Capítulo XX - Mundo Real

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Um passado sobre o qual não se tem controle é como um trem desgovernado a caminho do descarrilamento e no momento da colisão não irá ferir somente a você, as chaves por detrás dessas portas indicam o caminho, ir em frente e olhar sempre para trás e assim nunca nos esquecermos do que passamos.

A cena se divide em duas deixando o espaço ao meio ser tomado pela escuridão que se estende por ambos os lados, em seguida toda a floresta desaparece dando lugar a uma manhã repleta de esplendor, o brilho quase real me desperta aos poucos, lentamente com os olhos ainda fechados ergo meu corpo sonolento e sento na cama, respiro profundamente, abro-os e vejo o relógio.

Num ranger suave a porta se abre, Luna a atravessará vestindo um pijama da mesma cor de seu cabelo, cheio de espaços em branco, meu raciocínio voltava devagar enquanto ela me encarava com aquela expressão sem nenhum traço de emoção:

— O que vocês estão fazendo? — Perguntou.

Considerando a situação respondi da forma mais óbvia possível:

— Não consegue entender pelo contexto?

— Eu sim, mas...

Uma parte da luz fraca do corredor que cruzará o portal foi bloqueada pela garotinha que surgiu das sombras com olhos curiosos perguntando:

— O que a Ainy faz aqui?

Queria corrigi-la por seguir falando meu nome da forma errada, não pretendo deixar que acabem me dando um apelido esquisito como "Narci", mas isso só tornaria o sono do garoto ao meu lado mais desconfortável, em questão de segundos ele literalmente saltou da cama, apenas o observei se explicar, ao meu ver a cueca box verde-escura a mostra não lhe dava muito crédito:

— A Aina teve pesadelos, então ela veio dormir com o tio Zane. — Dizia sorrindo agachado se colocando a altura da criança.

— E pode isso? — Questionou-o estranhando.

— De maneira alguma, isso acaba com o meu sono. — Soltou um suspiro exasperado.

Pelo jeito sobrou para mim, tanto faz, joguei-me na cama, Luna disse:

— A Liz tá nos chamando.

— São 4 da manhã, tente de novo mais tarde.

— Parece que Evan tem respostas.

Ah, que inferno!

"Você tem um lugar quentinho pra dormir e atividades noturnas regulares, pare de reclamar"

Sim, senhora. Levando bocejando e sigo-a cambaleando de um lado para o outro, noto Narci me encarar discretamente durante o caminho, Zane aparenta estar preocupado com algo, percebi o que ao ouvi-lo dizer:

— Sabe se vai demorar? Tenho que trabalhar.

— Não sei de nada.

— Zane, você não frequenta a escola? — Pergunto curiosa.

— Claro que frequento, mas as aulas começam só as nove e terminam as duas, tudo bem se eu pegar turnos antes e depois disso.

Ontem ele chegou depois das onze, creio que depois de tanto tempo, todavia não saiba muito sobre ele, ainda assim podia tirar esse quepe de vez em quando:

— Aqui. — Disse ela apontando para porta.

Tomei a frente, abro violentamente, aquela garota vai me escutar:

— Eli-za-be-th! Quem você pensa que é pra... — Diminui o tom de voz.

Ela estava deitada no chão, dormindo enrolada no tapete, a raiva dentro de mim só cresceu ao vê-la daquela forma tão serena, aproximei-me até a ponta do tapete estampado, sua respiração parecia regular, com o cabelo escorrendo pelo rosto fui capaz de enxergar de relance uma parte da cicatriz que descia curvando para o lado esquerdo, tenho quase certeza que a arma responsável foi uma lâmina, senti vontade de fazer algo:

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora