Capítulo XIV - Princípio De Tempestade

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Só porque descobrem um segredo não quer dizer que tenham o direito de revelar, mas se você tem tantos desses que não quer que descubram é um sinal de que você não é uma boa pessoa. Nossas misérias, nossas desgraças e tudo que usamos para encobri-las, junte as mãos e faça uma prece, vá em frente e peça para uma força maior fazer o que você não foi capaz e depois quando nada acontecer diga que foi o destino, convença-se do absurdo e negue sua culpa.

A luz da manhã atravessa a janela batendo no espelho que reflete minha bela figura, finalmente poderei conversar com um demônio, apesar de ainda tenho minhas dúvidas quanto a isso, do seu corpo emanava um odor humano mesclado com alguma outra coisa. Enfim, como estou Layla, acha que a bota está combinando?

"Combinando com o que? A cor da sua pele? Vista logo algo!"

Calma ai com o mau humor matinal.

"É descortês chegar atrasada a um encontro que você mesma marcou"

E agora está usando palavras difíceis.

"Caramba..."

Além de que já estou uma hora atrasada, meia hora a mais não fará diferença.

"Não teria acontecido se você tivesse colocado o despertador pra tocar"

Teria despertado se você tivesse colocado o celular para carregar.

"Você largou mesmo mão de qualquer anonimato quando fez uma conta nesse site"

Também não é assim, graças a isso posso conversar com a Nia, desde que eu seja cautelosa está tudo bem.

"Faça o que quiser, como sempre"

Sim.

Terminei de me vestir com um short jeans que combinou com a bota de cano longo, uma regata branca com uma jaqueta preta, bem básico até, olho-me de vários ângulos, serve. Cruzo a porta, imediatamente volto, esqueci o celular, tiro-o da tomada, saio.

Todo vez que desço á cidade, tenho a mesma conclusão, falta um elevador, ou no mínimo uma escada rolante, se me lembro bem, acho que é pela esquerda, passos depois cheguei ao Gourmet Flowers, o nome é chamativo, porém o lugar parece comum, semelhante a uma lanchonete, as mesas ficam de frente para janela.

Adentro, uma garçonete vem em minha direção atender-me, ignoro-a e vou para a mesa no fundo.

"Pensei que estivesse curada"

Não se mudam hábitos tão facilmente, não que queira muda-los.

"Claro, a sua querida Nia é uma exceção"

Isso foi ciúme?

"..."

Que interessante, parece que ela optou por não me responder, paro próxima à mesa:

— Olá Nate, desculpe o atraso — Falo reclinando meu rosto para perto do seu.

— Só peça desculpas se estiver arrependida, algo me diz que não é o caso. — Encara-me.

— Se é assim retiro as desculpas.

Miro seu prato vazio e digo:

— Pelo visto já comeu.

— Sim, inclusive pedi a conta.

Seus olhos vermelhos estavam certamente me julgando, ele é bem bonitinho, pena ser mais novo, pelo que consigo ver confiança não lhe falta. Bom... Não se pode esperar menos de um candidato a Chefe de Família, pego descontraidamente o cardápio:

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora