Cap. 11: Andrew - Parte II

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Eu fiquei a olhar para Eric, com o rapaz ao colo, e a implorar por uma explicação.

***

Quando Eric olhou para mim, eu disse-lhe:

-Pai? Mãe?

O rapaz olhou para mim, saiu do colo de Eric e aproximou-se de mim. Deu-me a mão e disse:

-Eu sei que tu não és mesmo a minha mãe mas, uma vez que ela reencarnou em ti, é como se fosses, não é?

Eu baixei-me e disse:

-Querido, eu ia adorar ser tua mãe mas...

Ele desfez o sorriso que tinha na cara e disse, com um ar muito abatido:

-Tu não queres ser minha mãe?

-Quero mas...- disse eu.

-Mas não queres...- disse ele deixando escorrer uma lágrima.

Eu olhei para Eric e ele desviou o seu olhar para o chão. Zio, que acabara de entrar na sala apenas disse:

-Oh!

Percebi que ela já sabia o que se passava. O menino, puxando-me a mão e com as lágrimas nos olhos, disse:

-Porque não queres ser minha mãe?

O que seria para aquele menino ter uma mãe? Ele tinha o pai e a sua mãe verdadeira tinha acabado de morrer e de "reencarnar" em mim. Ele era demasiado novo para crescer sem uma figura maternal. O que é ser mãe afinal? É gerar um filho e carregá-lo durante nove meses? Não, não é só isso. Ser mãe é uma responsabilidade maior. É dar carinho a um filho, protegê-lo acima de tudo e estar lá por ele. É saber quando dizer sim e quando dizer não. Estaria eu à altura de Saphira? Seria eu capaz de educar um filho? Eu sabia que não seria capaz de ser uma mãe tão boa para aquele menino como Saphira seria. Mas vê-lo ali, à minha frente, a chorar...isso partia-me o coração. Senti a minha mão ser puxada uma vez mais:

-Porque não queres ser minha mãe?- disse de novo o menino.

Eu limpei-lhe as lágrimas, respirei fundo e tentei ignorar a situação em que me encontrava, a situação do "vir-do-século-vinte-e-um-descobrir-que-és-mãe-de-um-menino-e-que-o-pai-é-um-homem-que-acabaste-de-conhecer".

Sorrindo, um sorriso verdadeiro e não forçado, disse:

-Sabes que mais, eu sou a tua mãe.

O menino trocou as lágrimas por um grande sorriso e a minha mão por um grande abraço meu. Enquanto o menino me abraçava, eu olhei para Eric que me fez um sorriso, como se se sentisse aliviado.

O rapaz, ainda a abraçar-me, sussurrou ao meu ouvido:

-Sou o Andrew, mamã.

De seguida, deu-me um beijo na bochecha. A Zio levou-o para fora da sala onde nos encontrávamos e eu fiquei sozinha com o Eric. Ele olhou para mim e disse:

-Bem, vou preparar as coisas para o treino.

-Aí vais?- disse eu franzindo as sobrancelhas.

-Sim, temos de começar os treinos o mais rápido possível.

-Com certeza pode esperar uns minutos.- disse eu com um sorriso.

-Não creio que possa...

-Estou a dizer que pode esperar uns minutos.- disse eu com ar autoritário.

-Como eu estava a dizer, pode esperar uns minutos...- disse Eric com um sorriso.

Eu, mais séria e desviando o olhar de Eric, disse:

-Pai?

Ele olhou para mim e disse:

-Bem, eu disse que andava com a Saphira...

-Só não me disseste que tinhas um filho.- gritei eu.

-Tu nunca perguntaste.- disse ele calmamente.

-É essa a tua resposta? "Tu não perguntaste"?- gritei eu.- Peço imensa desculpa se o erro foi meu. Nem parece coisa minha...Normalmente quando viajo no tempo e conheço um rapaz que me salvou de ser morta por uns maníacos quaisquer costumo perguntar-lhe se é casado e se é pai de um filho que TAMBÉM É MEU!!!

Ele ficou calado a olhar para o chão. Eu percebi que tinha exagerado.

-Desculpa. Não queria ser tão bruta...- disse eu mais calma.

-Não faz mal...Tens razão...Devia ter-te dito.- disse Eric.

-Pois devias...- disse eu.- Mas agora já não importa... Tens dezoito anos e já és pai?

-É uma idade perfeitamente normal para ser pai...Até é tarde demais...

-Pois...desculpa...Esqueci-me que estou na época medieval... Andrew, é um nome bonito.

-Obrigado...Posso fazer-te uma pergunta?

-Claro.

-Porque aceitaste ser mãe dele?

-Por duas razões... A primeira porque ele perdeu a mãe dele e ninguém merece isso. Ser mãe é proteger e amar o filho e eu tenho a certeza que o vou fazer...

-Isso é querido.- disse Eric a sorrir.- E a segunda?

Eu sorri e disse:

-Sempre foi um sonho meu ser mãe de um menino chamado Andrew, cujo pai é um homem com quem nunca estive e sete séculos mais velho que eu...

-A sério? - disse Eric tentando conter o riso.

-Não!- disse eu soltando um riso.

Ambos desatamos a rir. Num sorriso, perguntei:

-Quantos anos tem?

-7 anos.- respondeu Eric.

-Pensava que para ser pai era necessário ser casado...

-E quem disse que não sou?

Eu fiquei surpresa. Respirando fundo perguntei:

-És pai, casado...Devo saber mais alguma coisa sobre ti?

Ele perdeu o sorriso e disse:

-Sim...que eu já não sou casado...sou viúvo.

Dei um abraço a Eric. O porquê? Eu sabia o que era perder alguém amado...E sabia que a única coisa que queríamos nesse momento era um ombro amigo onde pudéssemos desabafar.

SaphiraOnde histórias criam vida. Descubra agora