Cap. 5: Sertland

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Continuámos a andar e já era noite quando o silêncio, que nos acompanhara durante toda a viagem, foi quebrado.

-É melhor pararmos aqui. Já é noite e pode ficar perigoso.- disse Eric.

-Muito bem. Mas onde ficamos? Não há aqui nenhuma casa.- disse eu.

Ele, como já era de costume, começou a rir.

-Boa, o que foi agora?- disse eu farta de ter Eric sempre a chatear-me.

-Nós não vamos dormir em nenhuma casa.- disse ele, ainda a rir-se.

-Então onde está a tenda?- disse eu.

-O que é uma tenda?- disse ele.

-Esquece...Onde vamos dormir?

-Aqui.- disse ele apontando para o chão.

-Deixa-me ver se percebi: nós vamos passar a noite numa floresta cheia de animais selvagens, onde à mosquitos e melgas para me picarem e onde o frio poderá congelar-nos...Isto tudo sem nada para nos abrigar-mos?- disse eu tão rápido que nem consegui respirar até terminar de falar.

-Isso mesmo.- disse ele rindo ainda mais.- Não é perfeito?

-Claro.- disse eu começando a acelerar a velocidade com que fala ao mesmo que o meu medo aumentava.- Se teres o sangue todo sugado por melgas e mosquitos, seres comido por animais selvagens famintos, morreres congelado devido ao frio, desidratares devido ao calor da manhã e se morreres de fome porque os ratos, doninhas e outros animais iguais a eles comeram a tua comida constar na tua lista de "coisas a fazer antes de finalmente bater a bota", isto é perfeito.

-Se isso tudo acontecer, tu morres mais vezes que o gato da bruxa Telma. Além disso, tens mais hipóteses de morrer asfixiada devido ao facto de não respirares enquanto falas do que de qualquer outra dessas maneiras que estranhamente encontraste.

-O gato da bruxa Telma?- disse eu.

-Não conheces a história?

-Não...

-A Telma era uma bruxa má que tentava roubar os poderes a sua irmã boazinha para ficar mais forte. Para a ajudar nesses esquemas, tinha um gato que, durante todo o conto, morre várias vezes... Ora cai de uma escada, ora se afoga... É uma história que se costuma contar às crianças para dormir...

-Espera, as histórias não deviam ter um lição de vida?

-Sim, e tem...

-Ai sim? E qual é a desta? Atira-te das escadas, afoga-te e faz o que te apetecer que nunca morres? Ou ajuda a bruxa a tirar os poderes a uma irmã boa?- disse eu.

-Não...Um dia vais descobrir... Quem sabe.- disse ele caminhando para o meio da floresta.

-Espera, onde vais?- disse eu.

-Procurar lenha para fazer uma fogueira. Assim a princesa não se tem de preocupar com os animais selvagens que a poderão devorar durante a noite nem com o congelar de frio...- disse ele fazendo troça de mim.- Assim já tem parte dos problemas resolvidos, já só falta tratar dos ratos, doninhas e outros animais como eles e do calor da manhã. Boa sorte para a última...

-Boa sorte? Porquê?- disse eu.

-Amanhã de manhã irá perceber...

Ele continuou a avançar pela floresta e eu gritei:

-Espera, eu não vou ficar aqui sozinha...

-Tens o Amadeu.- gritou ele desaparecendo entre as árvores.

SaphiraOnde histórias criam vida. Descubra agora