Cap. 13: Treino - Parte II

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Olá. Aqui vai uma sugestão: quando virei o sinal ### coloquem a música que está na media. Basta deslizarem com o dedo a imagem que está na media para o lado esquerdo e encontram a música. Espero que gostem. Não se esqueçam, quando virem ### coloquem a música.

Desci de Amadeu boquiaberta.

-Para que é isto tudo?- disse eu.

-Simples, para treinares.- disse ele.

Ouvi outro cavalo aproximar-se:

-Desculpem o atraso. Já cheguei.- disse Zio saindo do cavalo.

-O Andrew já foi caçar?- perguntou Eric.

-Sim. Foi com o Fred e a Esmeralda.- disse Zio.

-Espera, ele foi caçar? Com arco e fecha?- disse eu.

-Sim.- disse a Zio.

-Ele ainda é muito novo, pode magoar-se.- disse eu.

-Não vamos ter esta discussão outra vez, pois não Saphira?- disse Zio.

-O que ela quer dizer é que ele já é um rapaz crescido. Além disso, não está sozinho.- disse Eric.

Eu simplesmente não respondi e mudei o tema da conversa.

-Então, para que são estes pedregulhos?- disse eu apontando para pedras enormes, maiores que eu.

-Para isto...- disse Zio colocando uma mão na pedra.

Concentrou-se na pedra e esta desfez-se em pedaços tão pequenos que pareciam pó. Eu fiquei boquiaberta.

-Fecha a boca que pode entrar um bicho.- disse Eric.

-O meu medo não é que entre um bicho...é que entre um sapo...- disse eu.- Mas aquilo eu não vou ser capaz de fazer.

-Teoricamente, deverias ser capaz de fazer aquilo com uma pedra com o dobro do tamanho.- disse Eric.

-Óptimo.- Ironizei eu.- Só uma pergunta, como conseguiram trazer aqueles pedregulhos para aqui? Sabes que mais, não quero saber...

-Nesse caso, vamos começar o treino.- disse Eric.

Zio foi até ao rio, pegou em pedras mais pequenas, e colocou-as no chão por ordem crescente (da menor para a maior)

-Começamos por estas. Quando conseguires quebrá-las todas passamos às grandes.- disse Zio.

-Muito bem, aproxima-te das pedras.- disse Eric.

Ajoelhei-me no chão, à frente das pedras, e disse:

-E agora?

-Agora colocas a mão numa das pedras e pensas que a queres ver destruída.- disse Zio.- Tens de imaginar o teu poder a destruí-la.

Eu assim fiz mas...não aconteceu nada. Tirei a mão da pedra e disse:

-Isto nunca vai acontecer...

-Vai sim, não desistas.- disse Zio.- Imagina que a tua vida depende de partires essa pedra. Como se partires essa pedra salvasse alguém que tu gostas.

Eu fechei os olhos, pensei no meu irmão e imaginei a pedra a partir-se. Senti a pedra estalar e abri os olhos, pensando que tinha conseguido. A desilusão invadiu-me quando me apercebi que a única coisa que tinha conseguido tinha sido uma pequena racha na pedra.

-Perfeito!- disse eu.

-Vais conseguir. Pensa no que podias salvar se partisse essa pedra.- disse Eric.

Fechei os olhos, uma vez mais. Imaginei o meu irmão vivo, a abraçar-me. Imaginei o menino que morreu a brincar no pátio, tal como devia ser. Imaginei como seria a vida de Saphira ao lado de Eric e Andrew. Só parei de imaginar aquilo quando Eric me tocou no ombro. Abri os olhos e vi a pedra que tentava partir desfeita em pó. Olhei em volta e todas as pedras estavam feitas em pó, até as grandes.

-O que se passou?- perguntei eu.

-Tu conseguiste.- disse Eric.

Olhei em volta e vi a brisa levar consigo as pedras transformadas em pó, todas elas.

-Eu consegui? Eu fiz isto?- perguntei.

-Sim.- disse Eric.

Levantei-me e senti uma tontura. Eric agarrou-me e disse:

-Chega de treino. Talvez devesses descansar.

###

Assenti e comecei a andar para a floresta precisava de estar sozinha.

Ia pensando enquanto os meus pés andavam sem rumo certo. Só parei quando vi um campo de flores lindas. Admirei aquela beleza. Fez-me lembrar o jardim que o meu irmão tinha em frente da casa dele. Fui até ao meio do campo e sentei-me no meio daquelas flores. Tudo me lembrava do meu irmão. As flores, o céu, a água a correr... Era como se eu precisasse de o ter ali...comigo...

-Em que estás a pensar.- disse Eric sentando-se ao meu lado.

Vinha tão distraída que nem reparei que ele me seguia.

-Penso em como a vida muda de um momento para o outro.- disse eu.- Ainda a semana passada tinha tudo: o meu irmão, o meu curso de medicina e até mesmo a chata da minha quase-cunhada. Se nesse momento me dissessem que eu era a reencarnação de uma guardiã e que viajaria até à época medieval eu, provavelmente, riria e esqueceria o assunto. Estava tudo perfeito, como se aquilo fosse durar para sempre. Depois perdi o meu irmão, viajei até aqui, perdi o curso de medicina e...De um momento para o outro, perdi tudo...- as lágrimas que eu tentava conter saíram dos meus olhos.-Já não tenho família nem futuro...Estou sozinha...

-Tens o Andrew. Ele faz parte da tua família. Tens a Zio e a Esmeralda. Podes não te tornar médica mas és uma guardiã.

-Eu já devia ter ultrapassado a morte do meu irmão... Já passaram semanas desde que ele morreu mas...

-...Continua a existir um vazio no teu coração.

-Eu só escolhi ser médica porque queria salvar vidas...não queria perder mais pessoas da mesma maneira que perdi os meus pais. Mas não adiantou de nada...Não salvei o meu irmão nem o menino do pátio...O Andrew é um amor e eu gosto mesmo dele mas...Eu não sou a mãe dele. Ele vai sempre gostar mais da verdadeira...Ele não está aqui verdadeiramente...Ele só procura um substituto para a mãe. Eu...continuo sozinha.

Eric pegou-me na mão e disse:

-Eu estou aqui. E não penso ir-me embora.

-Tu não estás aqui por mim, estás aqui pela tua esposa, pela Saphira.

-Não. A Saphira não está aqui, mas tu estás. Se eu quisesse ficar com a Saphira, tinha ido até ao meu quarto e tinha lá ficado...Mas eu estou aqui...Não pela Saphira mas pela Heaven...pela Heaven Graham...

Eric colocou a mão na minha cara, limpou as lágrimas dos meus olhos e disse:

-Tu és diferente da Saphira. Por isso é que eu estou aqui...Eu não vejo em ti a Saphira, vejo em ti a Heaven. Vejo aqui a pessoa que, apesar de todos os seus problemas, decidiu tentar resolver os meus...

-Eu nunca serei como a Saphira.- disse eu.

-Eu espero que não...

Dizendo isto, Eric aproximou-se de mim e beijou-me.

SaphiraOnde histórias criam vida. Descubra agora