Capítulo XXX - Metade Completa

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A solidão é obscura ou tão iluminada que nos deixa cegos?

Quando me separei da Shaya sabia que não poderia voltar a vê-la tão cedo, por isso disse a mim mesma que se algum dia, por um acaso, milagrosamente, conseguisse ter uma vida estável para ser capaz de encará-la, o faria.

Por mais que sejamos vítimas de um cruel destino que nos golpeia sem piedade e nos faz perder o caminho, sempre podemos concertar nossos erros se acreditarmos que podemos ser melhores. Agora eu sei que, em primeiro lugar, nunca tentei deixar de residir nesses disfarces e me recuso a continuar aceitando os abusos desse mundo, isso acaba agora:

— Que o silêncio o consuma e a morte o devore. Rasgue os céus — ergo o braço em direção ao teto — Ascensão do Ceús! Perfure a terra — toco com a ponta dos dedos os relevos espelhados do solo — Regressão Latente! Unam-se em um ataque cataclísmico!

Um redemoinho se forma no centro da sala com a junção dos dois poderes, um complementando o outro em espiral de cores difusas, com a adição de chamas negras se tornou destrutivo quebrando todos os espelhos e abrindo um enorme buraco na parede.

Eu me lembro, das conexões amplas e das linhas interligadas, recordo de vê-las muito bem, quando assisti tudo de fora, essa parede vai me levar até:

— ZANE! — O pego em meus braços como uma princesa. — Por favor, que esteja assim a menos de três horas.

Deito-o no canto longe do buraco na sala espelhada, até seus cílios estão congelados, coloco a mão sobre seu coração para me concentrar e não o escuto pulsar:

— Droga! As chamas negras ainda são incontroláveis e meu fogo não serve nem pra te esquentar.

Soco o chão e um pedaço de vidro perfura meu punho:

— É isso! Prata, espelhos são feitos de prata, nunca pensei que fosse agradecer as aulas de química.

O ponto de fusão beira aos mil graus e o vidro é ainda maior, será que vai liberar calor o suficiente? Talvez devesse ter feito um rombo menor na parede, o frio está vazando para cá.

Certamente é impossível chegar a mil graus, sem contar o arriscado que seria derreter tudo aqui, pelo menos se aumentar a temperatura posso deixar o ambiente em equilíbrio.

As chamas negras atuam retirando a vida e não queimando, se quiser ter uma chance preciso repetir o golpe de sorte, aperto o bracelete:

— Maldição, essa coisa de frio e quente tá me enlouquecendo!

Mesmo que me esforce ao máximo não vai dar para saber se estarei ajudando ou piorando seu estado.

"Deixe comigo"

Do que está falando?

"Eu sei mais de química do que você"

Mantendo um olho âmbar e outro normal com a fusão de nossas personalidades as marcas tornam a se alastrar a partir do bracelete se iluminando. Enterro meu punho no chão e concentro a maior quantidade de energia que posso, um vapor condensado começa a preencher o local.

"Mais"

Acredite estou tentando.

"Não tente, faça"

Como o sentimento atordoante de se ouvir um sino tocar de perto conectamos mais intensamente nossas forças. O adorno em meu braço responde a meus pedidos, mesmo sem saber o que é e por que acontece, pressiono-o para usar tudo que tem.

O suor escorre de minha testa respingando no solo, não sei se acertei a temperatura ou é por causa do esforço, mas as chamas apagaram e é impossível me mover.

Almas Vazias Corações ContentesOnde histórias criam vida. Descubra agora