Cap. 2: Sonhos

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Ethan levou-me para casa, acalmou-me e ficou comigo durante um tempo.

-Mano, não devias ir para casa? A Lucy deve estar à espera.- disse eu.

-Pois ela que espere mais. Tu é que és a minha mana, primeiro estás tu.- disse ele levantando-se da cadeira e abraçando-me.

-Obrigado.- disse eu.- Café?

-Claro.

Fui até à máquina e fiz dois cafés. Levei-os até à mesinha, que ficava na mesma divisão, e voltei para ir buscar o bolo que tinha feito. Coloquei-o na mesa e fui buscar os pratos.

Os pratos estavam num armário castanho. Ao lado desse armário estava o lava-loiça e em cima do lava-loiça estava uma pequena janela que tinha vista para o jardim das traseiras.

Fui até ao armário e tirei os pratos. Voltei-me, para voltar para a mesa, quando aquela sensação de que estava a ser observada voltou. Respirei fundo e virei-me. Vi, através da janela, o mesmo homem encapuçado a observar-me.

As minhas mãos começaram a tremer e acabei por deixar cair os pratos. Não olhei para eles nem desviei o olhar da janela. O mirone, quando os pratos caíram, fugiu e Ethan, ao ouvir o barulho, correu até mim.

-O que se passa?- disse ele.

-O homem...estava ali a observar-me...- disse eu apontando para a janela.

Ethan tirou a pistola das calças e correu até às traseiras. Eu segui-o e, quando saímos de casa, pela porta das traseiras, passei o meu braço pelo dele. Ele tinha as duas mãos a segurar na pistola e estava a tremer. Eu sabia que ele não temia por ele...mas sim por mim.

Andámos, lentamente, à volta da casa até que voltamos ao ponto inicial. Ouvimos um barulho vindo detrás do caixote do lixo e Ethan apressou-se a colocar-me atrás dele e a apontar a arma ao caixote. Passado uns segundos, um gato saiu detrás do caixote a correr, como se estivesse assustado.

Ethan descontraiu e começou a rir:

-Queres que eu prenda um gato por perseguição?- disse ele.

-Não era um gato, eu sei que não.- disse eu.

-Mana, tens a certeza que no beco era um homem? Eu não estou a gozar, a sério que não mas...não têm havido queixas aqui no bairro de nada disso... Este é um dos bairros mas seguros do país. Quando eu te vi, naquela rua, tu estavas sozinha...Não estava lá ninguém.

-Porque ele fugiu. Ethan, eu não estou a inventar.

-Eu não disse isso. Mas talvez estejas a confundir-te. Os exames finais estão a chegar e tu andas a estudar demasiado...Andas cansada. Talvez a tua mente te esteja a pregar partidas.

-Talvez...

Apesar de ter respondido aquilo, eu sabia que o que tinha visto era real...Tinha a certeza.

-Queres ir dormir lá a casa?- disse Ethan.

-Não.- disse eu.

-A sério... podes lá ir dormir, aquela casa também é tua.

-Não posso ir para tua casa cada vez que "a minha mente me prega partidas". Está tudo bem.

-Ok. Mas se precisares de alguma coisa é só ligares. Eu virei logo a correr...

-Se te ligasse a meio da noite tu ainda me aparecias de pijama e com uma caçadeira na mão...- disse eu fazendo-o rir.

-Com uma caçadeira na mão e a CIA atrás de mim. Tudo para proteger a minha maninha.- disse ele fazendo-me rir.- Tens a certeza que não queres vir comigo?

-Tenho. Boa noite.- disse eu.

-Boa noite.- disse ele dando-me um beijo na testa.

Entrei em casa e tranquei a porta das traseiras, por onde tinha entrado. De seguida, corri até à porta da frente e tranquei-a. Para reforçar a segurança, coloquei a mesa em frente da porta. Corri até à cozinha e fechei a janela, correndo a persiana para baixo. Fiz isso com todas as outras janelas de casa. Só depois fui para a cama.

Cada vez que fechava os olhos via a imagem do encapuçado a olhar para mim. Por mais que tentasse, não conseguia tirá-la da cabeça. Ainda pensei em ligar a Ethan, mas o que lhe dizia? "Olá mano, não consigo dormir porque não tiro a imagem do que pode ou não ser um homem a perseguir-me...". Não podia fazer isso. Ele provavelmente viria logo a correr e, para além de isso deixar Lucy furiosa, ele precisava se descansar para trabalhar no dia seguinte.

Ethan é o meu irmão e Lucy é a namorada dele. Como o meu irmão é polícia, trabalha durante muitas horas passando pouco tempo em casa. Normalmente, desperdiça esse tempo livre a cuidar de mim o que deixa Lucy furiosa. É por essa razão que ela não gosta nada de mim...

***

"Toda a mobília do meu quarto flutuava a meio metro do chão. Eu corria de casa e ia até casa do meu irmão, cerca de um quarteirão afastada da minha. Não demorava mais de cinco minutos a chegar lá e, quando chegava, as luzes vermelhas e azuis e o som das sirenes tomavam conta do local. Eu olhei para a porta de casa aberta que fazia de janela para um cenário aterrador: Ethan estava deitado de costas no chão. Eu gritei o nome dele mas ele não respondeu. Vi uma mancha grande de sangue no chão...demasiado grande. Percebi o que se passava. Com as lágrimas nos olhos, eu gritava ainda mais o nome dele. Steve, o comandante de Ethan e um grande amigo da nossa família, impedia-me de entrar no local enquanto eu tentava soltar-me daqueles braços que firmemente me seguravam. Quando finalmente consegui, corri até Ethan e chorei mas, antes de o poder voltar para o ver, já Steve me estava a afastar dele."

Não me lembro de ter adormecido mas acordei na minha cama completamente suada. Coloquei os pés fora da cama e sentei-me, para me levantar. Fiz força com as mãos e, quando saltei da cama, a queda foi maior do que imaginei. Bati com o braço no chão e magoei-me mais do que esperava. Levantei-me, sacudi a roupa e, quando olhei para o meu quarto, não pude acreditar...A minha mobília estava toda a flutuar meio metro acima do chão. Lembrei-me da frase que o encapuçado me disse: "Os sonhos são os mais reais medos". E se o meu sonho não fosse um sonho? Nesse caso...

-Ethan!!!- gritei eu correndo até à porta da frente. Deparei-me com a mesa à frente da porta e simplesmente me apressei a derrubá-la e a destrancar a porta. Mal me encontrei na rua, comecei a correr até chegar a casa de Ethan.

Quando lá cheguei, descalça e em pijama, simplesmente parei de respirar...

SaphiraOnde histórias criam vida. Descubra agora