Capítulo XXXIII - Sentidos Submersos

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Conceitos distorcidos impostos pela sociedade que se dispõe a taxar escolhas pessoais por boas ou ruins. A ideia é simples, continuar com a luta até que um dos lados vença. O passado que me provoca e o amanhã que anseio.

Estava ouvindo uma conversa que me fez questionar muitas coisas desde o surgimento do universo e o narrador não podia ser ninguém menos que Sano:

— Minha querida esposa acordou de madrugada passando mal e pedindo pra liga pro hospital, beleza, deixamos nosso príncipe com Kuran. Ela foi e acabo tendo que tomar soro, e não é que deu dor de barriga nela lá? Imagina só. Lá estava eu segurando o soro com o corpo metade pra dentro do box do banheiro feminino e metade pra fora tapando a porta semi-aberta, e quando passava uma mulher lá? Nossa...

— Foi difícil pra mim também. — Reclama Yuni aos risos. — E na hora de subir a saia? Eu puxava de um lado o Sano do outro e vai, não vai, desce, até que falei: deixa que eu seguro, sobe minha saia. Tinha dois botões, ele só abotoou o primeiro e nem subiu o zíper.

— Ah, puxa a camiseta que tampa. Da próxima vez que quiser cagar use o banheiro de casa. Tá achando que meu dia foi só isso? — Encara-me. — Não! Mal cheguei em casa o telefone tocou e tive que ouvir pelas próximas 3 horas bronca da minha mãe por não ter ido a um dos Hospitais Amore.

— Mas é claro! — Exclama Megu. — Como teve coragem de ir no hospital daquela velha?

— Vocês tem a mesma idade. Embora ela pareça mais jovem.

— Lógico que parece! Inclusive o sangue que corre nas veias dela deve ser artificial.

Isso realmente é assunto de gente rica? Não consigo tirar esse riso bobo da minha cara. Nem sei como reagir a aquele enorme quadro comigo pintada, a imagem marcou meus olhos, imagino que logo será trocado outra vez e será brindado com o novo integrante dessa família.

A visão do céu nessa parte do mundo é mesmo diferente especialmente dessa mansão, o clima não está congelante. Ashi é o único que não se pronuncia apenas assiste com um sorriso de orelha a orelha balançando o neto em seus braços.

O choro de um recém nascido é suave e fofo, o pequeno príncipe parece choramingar a prestação com soluços entre um grito e outro. Sano pega-o, reparo como parece uma formiga perto deles, frágil, tão frágil:

— Sei que não é fome, — Puxa o macacão azul. — Nem a precisa trocar a fralda. Tudo bem se leva-lo para dar uma volta no jardim? Talvez ele se acalme.

— Claro, querido, leve também a manta, a bolsa, a mamadeira, água quente e se esfriar traga-o de volta imediatamente.

— Sim, sim. Viu como tem uma mamãe coruja? — Beija-lhe o nariz. — Vamos Aina.

— O que?

— Não posso carregar tudo isso sozinho.

— Tenho fé que sim, não desista antes de tentar.

A face de aprovação de Megu é tão terna para com ele, e a forma como me mira é tão alegre que sinto que está debochando de mim:

— Tá bom. — Rendo-me pegando a bolsa.

Mas só porque não quero me envolver uma daquelas conversas com ela. O quintal é praticamente um jardim botânico, ao pisar pra fora da casa à criança aos poucos sossegou.

Paramos debaixo de uma árvore com tronco grosso e uma copa imensa, o suficiente para nos proteger o sol. Observo Sano de olhos admirados, acho depois de tudo ele será mesmo um bom pai. Até ele pode ser normal de vez em quando:

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora