Ravena
Ver todos olhando para mim era intimidador, mas eu precisava ir em frente, passei pelas fileiras de cadeiras e por fim cheguei à escada que dava acesso ao altar. Meu pai olhava-me calculadamente sério, minha mãe e Jude estavam apreensivas.
Meu pai levantou-se rapidamente e suspendeu a mão para que os guardas afastassem-se das cordas da jaula.
- Pensei que não viria mais! Finalmente aceitou que seu demônio não presta?
- Melhor! - respondi - Descobri algo que nunca acreditariam.
- Então conte!
- Não foi Ian! - falei alto e meu pai riu, minha mãe baixou a cabeça e Jude balançou a sua em desaprovação - Estou falando sério.
- Você não têm provas!
- Ontem eu estava na beira do lago depois que vocês foram embora, a água começou a tremular e uma névoa tomou o ambiente, me escondi e me deparei com um demônio aquático, ele arranhou a terra na beira da água e depois de gritar sumiu dentro do lago! Acreditem! Ele quem matou aquele homem, ele quem estava no lago e dilacerou aquele corpo.
Todos olhavam assustados, meu pai andou de um lado para outro.
- Como pode mentir? - perguntou Joseph surgindo pelos portões.
- Não estou! Me acompanhem até o lago, vejam as marcas.
- Ela mesmo que colocou as marcas lá! - Joseph contrapôs.
- Não! Cala a boca!
- Ravena, não fale assim - disse meu pai.
- Então me ouçam e venham comigo, precisam ver as garras.
- Lá deixamos um guarda!
- Vacilar, ele estará morto! - comentou Ian.
Pela primeira vez ele falava, sua voz era cansada, o olhei e ele sorriu para mim, um sorriso fraco.
- Não lhe dei o direito de falar - meu pai rebateu nervoso - Vejamos! Guardas, sigam-me, você também Ravena.
Olhei uma última vez para Ian, depois para minha mãe e Jude.
- Não deixem que nada aconteça a ele! - sussurrei e corri para acompanhar meu pai e os demais.
Fomos todos em silêncio, eu torcia para ter algum rastro para que eu pudesse provar a inocência de Ian, não que eu quisesse que houvesse um guarda morto, mas ferido seria de bom tamanho.
Estava fria a floresta, comecei a sentir medo, alguns gritos foram ouvidos, os guardas correram para ver, corri junto e virei o rosto com medo, as pernas do guarda estavam dentro da boca do demônio aquático.
Armas foram sacadas e o som de tiro foi ouvido, escondi-me e fiquei olhando, o demônio explodiu em cinzas e o lago e a temperatura ambiente começou a voltar, o guarda machucado sangrava muito, pedaço de sua perna estava dilacerada e a outra toda furada. Era estranho. Bom, alguém deveria amputar as pernas.
- Acredita? - perguntei chegando perto de meu pai.
- Infelizmente!
Ele estava decepcionado, não só pelo fato de Ian não ser incriminado, mas pelo fato de nossas fortalezas estarem oscilando, um demônio havia conseguido nadar no lago e praticamente adentrar em nossa terra, em nosso acampamento.