- Como se sente? - Raven perguntou ao demônio.
- Acho que bem! Meu pescoço que as vezes lateja.
- Depois passa!
Raven encostou-se na parede da sala de treinamento, havia cuidado do demônio sozinha na ala de medicamentos e depois saiu para o único lugar que tinha em mente.
- Eles virão atrás da gente logo logo!
- Eu sei - ela respondeu.
- Vai fazer o quê?
- Você é missão minha! Meu pai não poderá mais interferir-se.
- Seu pai? - ele perguntou querendo satisfazer-se da dor dela.
- Eu ainda o considero, ele verá que eu estava certa.
- Entendo.
- O quê?
- Nada!
O silêncio tomou os dois e ele sentou ao lado dela depois de trancar a porta. Sentiu uma necessidade esquisita de tocá-la, mas prendeu as mãos envolta do corpo e sabia que estava esquecendo-se de algo.
- Não sei o que fazer com você! - ela disse alisando os cabelos e jogando para o lado.
- Antes tivesse me deixado morrer.
- Não! - disse rápido demais.
- Obrigada! É isso! - Ian disse batendo a mão na testa - Você salvou minha vida.
- Salvarei você! - ela sorriu e lembrou-se dos dois juntos.
Ouviram batidas na porta, batidas urgentes. Os dois alarmaram-se e Ravena levantou-se de imediato para abrir a porta.
- Quem é? - ela gritou encostando o ouvido à porta.
- Joseph!
- O que você quer?
- Apenas conversar! - ele disse.
Joseph estava sozinho e com medo por Raven, ela entreabriu a porta e espiou, depois saiu para falar com ele.
- Diga!
- Você está maluca?
- Creio que sim! - ela sorriu.
- Por favor, Raven! Você mudou radicalmente por causa desse demônio! Ele possuiu você? Fez algo com você? Está te ameaçando?
Sim, ele fez algo comigo! Me trouxe vida, pensou ela.
- Não seja tolo! Ele é missão minha, devo proteger.
- Mas seu pai...
- Deverá respeitar.
- Ele está muito enfurecido, quer conversar com você!
- Depois!
- Ele está aí? Digo... o demônio!
- Está! Agora tchau!
Raven foi abrindo a porta, porém Joseph segurou seu braço.
- E nós? Como estamos? Nunca mais...
- Depois a gente conversa sobre isso!
- Certo!
Ele afastou-se pisando firme, não deixaria simplesmente o demônio chegar e receber mais atenção do quê ele.
Raven entrou e Ian continuava na mesma posição, seus olhos maliciosos e com um tom psicopata atraía ela de uma forma assustadora, par de olhos que a encaravam, olhos grandes de quem já viu muita coisa.
- Possuída hein? - ele comentou rindo.
Mas ela não riu.
- Você percebe? - ela perguntou séria e tocou a mão dele alisando algumas cicatrizes que percorria a pele.
- O quê? - rebateu olhando aquela mão pequena causando boas sensações em sua pele.
- Isso entre a gente! Eu sinto que te conheço há muito tempo, quando estou com você me sinto bem! E aquilo no quarto - os dois relembraram juntos após as palavras - foi tão...
- Libertador! - comentou a segurando pelo maxilar - Eu sinto e percebo, com você eu sou diferente! Mas sou um demônio ainda, Ravena!
- Eu sei! - ela queria chorar.
Raven fechou os olhos. Ela só queria continuar cuidando do demônio e terminar sua missão, moveria céu e terra se fosse preciso, sabia que ia além, ela só queria entender que sentimento dominava, que familiaridade era essa, porquê sentia-se tão atraída. Queria estar agora com sua mãe e ter a certeza de que tudo ficaria bem.
Ian observou a loira em sua frente, os lábios bem feitos e a expressão feminina, mas forte que ela trazia consigo. Queria beijar seus lábios, queria ficar ali o tempo todo e até esqueceria o que realmente era. Parado assim ele até tinha a vontade de ser melhor para ela.
- Raven... - ele sussurrou.
- Que foi? - ela abriu os olhos.
Uma névoa branca repleta de fantasmas os rodeavam, até o ar havia ficado mais frio, Raven sentiu um medo invadi-la e ficou pasmada olhando para as figuras oscilantes.
Pelo amor de Deus, pensou.
Os fantasmas possuíam os rostos de Ian e Raven, cada um trazia consigo roupagem diferente de diferentes épocas. Estranho! Muito estranho! A cabeça de Ian latejou, a de Raven também; a loira tentou concentrar-se no que via ou ouvia.
- Juntos... - um uivo cortou o silêncio.
- Novamente...
- Vida terráquea vocês terão...
Seguiu-se então uma espécie de coral repetindo todas aquelas frases, Ravena agarrou o corpo de Ian com medo e fechou os olhos com força. Sentia os fantasmas roçando sua pele, arranhando seus braços. Ian ainda mirava o que via.
- Olhe, pequena! - uma fantasma de Raven sibilou - Abra os olhos.
Ravena aos poucos foi abrindo os olhos e uma imagem foi sendo tecida pelos fantasmas, uma casa grande no meio de uma fazenda, um casal chegava com sua filha nova e apresentava à outra família que possuía um filho. As roupas e decoração eram de outra época. O menino deveria ter uns 10 anos sorriu sem graça e apertou a mão da menina: "Meu nome é Ian", "Oi" foi o que ela disse "Pode me chamar de Raven".
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- Primeiramente diga-me - falou Ivis - Quantos guerreiros teremos?
- 5 mil mulheres e 6.500 homens, senhor!
- Quantos acampamentos?
- 4 incluíram-se! Os outros possuem seus próprios problemas.
- Joseph, falaste com ela?
- Sim, senhor!
- Como está?
- Normal! Conversará em breve com o senhor!
- Tudo bem.
- Posso retirar-me?
- A vontade!
O chefe maior ficou sozinho em sua sala olhando pela janela. Até sua própria filha havia se rebelado contra ele, a batalha logo chegaria e não seria fácil. Um demônio infiltrado era prejuízo, mas realmente não poderia intrometer-se na missão da filha.
Foi para o próprio quarto e sua mulher já estava deitada, pensou em passar no quarto da filha, porém seguiria a risca o que havia dito, não mais consideraria Raven como filha.