Capítulo VIII - Disparo Inesperado

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A decisão é minha, mesmo que digam que está tudo bem ou se estou fazendo tudo errado, sou eu quem decide se vou pular nesse abismo, é uma queda longa e profunda cercada de cores escuras, mas também não é como se estivesse em busca da luz. Com mentiras, medo, hipocrisia ou dor nunca vou reprimir meus impulsos.

Empanturradas de doces e porcarias sentamos no banco do parque próximo ao zoológico, respiro extasiada passando a mão na barriga, ela me imita, solto um riso discreto, procurei por bastante tempo, porém ainda não encontrei essa tal de Liz, chamo-a:

— Narci.

Faz bico e me ignora virando para o outro lado, corrijo-me:

— Grandiosa Narci?

— Sim! — Responde com um sorriso aberto.

— Como é a "Liz"?

Cruzou os braços com uma expressão séria, levantou o dedo indicador e apontou para cima:

— Aha! A Liz se parece com a Liz.

Com meus punhos fechados coloco um de cada lado da cabeça dela e giro apertando suavemente, afasta-se e choraminga dizendo:

— Isso foi maldade, Ainy. — Põe as mãos na cabeça.

— É Aina.

— Gosto mais de Ainy, então vou te chamar de Ainy.

Olho-a irritada com a sobrancelha levemente levantada, amedrontada fala:

— Assustador...

— Como é?

— Aina, Aina eu disse Aina.

Respiro profundamente mirando o céu, talvez seja melhor leva-la para as "autoridades competentes", joga-la dentro de um buraco também funcionaria. Brincadeira. Fico de pé e me espreguiço estralando o pescoço, reparo que ela está mais uma vez balançando as pernas, já que seu pequeno corpo não alcança o solo, parece tão indefesa:

— Aha! — Grita assustando-me.

— O que foi?

Aproxima-se de mim toda alegre puxando a barra do meu shorts e apontando freneticamente para frente, vejo uma mulher empurrando um carrinho de bebê:

— A Liz se parece com aquela moça.

É possível que seja a mãe dela, por que será que a chamaria pelo nome? Tanto faz:

— Narci, acho que vai ser melhor se te levar par... — Viro para onde estava, noto que ela sumiu.

Impossível. Cadê essa menina? Procuro ao redor e nada, apoio o braço na placa de entrada do zoológico para descansar, uma coisa é ser distraída outra é perder a presença de uma criança, esse tipo de coisa acaba com meu orgulho, irei simplesmente esquecer tudo e...

— Quero ir aqui! — Aponta Narci para o...

Narci?

— Filha da mãe. — Pego-a pelo colarinho.

Sorrindo diz:

— Agora você está parecendo com a Leah.

Layla me segura porque senão juro que vou esganar essa pirralha, reparo que tem pessoas em volta, solto-a, tento sair de lá, mas sou impedida pelo guarda que deposita sua mão em mim perguntando:

— Algum problema?

— Sim, essa mão no meu ombro está me causando uma sensação de extremo desconforto, gostaria que retirasse. — Respondo.

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora