Dimensões

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Ravena permaneceu no mesmo canto, até o demônio maior chegar. A cela foi aberta e ele entrou, com as próprias mãos puxou Ravena pelo braço, suas forças já estavam consumidas e ela não conseguia sequer lutar.

Levada até o lado exterior, foi erguida e presa pelos demônios, no alto de um pilar que seria levado e posto no meio da guerra para amedrontar os humanos, não estava dentro do acordo, mas Exódia precisava dela para ter mais sucesso na batalha.

Ian estava ansioso, havia aprendido como se teletransportar de uma dimensão a outra, havia treinado pesado com os outros guardas, mesmo que estes estivessem desconfiados, havia se esforçado para não roubar Ravena e sumir com ela para viver dentre os humanos. Porém, ele ainda seria um demônio.

A água do lago começou a tremular, Ian ficou apreensivo e se escondeu, queria poder teletransportar-se até a outra dimensão e resgatar Raven. A névoa começou a tomar forma, o demônio não sabia como agir, ao certo, ao surgirem as primeiras formas demoníacas, ele correu para avisar.

- Corram aqui! Demônios! São muitos, rápido, avisem a todos!

E a notícia começou a alastrar-se, guardas loucos correndo avisando, integrantes se preparando, a terra tremeu e a névoa foi crescendo, o céu ganhou tons de púrpura e vermelho, uma ventania começou, a batalha começaria.

A primeira coisa que Ivis, Ely, Joseph e Judith fizeram foi orar. O caos começaria. Antes mesmo do planejamento deles, agora todos deveriam lutar e usar todos os mecanismos que aprenderam até agora.

Ely, desde que sua filha desaparecera, sempre chorava a noite, rezava a Deus para que ela voltasse com vida e que Deus a abençoasse de onde estivesse. Até mesmo Ely colocou roupa de batalha e pegou sua adaga, um arco e algumas flechas.

Ivis, sentiu a perda de sua filha e prometeu pra si mesmo que a abraçaria forte quando pudesse vê-la, que a reconsideraria, viver sem a presença e o olhar sobre Ravena, para ele, era uma das piores situações. Pegou sua espada, uma adaga e água benta em frascos prontos a quebrar sobre e sob demônios.

Joseph pegou tudo o que podia para estar munido contra a batalha, tinha em mente viver para contar história, exterminar com tudo que viesse pela frente, até mesmo o Ian poderia sobrar na reta.

Um batalhão de demônios começava a esmagar as árvores e as folhas em seu caminho. Demônios rastejantes muitas vezes lembrando um verme, outras de quatro patas, espécies com patas aracnídeas e crustáceas; O único que tinha forma humana era Exódia, a única diferença era que possuía quatro braços e não era da linhagem Lilith. Eram muitos demônios para muitos guardas e integrantes.

O batalhão demoníaco foi se abrindo, enquanto dois demônios apareceram segurando um pilar, o batalhão de abençoados ficaram apreensivos encarando o que apareceria. O pilar foi fincado na terra e Exódia que estava tampando a visão foi se retirando. Aqueles que já podiam ver arquejaram em surpresa, Ivis e Ely continuaram parados lado a lado esperando, o demônio maior riu quando Ravena apareceu completamente a todos, sua cabeça estava baixa e ela foi levantando aos poucos, enquanto forças lhe restavam, encarou a todo o seu povo amado e viu seus pais.

Ely já chorava mesmo parada e intacta fitando sua filha. Ivis havia apertado forte sua mão em torno de sua adaga e praguejou segurando as lágrimas que queria brotar. Sua filha era alvo, estava no meio da revolta.

•|•|•|•|•

Toda a dimensão submundana estava praticamente vazia, a maioria estava lá em cima prostrando-se em posição de luta, ele conseguiu chegar até a moradia de Exódia, o portal estava sem guardas e ele entrou correndo até o lance de celas.

- RAVENA! - ele gritou.

Não houve resposta e ele supôs de encontrá-la dormindo ou estava cansada demais para qualquer resposta.

- RAVEN! - ele gritou de novo vendo que só havia uma cela aberta.

Não havia ninguém. Como entender?

- Raven? Está escondida? Sou eu! Ian!

Ele correu novamente por toda a extensão e não obteve respostas. Precisava de alguém para informar-lhe. Será que Exódia havia mesmo descumprido o acordo? Ele ficou andando feito tonto pelo território submundano até encontrar um demônio de quatro patas.

- Você sabe sobre a batalha?

- Quem não sabe? - o outro riu.

- O que achas?

- Os humanos são uns tolos, é capaz de se entregarem. Exódia é muito esperto, levou uma mundana junto com ele, exposta em um pilar.

Ian ficou apavorado e começou a correr procurando qualquer lago mais próximo.

- Ei, cara.... espera aí, por que a pressa?

Era tarde, Ian não estava mais no controle de si, só queria encontrar Ravena e acabar com Exódia. Seu plano havia ido por água abaixo e o acordo tinha sido quebrado.

E o lago? Não aparecia sequer água. Parecia uma eternidade correr tanto e não encontrar nada. Já estava ficando cansado, tropeçou e caiu de cara na terra seca.

- RAVENA! - gritou tentando retirar a raiva dentro de si. O arrependimento terrível.

"Me perdoa, me perdoa, me perdoa, me perdoa" ele começou a sibilar, sua boca sangrava com o pedido de perdão.

De seus olhos as lágrimas queimavam também, seu corpo estava entregue ao amor e ao arrependimento, sintomas humanos que seu corpo começava a expressar.

Fechou os olhos e seu corpo involuntariamente voou por dimensões e parou nas lembranças de Ian, na primeira ligação feita entre ele e Raven. Quando os olhos se fitaram pela primeira vez, quando as mãos foram o primeiro toque para um cumprimento e quando a amizade foi a primeira coisa boa que nasceu.

Ele viu os filhos da vida passada e como cuidava deles, ele viu Raven chorar quando terminaram e sorrir quando reataram, ele pôde assistir com os próprios olhos como foi sua trajetória desde os primeiros tempos ao lado de Raven.

Ele viu ela morrer antes dele em todas as vidas, e sentiu um aperto no peito, algo deteriorando, sentia a dor da perda com o medo de pensar que ela poderia morrer por uma burrice dele e que seria em poucos instantes.

A medida que tudo foi passando por sua mente, seu corpo foi teletransportando-se com a vontade de salvá-la, a força da mente era maior que qualquer outra influência.

Ian caiu de costas no meio da floresta, a alguns metros já havia uma linha de demônios organizados em fileiras. Ele consertou-se e foi a passos leves tentando contornar a floresta. Um grito foi ouvido e uma risada também, era Exódia, o som reverberou por todo acampamento.

Ian conseguiu chegar por trás do batalhão de abençoados sem ser notado e escondeu-se, com olhos amedrontados percorreu os demônios e pôde vê-la.

- Raven... - sussurrou.

A loira quase morta levantou a cabeça e foi atraída pelo desejo e o medo na voz do demônio.

- Eu vim salvar você!

Adestrando um demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora