De volta

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Ian

Tudo o que eu ouvi, era novo para mim. Mas de alguma forma eu me sentia familiarizado ao ouvir aquilo. Ivis e Ely eram um casal maravilhoso. Joseph era meio irritante, mas suportável e eu até que entendia ele dizer que nós não nos dávamos bem. Ravena apenas ouviu comigo. Até que o convite foi lançado ao ar. E eu vi o rosto da loira ficar apreensivo.
  Pensei no ligar onde eu morava e nas pessoas. Não havia nada que me prendesse a eles. Com aquelas pessoas eu me sentia melhor. Eles queriam que eu conseguisse lembrar de todo o meu passado.
   E por fim eu acabei aceitando, Ravena sorriu aliviada e todos na mesa sorriram.
   Agora estou com ela, estamos sentados  na grama olhando a escuridão que se estende em nossa vista. Seguro sua mão e beijo, sinto minha boca formigar e ela sorri.
  - Você sentiu?
  - Formigou? - perguntei de volta.
  - Isso... minha mão também.
  - É... fico feliz em você aceitar. Fico feliz em te ter de volta.
  - Eu fico feliz em reencontrar você! - admiti.
  Uma lágrima escorre de seus olhos e eu limpo. Seguro seu rosto entre minhas mãos e automaticamente a beijo. Primeiro os lábios, depois a língua e eis que eu sinto meu corpo voar. Não sei se voo ao certo. Mas essa é a sensação. Abro os olhos e estou de mãos dadas com Ravena em um lugar totalmente escuro. E a dúvida percorre minha mente se é realmente ela.
  - Raven?
  - Sim.  - ela sussurra com medo.
  E eu sinto todas as memórias ali. Sinto que aquela mão que eu seguro é a mão que eu sempre desejei afagando meus cabelos. Ouço aquele sussurro e lembro das noites que ela acordava e acabava conversando sozinha. Puxo ela para um abraço e eu sinto minhas lágrimas descendo.
  - Ian?
  - Agora eu lembro, meu amor...
  Ouço seu choro e eu sinto que o chão vai desintegrando-se aos nossos pés. E em flashes toda a nossa vida começa a passar bem a nossa frente. Não só a nossa vida como tudo o que já vivemos nas outras.
  Nós dois ainda crianças brincando na areia, nós dois adolescentes correndo por uma rua, nós dois deitados juntos e sorrindo. Nós dois bem velhinhos sentados na varanda vendo duas outras crianças brincarem.
  E ver que ela sempre foi o meu amor, fez-me bem. Eu aperto com força seu corpo junto ao meu e uma voz ecoa na escuridão.
  - Eu sempre soube que esse amor venceria. E esse amor gerará frutos, assim como todas as outras vezes. Bastou apenas um beijo e a ligação de você se completaram novamente. Felicidades ao casal do céu.
  E mais uma vez tudo se apaga.
                                 •|•|•|•|•
Abri os olhos e o sol já brilhava. Ravena dormia do meu lado. Nós havíamos dormido do lado de fora. Beijei seu rosto e ela suspirou.
  - Feche as cortinas.
  - Estamos do lado de fora, Raven!
  Ela sentou e olhou para os lados.
  - Merda, eu sonhei aquilo tudo. - Raven começou a chorar - Eu não entendo sabe?! Por favor, me beija!
  Ela se jogou em mim e nossas bocas mais uma vez estavam seladas. Mas nada dessa vez aconteceu  e ela voltou a chorar. Eu acho até que já entendia o que passava em sua mente.
  - Raven...
  - Que foi, merda? - eu comecei a rir, ela estava alterada.
  - Sou eu.
  - Han?
  - Lembra quando eu pulava sua janela no meio da noite? Eu lembro. Lembra a primeira vez que eu te beijei? Eu lembro. E ainda lembro que eu era difícil de domar, mas você fez isso e eu fiquei totalmente entregue a você.
  - Não foi um sonho?
  - Não.
  - Não, brinca.
  Ela sorriu entre o choro e abraçou-me. Segurei aquela garota como se segura o próprio mundo. Ela era o meu mundo.
  - Então agora podemos envelhecer juntos?
  - Podemos. - afirmei.
  - Eu te amo tanto, Ian.
  - E de amor por você é que vivo.
  Eu a beijei mais uma vez. Tínhamos passado por tantas coisas juntos. Ela sempre esteve comigo e não havia outro jeito de me ver bem. Era sempre ela. Sempre foi ela.
- Vocês são loucos? - ouvi a voz de Ely perguntar.
  - Mãe! - Ravena gritou - Adivinha quem voltou?
  Ely sorriu e assentiu para mim.
  - Bem vindo de volta, rapaz.
  De alguma forma era bom saber que todas as minhas memórias estavam ali, mesmo as mais dolorosas. Foi com a dor que eu aprendi a dá valor as coisas e pessoas. Foi pela dor que eu voltei a conviver com o amor de minha vida. E eu só tinha a agradecer a Deus. O qual, eu só pude idolatrar depois de tantas dores e provações.
  - Agora podemos entrar para tomar um café, o que acham?
  - Vamos sim.
  Ivis e Joseph já estavam na mesa. Olhei para Joseph e balancei a cabeça negativamente.
  - Mas já? Oh merda. - Joseph disse em um tom brincalhão.
  - Então? Conseguiu recuperar a memória? Está tudo aí?
  - Todas as vírgulas.
 
 

Adestrando um demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora