Capítulo XXVII - Bem Vindo ao Inferno

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Os tempos mudam, as pessoas também, vivemos em um mundo agonizante que trata de nos lembrar disso todos os dias, talvez o objetivo seja mostrar que no fundo você vale mais do que as coisas que não pode pagar.

Loucura. São todos loucos. Completamente pirados. Malucos ao extremo com todos os sinônimos e adjetivos que puder imaginar. Discutimos por intensos minutos que pareciam perdurar por horas, a cada segundo que parávamos para respirar nos dávamos conta de que chegamos a conclusões contraditórias.

Den que seria o mais afetado ignorava totalmente meus apelos:

— Den! Não vai sobrar pra você se acharem que esses teimosos estão sobre sua responsabilidade? Diga alguma coisa!

— O que? De quem tá falando? — Virou o rosto para direita. — Quem é esse tal de Den? Aliás, onde estou?

— G! Você é o pior de todos, não pode concordar com nada disso.

— Em primeiro lugar: vá se ferrar. — Limpou a garganta amenizando o tom de voz. — Em segundo: deveria pensar melhor nas consequências.

— Que consequências? Pela primeira vez em muito tempo sou inocente.

— De ter amigos. Idiota!

— Amigos? Não sei que animais são esses.

Recostei na parede e escorreguei lentamente até o chão em desespero. Encolho-me encostando a cabeça aos joelhos e cobrindo a cabeça com as mãos. Recupere-se Aina, vamos, você consegue, não deixe que ninguém veja essa expressão tão estúpida em seu rosto.

"Aina, você..."

Não diga nada, Layla. "Aproveitar todas as oportunidades para conseguir o que quero", é assim que tem que ser, ou costumava, estou começando a ficar tonta com tantas voltas que minha mente está dando:

— Ei! Ainy, tudo bem? — Disse Narci me cutucando.

— Mandem o G pra desintoxicação, ele não tá batendo bem. — Respondi com a voz abafada.

Passos sutis se aproximaram, conheço esse jeito de andar, são os passos de rebatida de Take, silenciosos como se estivesse usando pantufas. Agachou-se ao meu lado em um tom de voz consolador:

— Não é tão ruim assim, uma das vantagens é poder compartilhar, a outra é ter alguém em quem por a culpa quando, por exemplo, comer um pudim que não era seu.

— Então foi mesmo você! — Gritou Rioh.

— Como se atreveu a me culpar?! — Exclamou G.

Uma discussão por um tema totalmente diferente se iniciará ali, ergui a cabeça para dar uma olhada e fiquei surpresa com o quanto aquela cena pareceu familiar para mim, já havia me acostumado ver Take ser esganado por G e rir como se fosse uma brincadeira. E não apenas eles.

A pequena Narci que observava tudo com olhos curiosos, o vaidoso do Lien sempre tomando distância para não se machucar e nunca elevando a voz para não prejudicar a garganta, aquele com o senso de direção tão ruim quanto o meu, Rioh. Cada um deles, suas peculiaridades, eu as conhecia, e ao me dar conta disso entrei em pânico.

Algo aqui dentro quebrou, pude ouvir os estilhaços se espalharem por toda parte, a máscara que passou a fazer parte do meu rosto pingava junto aos cacos de vidro, isso é um grande problema, se continuar presa a essa chama o bloco de gelo que chamo de coração vai entrar em colapso. A raiva e a confusão que sentia tomaram a forma de palavras:

— Não faço a mínima ideia de como era a vida de vocês antes de conhecê-los, mas com certeza era bem melhor! — Levanto-me escorando na parede. — O único motivo pra eu ter permanecido foi simplesmente porque não tinha opção, e só para, no pior dos casos, usa-los. Foi por estar me seguindo que Galahd os encontrou. Matei Hiluge, o Chefe dos extintos Ghanters e o meu capricho facilitou a formação da Ghevra Nielly e mais tudo isso aconteceu porque nasci uma Amorie... — Travei a língua ao ouvir o som da campainha.

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora