Capítulo X - Impacto

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Mentiras... Verdades... Realmente importa? É claro que não, no fim de tudo vão escutar apenas o que lhes convém, é uma tremenda perda de tempo, então não tem motivo para dizer a verdade e muito menos para ser sincero, nada de bom pode vir disso, apenas um eco interminável de arrependimento.

O ar está denso e condensado de fragmentos cortantes, com muita dificuldade levo-o até os pulmões e solto novamente em forma de microscópicos cristais, assim evitando a contaminação do meu organismo.

Olho ao redor e analiso a situação, nada de janelas ou portas, minhas mãos presas à parede com essas correntes que estão drenando toda minha energia, sem qualquer contato com a Layla, todas essas desvantagens empurram-me para duas possíveis soluções, um ranger metálico atrapalha meus pensamentos, uma porta se abre a direita como se fosse um elevador mesclado à parede, por ela passa uma mulher com lycra grudada em todo seu corpo, digo:

— Este lugar... Não é um tanto quanto elegante pra um calabouço? Ulzur.

— Mandei pintar. — Responde-me.

— De branco? — Contesto.

O som de sua voz ecoa pelo meu corpo e repentinamente é como se nunca tivéssemos nos afastado, como se meu universo atual se transformasse em ilusão, sinto-me uma criança, por um instante miro seu corpo altamente desenvolvido, sem dúvida se passaram anos, logo regresso a infeliz realidade, acho que a falta de energia está me deixando à beira da psicose, Ulzur posiciona-se ao meu lado e quebra as amarras dizendo:

— Sabe qual a minha cor favorita? — Tremo. — É o vermelho que escorre de meus oponentes.

Engulo seco e tento me afastar, mas meu corpo não se move, ela me pega pelo colarinho aproxima seu rosto do meu e fala em tom ameaçador:

— Diga-me, o que aconteceu?

— Vocês me sequestraram foi isso q...

Minhas falas são interrompidas por um golpe no estômago, um soco que foi pressionado até me levantar no ar, seguido por um chute de cima a baixo afundando-me no chão, o impacto quebrou muitas de minhas costelas e rachou boa parte do solo, não faz diferença, afinal não sinto dor alguma, já perdi essa capacidade há muito tempo, enfraquecida continuo ouvindo-a falar:

— Um lixo fracassado como você jamais poderia ter...

— Matado os próprios pais? Mas eu fiz, que prova você tem do contrário?

Apoio meu peso sobre os braços e ergo-me ficando de joelhos, olho a palma de minhas mãos, o fluxo de energia está instável, estou sangrando, mais uma vez próxima a mim diz:

— A maior de todas. No dia em que perdemos nossa coroa e você manchou o brasão de nossa família, tem noção de como é ter que se submeter a famílias como Stravarious?

Golpeia-me o rosto, sou jogada para o lado formando um rastro de sangue, continuo a escutar seus gritos enraivecidos:

— Sabe qual o brasão deles? É um peixe, um peixe!

Replico em deboche:

— Ah... Que peninha, veio apagar suas cicatrizes em mim?

— Na verdade, vim fazer novas, em você.

Com a palma da mão aberta atravessou-me, tive a sensação dos meus órgãos estarem sendo arrancados, segundos depois não via mais nada, podia sentir sua ira por eu não estar gritando nem gemendo em agonia, do que adiantaria? Ninguém viria me salvar, tudo que tenho é esse corpo incapaz de sentir frio, calor, dor, carinho ou qualquer outra coisa a minha volta, pensando agora é o mesmo com meu coração.

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora