Cap. 4: Eric

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Os homens aproximavam-se rapidamente.

Olhei para trás e a única hipótese que encontrei foi saltar de novo ao lago. Estava prestes a fazê-lo quando um rapaz se aproximou num cavalo branco e gritou, esticando a mão:

-Anda!

-Estás louco? Eu nem te conheço...- disse eu.

-E a eles, conheces?- disse ele apontando para os homens quase a chegar ao pé de mim.- Queres lá ir falar com eles? Parecem simpáticos.- disse ele quando um deles atirou uma seta que quase me acertou.- São eles ou eu...

-Bem visto.- disse eu agarrando a mão dele e subindo para o cavalo, começando a andar mesmo no momento em que um deles agarrou no meu vestido rasgando parte dele.

Cavalgamos durante um bocado por aquela floresta que parecia saída de um conto de fadas. Quando ele parou, eu desci do cavalo e disse:

-Muito obrigado.

-De nada, Saphira.- disse ele.

-Heaven queres tu dizer.- corrigi eu.

-Não...Saphira.

-Eu acho que ainda sei como me chamo...Sou a Heaven, Heaven Graham.

-Talvez, mas aqui és a Saphira.- disse ele pegando-me na cara e virando-a de um lado para o outro.- Nunca acreditei, mas realmente és igual a ela... Talvez um pouco menos...

-Um pouco menos o quê?- disse eu com voz de ofendida.

-Um pouco menos forte... Lá na tua era não tens alimentos para comeres? Estás muito mais magra que ela. Não admira que esse vestido esteja tão grande. Mas no castelo arranjamos outras roupas.

-Perdão? Eu não vou contigo a lado nenhum. Podes dizer-me onde estou e porque lado vou para minha casa?- disse eu sacudindo o vestido.

-Estamos em Sertland. E a tua casa deve ficar uns sete séculos naquela direcção.- disse ele apontando para o meio da floresta.

-Sertland? Isso fica em que continente? E que raio de nome é esse?

-Sertland é a junção de Sert (Saphira, Esmeralda, Rubi e Terpázio) com land (terra em inglês). Quanto ao continente, estamos no que irá ser a América.

-No que irá ser a América?

-Sim. Estamos no séc. XIV.

-O quê?

-A ver, a história é simples: nós precisámos de ti, chamámos-te e tu viajaste sete séculos para trás e aqui está tu.

Eu desatei a rir.

-Bebeste muito, foi?- disse eu.

-Talvez, mas não sou eu que estou a rir que nem um tonto.- disse ele fazendo um sorriso.

Eu perdi o sorriso e disse:

-Espera, estou mesmo na era medieval?

-O mais correto seria "época" medieval, mais precisamente, 1346.

Ele assobiou e um cavalo branco aproximou-se de nós.

-Agora, já podemos ir? A viagem ainda é longa.- disse ele.

-Eu já disse que não vou...- disse eu.

-Muito bem, se não queres voltar ao teu século tudo bem...

-Mandão.- sussurrei eu.

-Mimada.- ouvi-o sussurrar.

Ignorei e segui para o cavalo.

-Ora bem menino lindo, vais deixar-me subir?- disse eu para o cavalo.

-Esperas que ele te dê uma resposta?- disse o rapaz.

-Não. Esperava que ele ficasse calado, coisa que aparentemente tu não fazes.- disse eu.

-Imensa piada. Queres ajuda a subir?

-Não, eu desenrasco-me.

-Muito bem, como queiras.

Coloquei um pé na cela do cavalo e fiz força para subir, tal como via o cowboy fazer nos filmes. Passeu a outra perna por cima do cavalo e... Ainda eu não tinha falado e já o rapaz se estava a rir. Acontece que eu consegui subir para cima do cavalo mas... fiquei virada ao contrário e, em vez de estar virada para o dorso do cavalo estava virada para o rabo dele...

-Podia ter sido pior.- disse o rapaz rindo-se tanto que ficou vermelho de tanto rir.- Podias ter caído do cavalo. Talvez devesses experimentar colocar o outro pé na cela primeiro.

-Nem mais uma palavra sobre isto.- disse eu.

-Não queres que eu conte a ninguém?

-Exactamente.

-A Zio vai fartar-se de rir com isto...- disse o rapaz subindo para o cavalo.

-Mas...-exclamei eu.

-Vai andar assim ou preferes montar ao contrário primeiro.- disse ele desatando a rir novamente.

Eu desci do cavalo, enervada, e voltei a subir. Agora, e sentindo-me orgulhosa de mim mesmo, consegui montar correctamente.

-Pega nas rédeas do cavalo e dá-lhe uma palmada no dorso. Ele vai saber que é para avançar. Quando quiseres pará-la, puxa as rédeas suavemente para trás.- instruiu o rapaz.

-O cavalo não tem nome?- disse eu.

-Não. Até hoje de manhã nem dono tinha...- disse ele.

-Quem é o dono?

-Estás a brincar comigo?

-Não...

Ele desatou a rir, outra vez.

-Qual é a piada?- disse eu.

-Com todo o respeito, ainda és mais burra do que eu pensava. Começo a duvidar que chegues ao calcanhares da Saphira...- disse ele rindo mais do que falava.

-Sabes que por dizeres "com todo o respeito" o que vier a seguir não deixa de ser ofensivo...

-E quem disse que não era para ser ofensivo. Mas em fim...voltando à seriedade...

-Se é que alguma vez a tiveste...- sussurrei eu.

-...O cavalo é teu. E eu ouvi isso.

-E eu não tinha acabado a frase, "se é que alguma vez a tiveste", sem ofensa...- disse eu fazendo um sorriso macabro.- Mas se o cavalo é meu, quero dar-lhe um nome. É macho ou fêmea?

-Macho...

-Então vai ser o Amadeu.

Ele, como já era de costume, desatou a rir novamente.

-O que foi agora?- disse eu respirando fundo.

-Só podia ser esse o nome do cavalo. Tu és "Amadora" e ele "Amadeu". Percebeste?

-A sério? E como se chama o teu cavalo? Imbecil?- disse eu batendo no lombo do cavalo que começou a andar.

-Saphira!- gritou o rapaz.

-Heaven! Heaven Graham!!!- gritei eu continuando a andar e sem olhar para trás.

-Como queiras mas...O castelo fica para o lado oposto a esse...- disse ele desatando a rir...outra vez.

-Eu sabia...- disse eu, voltando o cavalo e seguindo para a outra direcção, passando pelo rapaz sem lhe dizer nada.

-Sou o Eric, já agora.- disse ele começando a andar com o cavalo dele.

-Eric Imbecil, ora aí está um bom nome.- disse eu sem olhar para trás.

SaphiraOnde histórias criam vida. Descubra agora