Capítulo XXXIV - O Garoto Uva e a Garota Marshmallow

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A malícia e a violência são respostas a um disfarce que camufla nosso egoísmo frutificando ações que nos impedem de enxergar a paz. É mais fácil continuar pelo caminho menos difícil, certo?

Passos hesitantes, respiração controlada, se Mayra tivesse contratado um Mensageiro do Caos e com isso conseguido esse endereço, ele não estaria tão limpo, a Viniche teria chegado há muito tempo.

O chão vermelho como o barro e no centro do lugar vazio apenas um sofá com um jovem rapaz de cabelos roxos todo recostado, e uma mulher sentada em cada perna, parece que aderiram à moda do Oriente vestindo yukatas meio abertas de cores que reluziam incomodando meus olhos.

Cautelosamente caminhava em direção aquele corpo recém-amadurecido sem ter a certeza se se travava de uma ilusão. A voz debochada, o tom irônico e a maneira de me menosprezar acabaram com minhas dúvidas:

— Há quanto tempo, doce marshmallow.

— Doce? Mal nos reencontramos e já tá querendo apanhar?

— Só se me deixar escolher o chicote.

— Noshi.

— Aina.

Forço minha mão sobre sua coxa levando meu rosto para perto do dele:

— O que tá fazendo?

— Preciso ser mais óbvia?

A forma... o cheiro... Afasto-me:

— É, você realmente cresceu um pouco. Totalmente autêntico.

— Não devia brincar com os sentimentos de um homem amadurecido.

— Sentimentos? Desde quando tem isso?

— Gostaria de poder dizer o mesmo de você, mas não parece o caso.

Levanta-se amarrando o robe e dando sinal para que as vadias se retirem:

— Como tem passado?

— Você não acreditaria.

— Sou um cara de mente aberta. Está com fome?

— Depois de me arrastar por metade do mundo? Naturalmente. A propósito, precisa passar por algum tipo de caverna lamacenta e cheia de ursos e morcegos pra chegar aqui?

— O que? Caverna?

— Maldita! — Aperto o punho.

— Ainda sei fazer aqueles bolinhos com creme que você adora. Vem.

Andamos de braços dados como dois velhinhos até a parede metálica onde encosta a palma da mão, em seguida se abre uma porta. Também estava vazio:

— Vai bater ovos em sua cozinha invisível?

Três aplausos me calaram, uma sequência de utensílios se desdobrou da parede:

— Sabe como preso a praticidade, sente-se.

Tira varias coisas da geladeira, incluindo frutas, vegetais e leite desnatado, bate no liquidificador e entrega-me o copo junto de um canudo de aço:

— Por que não recupera um pouco dos nutrientes que nunca teve enquanto faço algo mastigável?

— Certo. — Assinto. — Como vai o comércio, não me diga que só tem isso aqui? — Giro o dedo indicador apontando para todo local.

— Não te contei? Agora sou um homem trabalhador que vive do próprio suor.

Nossas gargalhadas atravessavam as paredes tornando intensos os murmúrios de inveja chegavam a meus ouvidos, não nego que gosto disso. Acabei comendo o canudo antes de terminar a vitamina. Noshi estava no fogão e suas perguntas soavam como preocupação genuína:

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora