Ravena
Segui meu pai com tanto medo pela trilha até a floresta, eu não sabia onde Ian estava, apenas sabia que ele matou alguém, era essa a diversão dele, a dor dos outros o servia de alimento. E eu aqui, pensando que tudo estava indo bem.
Enfim o lago apareceu a vista, mesmo de longe já dava para ver um corpo estirado, quase não havia sangue; chegamos mais de perto, o corpo estava praticamente acabado e a cabeça quase fora do corpo era algo grotesco de ver. Não havia rastros ao redor, nenhuma pegada.
Meu pai analisou silenciosamente, respirou fundo e me encarou, necessitei de um buraco no mesmo instante para sumir de vista.
- Veja só o estrago que seu demônio fez! É isso o que você chama de adestrar? O que você ensina àquele maníaco?
- Eu... eu...
Joseph me olhava sério, mas seu lábio recurvado era irônico.
- Vamos dar um fim nisso! - gritou meu pai quase cuspindo em mim.
CARACA, QUE HUMILHAÇÃO!
- Cassem o demônio! - meu pai ordenou.
Os guardas pegaram suas armas e estavam postos a adentrar a floresta quando Ian apareceu.
- Estou bem aqui! Qual a necessidade de uma caça?
- Muito esperto, rapaz! - meu pai disse e começou a andar em direção a ele.
- Por que estão atrás de mim? - Ian olhou curioso.
Minha vontade era apenas socá-lo, como poderia se fazer de desentendido? O corpo estava ali, as marcas eram bem claras de quem se tratava.
- Você mata um integrante nosso e ainda finge não saber o que está rolando?
- Não fui eu. - ele disse convicto.
Um choro ardeu em minha garganta. Ele estava mentindo, logo ele que eu confiei tanto.
- Prendam ele! O julgaremos amanhã - meu pai ordenou e Joseph pegou as algemas bentas.
Ian o socou e o arremessou longe, muitos homens vieram para cima dele, muitos saíram feridos até conseguirem domá-lo, prenderam suas mãos atrás do corpo e colocaram as algemas. Joseph voltou mancando e chutou o rosto de Ian, baixei o rosto.
Algo em mim gostava de algo dele e isso era coisa do destino, eu não poderia negar nem ser imune ao ver o sofrimento dele.
- Ravena... - Ian começou - digam a ele que não fui eu! Não fui eu! Você confia em mim, não é mesmo? Digam a eles.
Permaneci em silêncio, talvez eu não confiasse nele. Talvez eu não quisesse confiar. Eu não podia confiar. Tudo estava muito claro.
- Você nao acredita? Eu tô falando a verdade, por fav...- ele perguntou.
- CALE A BOCA! - Joseph deu outro chute e a cabeça de Ian pendeu, ele estava desacordado.
Virei o rosto enquanto o levavam, eu não queria ver. Meu pai me empurrou com o ombro e eu o encarei.
- Esteja amanhã no julgamento, aquele demônio vai me pagar por tudo - ele grunhiu.
Continuei na beira do lago sentada, meus pés dentro da água, o choro finalmente saiu, alguma coisa estava errada, como poderiam matá-lo se ele faz parte de meu destino? Será que acabaria assim?