Cap. 7: Guardiãs

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-Vão continuar a olhar para mim ou vão contar-me?- disse eu.

Eric suspirou e ia começar a falar quando um rapaz alto, de cabelos morenos e olhos castanhos claros, se aproximou de mim, se ajoelhou e me deu um beijo na mão.

-Minha senhora, sou o Frederick, prazer em conhecê-la.- disse ele.

Olhei para ele, que ainda estava ajoelhado no chão, e depois olhei para Eric, que estava a olhar para mim com um ar abatido.

-Levante-se senhor.- disse eu sentindo-me constrangida pelo momento.

O homem levantou-se, dirigiu-se a Eric, e disse:

-Não acredito...é mesmo ela. Um pouco mais magra, mas é ela.

-A quem se refere senhor? Com quem sou parecida?- disse eu.

-Ora, não é óbvio? Com a princesa Saphira.- respondeu o homem.

Eu desatei a rir.

-Desculpe mas...a única coisa que tenho de princesa é mesmo a tiara que o meu irmão me comprou quando eu tinha seis anos. E de Saphira? Eu nem sequer gosto de azul... Creio que me estão a confundir com alguém. Agora, se faz favor, alguém me explica o que são as guardiãs?- disse eu.

Uma vez mais, o silêncio tomou conta da sala.

-Alô!? Estou aqui.- disse eu.

-Vá Eric. Ela já devia saber...- disse a Zio.

-Muito bem.- disse Eric respirando fundo.-À alguns anos atrás, Sertland vivia em prosperidade. Era governada por quatro governantes com poderes, denominadas guardiãs. Cada uma dessas guardiãs tinha uma pedra protectora: Safira, Terpázio, Rubi e Esmeralda. Cada guardiã, quando assumia o cargo, e assim os poderes, escolhia um nome. Foi o caso das guardiãs desse tempo: a Saphira, a Rubi, a Esmeralda e a Terpázio.

-Muito bem... Então a Esmeralda e a Zio são guardiãs...E onde estão as outras duas?- perguntei eu.

-Rubi, uma das guardiãs, ansiava por mais poder...-disse Eric.-Procurando obter mais poder, revoltou-se contra as outras guardiãs e tentou matá-las e ficar com os poderes delas. Saphira, a líder das guardiãs, tentou impedi-la e, durante uma batalha e a tentar proteger todo o povo, acabou por...por...

-Por morrer...-concluiu Esmeralda colocando a mão em cima do ombro de Eric, que lutava para impedir que as lágrimas caíssem.- Rubi saiu do reino e criou o seu próprio castelo. Desde então que passou a ser nossa inimiga.

-Os homens que te atacaram são dela. Ela quer-te matar.- disse Eric.

-Eu nem a conheço...Porque haveria ela de me querer matar?- disse eu.

-Porque ela sabe quem tu és...- disse Fred.

-Eu sei que as minhas notas não são excelentes...e é verdade que tenho ido a umas festas ultimamente... mas daí a querer matar-me...- disse eu.

-Não é por isso...- disse Zio.- Lembraste da Saphira? A guardiã que morreu? Bem...quando uma guardiã morre tem de ter um substituto... Então, caso não tenha deixado descendência, encarna noutra pessoa. A Saphira encarnou em ti.

Eu desatei a rir.

-Qual é a piada?- disse Fred.

-Desculpem mas, por momentos, pensei que tinham dito que eu era a reencarnação de uma guardiã...- disse eu.

Todos continuaram sérios e eu parei de rir. Olhei para Eric, que também permanecia com ar sério, e virei as costas, começando a andar até à porta por onde tinha entrado.

-Onde vais?- ouvi Eric perguntar.

-Para casa.- disse eu sem virar as costas.

-A tua casa é aqui.- disse Eric.

Eu virei-me, enervada, e gritei:

-Não! A minha casa é a sete séculos de distância, numa vila não muito grande. E era aí que eu devia estar a chorar a perda do meu irmão.

Voltei-me de novo e continuei a andar. Subi a escadaria e, estava prestes a entrar no corredor que me levava à porta de saída do castelo, quando sinto uma mão prender-me.

-Vai ser assim? Vais desiludir toda a gente por causa de caprichos teus?- disse Eric ainda segurando o meu braço com força.

-Caprichos?- disse eu começando a gritar. - Achas que é capricho meu eu querer voltar para casa? Chorar a morte do meu irmão? Voltar à minha antiga vida? Isso não é uma loucura. Uma loucura é estar neste século, afastada de tudo o que eu amo. Uma loucura é vocês acharem que eu sou a reencarnação de uma guardiã qualquer.- Puxei o braço com força conseguindo-me soltar.

-Tudo o que dissemos é verdade. A Rubi já sabe que aqui estás. Em breve atacará. Por favor, vem comigo, pega na tua pedra protectora e começa a treinar os teus poderes.- disse Eric.- Toda a aldeia depende de ti.

-Não quero saber! Eu não acredito em magia, nem guardiãs e muito menos em reencarnações. Sabes que mais? Como se diz no meu tempo, que se lixe a magia, que se lixe as reencarnações e que se lixe a Saphira.

Mal disse isto, senti um ardor e uma dor na cara. Eric, sem mostrar as lágrimas, estava vermelho de tanta raiva que sentia. A sua também estava vermelha e foi então que eu descobri a origem da dor na minha cara: Eric tinha-me dado um estalo.

Não falando mais, apenas voltei costas e sai do castelo, à medida que Eric me ia gritando:

-Tu és apenas uma menina mimada. Podes ser igual à Saphira por fora, mas és muito inferior por dentro. Tu vais ser a responsável pela destruição de toda a aldeia. A culpa vai ser tua!

Quando sai do castelo, no pátio, reparei que as mesmas crianças continuavam a brincar. Respirei fundo e contive as lágrimas. Não ia deixar que Eric visse que me tinha ferido...mas a verdade é que tinha.

SaphiraOnde histórias criam vida. Descubra agora