Capítulo XXV - Metamorfose

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Nada se mantém estável, tudo muda de lugar, só que nem sempre se transformam em algo melhor. Então quando sei que devo arriscar? A capacidade de se adaptar a um mundo caótico é o pior que instinto de sobrevivência pode te oferecer, uma coisa com a qual nascemos e não é tão fácil de se livrar.

De sentidos adormecidos e olhos bem abertos encaro de frente a escuridão. O lugar se parece muito com uma floresta, tem tudo para ser: insetos, grama e um céu que não consigo enxergar graças às densas copas das árvores, mas por algum motivo, sinto que não é bem assim.

A passos aleatórios, fujo, coberta de terra e folhas, estou desesperada. Leah passa por mim desferindo freneticamente golpes ao que nos persegue, ambos me ultrapassam correndo para um espaço aberto no meio da mata, a falta de luz faz com que tenha de me aproximar para procurar por uma explicação.

A garota fantasma está perfeitamente visível, infelizmente não é o mesmo com seu inimigo envolto pela névoa. Encosto no tronco da árvore pintando-o de vermelho, a confusão invade minha mente e as imagens começam a se desfragmentar.

Vejo-o acerta-la, sem se mover, com algo maleável o suficiente para ser confundido com um chicote e afiado o bastante arrancar seu coração do peito. O corpo dela caiu ao chão como se estivesse em câmera lenta, ao menos foi essa a sensação que tive, minha voz ficou presa na garganta e meus pulmões vazios, ainda assim tentei recuperar forças para gritar:

— Leah!

Imediatamente abro os olhos e sou expulsa daquele pesadelo, sento bruscamente na cama, afasto os lençóis e respiro ofegante alargando a gola da camisa. Ao notar a presença de mais alguém, viro o pescoço lentamente para direita e ouço:

— Sonhando comigo?

— Ah! — Grito saltando da cama para perto da janela.

Acabei dando de cara com a infeliz sentada na beirada da cama, inexpressiva com seu pijama preto pontilhado de caveiras prateadas, sinto palpitações aceleradas em meu peito e a adrenalina subir, respondo:

— Não diga idiotices, é claro que eu iria gritar ao acordar e ver essa... — Faço gestos rápidos e confusos com as mãos apontando para seu rosto. — O que tá fazendo?

— Te observando enquanto dormias.

— Quer levar um soco? — Ergo o punho acalmando os ânimos.

— Tô tão feliz quanto você com a situação atual, ou por acaso já se esqueceu do que aconteceu?

No dia anterior...

Amendoim. Acho que vou querer tomar um sorvete de amendoim quando isso acabar.

A tensão decrescente escorre por minhas veias terminando em um curto suspiro de alívio, Nia recusa-se a abaixar suas armas e se mantém ansiosa a espera de uma luta que nada teria haver com ela.

G e Leah se colocaram na frente de Lizzy para agirem como escudo se necessário, típico da atitude de cães fiéis. A hesitação, todavia irradiava de Take. Fazia tempo que não via Zane tão sério.

Lien limpou o riso segurando entre os dedos uma faca e escondendo-a atrás das costas, Rioh apertava o pulso para se conter e Luna sorria calmamente como se fôssemos todos amigos. Kyo retrocederá dois passos para ficar a uma distância segura para se defender.

No rosto da secretária não se formou uma única linha de emoção, foi fácil perceber que estava nos analisando friamente através de seus óculos hexagonais de lentes embaçadas. Mudando o assunto inicial fixou-se em mim e perguntou:

— Filha de Melaya?

— Conheceu minha mãe? — Respondi ignorando futuras repercussões.

— Tive o desprazer.

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora