-Pessoal, porque estão a demorar tanto?- gritei eu.
-Desculpe senhora, mas a carruagem dos mantimentos parece mais pesada do que devia estar.- disse um dos homens enquanto puxava, montado no cavalo, a carruagem.
Quando finalmente chegaram à margem do rio, ajudei a puxaram a carruagem para fora de água. Eric, com o típico mau humor, não fez nada.
Estava eu e Eric ao lado da carruagem, agora guiada por um homem, e prontos para iniciar a viagem, quando ouvi um espirro.
-Santinho.- disse eu para o homem que conduzia a carruagem.
-Não fui eu senhora.- disse o homem.
-Saúde.- disse eu a Eric.
-Também não fui eu.- disse Eric.
Olhei para o homem da carruagem e para Eric. Finalmente percebi o que se passava. Olhei para Eric e ele percebeu do que eu me tinha lembrado.
-Não pode ser.- disse Eric.
Ambos corremos até à porta da carruagem dos mantimentos e a abrimos. Entre os vários alimentos, vimos Andrew.
-Andrew?- disse eu tirando-o da carruagem e pousando-o no chão.
-Sabes o que fizeste?- disse Eric irritado.- Eu mandei-te esperar em casa. És um irresponsável.
Ao ouvir estas palavras, Andrew desatou a correr.
-Não é assim que se faz.- disse eu a Eric.
-Estás a dizer-me como devo cuidar do meu filho?- berrou Eric.
-Nosso filho...- disse eu correndo atrás de Andrew.
Encontrei-o sentado num tronco de árvore caído e a chorar. Sentei-me ao pé dele e abracei-o.
-Ele não queria dizer aquilo. Está enervado.- disse eu.
-Ele já não gosta de mim.- disse Andrew.
-Claro que gosta. Só está enervado. Tem uns problemas. Nunca fizeste uma coisa de que te arrependes-te logo de seguida?- esperei que Andrew assenti-se e continuei.- Ele está a arrepender-se agora.
-Ela tem razão.- disse Eric aproximando-se de nós.
Eu levantei-me e dei privacidade ao pai e filho. Afastei-me e, antes que me dirigisse aos homens que me esperavam, olhei para trás e vi Eric e Andrew a abraçarem-se. Continuei viagem e deixei Eric e o filho a conversarem.
Ao quinto dia de viagem
Atravessámos rios, subimos montanhas, descemos vales e ainda não havia sinal da aldeia. Andrew, durante a viagem, estava a divertir-se e ora era eu a levá-lo no meu cavalo ora era Eric no seu.Já estávamos fartos de andar quando avistei a aldeia ao longe. Os homens, cheios de esperança, começaram a gritar de alegria. Juntos, caminhámos até à aldeia. Pareciamos barcos no mar durante uma tempestade que procuravam o seu porto de abrigo seguindo a luz do farol.
***
Quando chegamos à entrada da aldeia, fomos recebidos por um homem que, apesar de fazer um sorriso, parecia nervoso. Era um homem idoso, de cabelos brancos e barba desfeita e cujas rugas marcavam os cantos dos seus olhos quando ele sorria. Toda a aldeia se encontrava deserta, como se não houvesse moradores. Eu peguei na mão de Andrew e disse:
-Não te afastes de nós.
Andrew assentou e Eric olhou para mim.
-O que se passa?- perguntou-me.
-Não sei, mas tenho um mau pressentimento à cerca de isto tudo.- respondi eu.
Eric aproximou-se mais de mim e deu-me a mão. Sorri quando senti a sua mão quente a tocar na minha mão gélida e trémida.
Os homens que tínhamos trazido, Jason e as guardiãs foram dar uma volta pela aldeia enquanto eu, Andrew e Eric resolviamos os assuntos.
O homem acompanhou-nos até à casa de uma senhora que Eric tinha mencionado. De seguida, despediu-se de nós e seguiu caminho após nos ter oferecido ajuda caso necessário.
Eric bateu à porta e uma senhora de pele escura, cabelos pretos ondulados e olhos negros como a cinza abriu a porta. A melancolia do seu rosto rapidamente se transformou em alívio e satisfação quando nos viu.
-Eric, Saphira!- disse ele com entusiasmo quando nos viu. Depois olhou para Andrew e, remexendo-lhe o cabelo com a mãos, disse.- Tu deves ser o Andrew. Vejam só como estas crescido. Faz tanto tempo que não vos vejo.
-Nora, é um prazer vê-la. Está igualzinha, bonita como sempre.- disse Eric enquanto eu apenas sorria.
-Eric, cavalheiro como sempre. Digam lá então, o que os trás por cá?- disse Nora sorrindo.
-A senhora sabe bem. Estamos com problemas.- disse Eric.
Nora perdeu o sorriso na cara e disse:
-Entrem, temos muito para falar.
Todos entraram e eu, antes de entrar, perguntei:
-Nora, porque não há ninguém na rua?
-Porque estão todos a proteger- se do temporal que aí vem.- disse Nora fazendo-me sinal para entrar.
Antes de entrar, olhei para o céu limpo e onde o sol brilhava. De seguida olhei para a aldeia vazia e sussurrei:
-Isto sim é uma aldeia fantasma.

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Saphira
FantastikHeaven Graham era uma rapariga normal, 20 anos, finalista na universidade de Medicina. Numa noite, de regresso a casa após um longo dia de universidade, Heaven apercebe-se que um homem a persegue. O medo de Heaven cresce ainda mais quando o homem l...