Beijo

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Ian estava de olhos fechados enquanto recitava todas as palavras que Raven mandava, as palavras eram de origem divina e queimava a boca do demônio, mas ele devia pronunciá-las até se acostumar e ser purificado, fazia parte do processo.

Ele gritou de dor quando sua boca sangrou com a palavra piedade, ele abriu os olhos e sua roupa começou a fumegar, ele só queria que aquilo acabasse, caiu no chão rolando tentando não deixar que o fogo crescesse e ele não fosse torrado.

- Faz parar! - gritou.

Raven não sabia o que fazer, estava impressionada, a dor dele era visível, ela deveria deixá-lo sofrer ou ajudar? Não pensou duas vezes, ela possuía em si o sentimento de pena.

- Ordeno que pare! - ela gritou, mas não sabia ao certo se ele faria.

Ian parou, mas contorcia-se.

Ravena repousou suas mãos na têmpora dele e desejou calma, refrescamento e conforto. Ian foi parando devagar de contorcer-se, o sangue ainda fresco manchando sua regata. Ela havia conseguido e sentia-se realizada.

O acorrentou e trancou a sala de treinamento correndo pelo campo e seguindo para seu quarto, pegou uma blusa branca e grande que poderia caber no demônio, pegou um pano no refeitório e pediu uma garrafa de água.

Voltou correndo para a sala de treinamento e ele ainda estava do mesmo jeito que deixou, Raven rasgou a blusa de Ian e depois pegou o pano jogando água da garrafa, limpou o rosto e parte do torso do demônio que estava suja.

- Cuidando de mim? - ele riu - Seu pai não gostaria de saber disso.

- Ninguém precisa saber!

Ian gargalhou alto e bateu com a mão no pano que Raven limpava ele, depois derrubou a garrafa e seus olhos estavam vermelhos.

- Eu não preciso de sua... - ele queria gritar piedade, mas sabia que toda aquela dor viria de novo - eu não preciso desses cuidados. Não preciso de você no meu pé garota. Só termina essa porra de treinamento e me enfia naquela cela.

Raven afastou-se e tentou segurar um choro que vinha em sua garganta, ela é humana e sente, ela no momento sofria por saber que havia uma linhagem demoníaca tão desprezível e todas as palavras do seu colega de classe estavam corretas, ela lamentava por saber que um cara que mexia tanto com ela, era logo o demônio que não queria ser cuidado.

- Já terminamos. - ela falou baixo - Vamos!

Puxou ele pelas correntes e chegando na cela o empurrou com toda a força possível, ele bateu na parede e caiu sorrindo.

- Ficou nervosinha? - perguntou o demônio.

- Amanhã tem mais e eu espero muito que você consiga suportar a dor e o seu corpo fumegando.

Trancou a cela e seguiu para seu quarto, agora havia aprendido que não deveria tratar o demônio tão bem, não deveria ter piedade nem expressar preocupação.

Mas ele era apenas um possuído, ele tinha algo bom dentro de si, não é? E se ele não tivesse nada? E se ao encontro da adaga ele simplesmente morresse? Raven tomou apenas um banho e caiu na cama, em algumas horas Joseph passaria em seu quarto.

Ivis adentrou em seu quarto, Ely estava lendo algum livro novo, ele beijou a testa de sua mulher e sentou ao seu lado em outra poltrona. Tirou as botas e descansou a cabeça no encosto.

- Como é esse demônio? - perguntou Ely olhando para seu esposo.

- Aparência jovem, olhos bem maliciosos, é um pouco maior que a nossa filha, ele é muito quieto.

Adestrando um demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora