Capítulo XVI - Prisão De Sangue

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A vela queima transformando tudo em cinzas e espalhando mentiras, o medo que me segura, o ódio que cobre meus olhos e o gelo em meu coração dizendo que nada vai mudar. Um acidente intencional, quando os minutos e os dias deixaram de importar. Submergidos ao caos, lutamos.

Imagens embaçadas passam por minha mente, as absorvo como se fossem informações, e passassem a fazer parte de mim, assassinatos, torturas, desmembramentos, experimentos científicos com humanos, uma longa lista de desgraças causadas pelos meus antepassados, os anteriores chefes de nossa extinta família, massacres e mais massacres, por motivos incrivelmente ridículos.

Cada família guarda muito bem os segredos de sua origem, especialmente aquelas que carregam um poder especial. Quanto mais as memórias voltam no tempo, mais me aproximo da verdade que nunca quis conhecer, nunca imaginei que seria capaz de manter minha sanidade frente a tudo isso, esse turbilhão de emoções dominado pelo desespero absoluto.

Ponho as mãos na cabeça, não consigo me conter e começo a gritar tentando bloqueá-las, é intenso, a velocidade diminui, vejo nessas lembranças Ulzur conversando com um homem alto de cabelos pretos, ela parece feliz, o cara lhe dizia:

— Por que você não vem fazer parte da minha família? Mas que fique claro que não estou te pedindo em casamento. — Entrelaçou seus dedos com os dela.

— Pensarei no assunto, mas que fique claro que não estou te dizendo sim. — Sorriu de maneira sarcástica.

Entendo, então é assim... Este homem... Ulzur estava grávida de Liam, o Stravarious, aquele cujo brasão era um peixe. Galahd seu idiota, ela jamais o trairia, saiba que você ultrapassou todos os limites e isso acaba agora:

— Galahd, tu que facilmente transforma sorrisos em lágrimas, se prepare, pois eu vou te mostrar a verdadeira dor.

— Pare de se achar, criança. Agora sou o chefe da Ghevra Nielly, não tenho que me preocupar com pequenos problemas. — Estalou os dedos.

Subordinados surgiram de todos os lados acompanhados de animais, perfeito, tudo que precisava, objetos para testar meus novos poderes, com o corpo envolto em chamas monocromáticas, uso-as como propulsão para saltar, no ar lanço uma labareda de fogo, metade são atingidos, evito acertar os bichos estúpidos, reflexo de minha exposição à Luna, não que nos demos bem.

O alcance, sem dúvida, aumentou, parece que consigo concentrar as diferentes chamas em braços distintos, o fluxo permanece instável, seria arriscado tentar mesclaras. Aterrisso espalhando energia pelo chão, a superfície do chão se transforma em poeira, não vejo mais Galahd, dissipo as chamas de meu corpo, concentrando-as apenas em minhas mãos, atacam-me.

Dirijo as chamas negras para suas armas e as brancas para seus corpos, ao derrubar o último, ouço estrondos vindo de outros andares, claro que com tanto barulho nossa presença foi notada. Apago as chamas, caio de joelhos, sem forças, respiro ofegante, o suor escorre por minha face, meu corpo treme, cruzo os braços e o aperto-me, é inútil, este sentimento não quer ir embora, rastejo até um dos corpos, como sou imbecil, destruí todas as armas, não sobrou metal para recuperar a minha energia.

Minhas mãos escorregam por seu corpo arranhando-o, vejo ao lado de seu cinto um cantil, de imediato abro-o e o tomo, infelizmente é só água.

"Se continuar se desgastando dessa forma, minha ajuda não será o suficiente"

Não tinha escolha.

"Pare de mentir pra si mesma"

Ergo o braço para cima e cubro meu rosto, estou esgotada, a respiração fica cada vez mais pesada:

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora