, a princesa Rhaenyra, partiu para Dragonstone eu senti a devastação da dor por não a ter mais por perto. — Sua voz torna-se embargada. — Eram dias mais complicados na corte, eu entendo, por vezes admito que poderia ter lidado com situações de melhor forma, porém, meu avô costumava dizer que os erros do passados são feitos para nos guiarem a um futuro melhor e não para nos atormentarem e nos puxar para o abismo... Então aqui estamos, juntos outra vez, uma só Casa, uma só família! — Viserys ergue sua taça, em sinal de brinde, e todos o acompanham.

— Meu Lorde-Marido. — Alicent se levanta em seguida. — Eu gostaria de erguer minha taça para a princesa Rhaenyra... desde a infância crescemos juntas como irmãs e no decorrer de trágicas situações, nosso laço foi enfraquecido. — Existe um tom de ressentimento em sua voz. — Mas, pela graça dos Sete, eu consegui entender, ou melhor, ver! Que nada é mais importante do que a nossa ligação e que é essa ligação que permitirá nossa família unida e forte. — Alicent ergue sua taça e olha para Rhaenyra que está surpresa com suas palavras. — Você será uma ótima rainha um dia.