*Capítulo 5*

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Ano de 2006

- Está acordada, bebê? - Fecho meus olhos com força, eu quero meu papai, quero minha mamãe. Sinto um frio na barriga, um arrepio em minhas costas. - Venha cá meu pequeno anjo, o vovô quer ver o que você tem aí...

Sinto ele sentando em minha cama, meu cobertor é retirado de cima de mim, eu não sei porque eu quero chorar, não sei porque tenho tanto medo, ele diz que eu tenho que me acostumar, porque ele quer algo mais, eu não sei o que é este algo mais. Cada vez que meu papai me deixa passar o fim de semana na casa de vovô, as coisas só pioram. Meu corpo endurece quando sinto as mãos enrugadas em mim, suas mãos passeiam dos meus pés até as minhas coxas. O sinto me virar de costas, quero gritar, mas não faço. Ele não gosta de gritos, ele fica chateado quando eu luto. Então eu finjo dormir, eu finjo não ver, eu finjo não sentir. A cama se afunda, sinto o cheiro, sinto... Sinto ele... Eu não posso fazer nada, a única coisa que posso fazer é ficar aqui e esperar que ele acabe.

- Você é a netinha mais boazinha do vovô, vai ganhar chocolates amanhã. - Escuto um fecho se abrindo. Fecho meus olhos com mais força. Uma mão segura meu ombro, a outra eu não sei... Seu corpo se abaixa sobre o meu, ele cheira meu pescoço enviando ânsia por toda parte. Eu sinto movimentos atrás de mim. Ele continua a cheira meu pescoço respirando com dificuldade. - Oh, meu bem. Eu não farei isso sempre, da próxima vez eu quero suas mãos sobre mim, eu vou ensinar você como o vovô gosta. - Ele solta um gemido e sinto um molhado sobre minhas costas, lágrimas já transbordam de meus olhos. Ele passa a língua em meu pescoço e o cheira mais uma e outra vez. Sua respiração está rápida, parece que ele correu como as pessoas da TV correm. - Eu sei que você gosta disso, quando você crescer, vai agradecer ao vovô.

Ele diz ainda com dificuldade pela respiração. O sinto levantar, me controlo para não levantar e correr para o banheiro. Ele demora um pouco para sair, mas quando sai a culpa, o medo, já estão sobre mim. Eu me levanto devagar com os olhos ardendo por tantas lágrimas, corro para o banheiro, eu só quero ir embora, só quero que o papai me busque logo, mas antes de tudo eu preciso me limpar...



Dias atuais...

»Ryan«

Esmurro a porta do meu quarto assim que eu entro. Virgem. Samira Miller é virgem? Mas nem no inferno eu poderia imaginar. Como eu pude perder o controle daquela forma? Eu tentei... Tentei ficar longe. Mas ela é como o ímã me puxando para o metal. Vê-la naquela camisola, seus seios olhando para mim, implorando pelo meu toque, seus olhos sempre olhando os meus, mas quando ela chegou perto, quando eu pude sentir seu perfume doce, eu não resisti. Foda-se, eu tentei! Ela nunca esteve com um homem antes? Qual o problema dela? Ela é linda! Delicada como a flor. Eu não entendo. Ela nunca namorou? Ela teria me dado sua virgindade ali? Em uma parede? Ela teria me deixa a foder ali? Foder! Meu pau ainda está duro como pedra, a expectativa de transar com ela, ainda esta sobre a minha pele. Foda-se, não sei nem como olhar para ela amanhã de manhã. A única certeza que eu tenho, é que eu preciso de um banho. Agora. Gelado.

»Samira«

Não sei como olhar para ele. Eu mal dormi na noite passada. As imagens vindo em minha mente. A rejeição. Eu teria ido até o fim? Eu teria me entregado para ele? Eu mal senti... Não vá para lá, Samira. Não pense naquele monstro. Meu Deus! O que devo fazer?

Sonhos me assombravam quando eu fechava os olhos, lembranças vinham em minha mente. Já se passou tanto tempo, tanto tempo sem me lembrar. Porque eu permiti que ele me tocasse assim? Que ele me beijasse, ele não me lembrou... Ele só me fez... Sentir? Eu não sei, estou confusa, angustiada. Como posso olha-lo hoje? Como posso fingir que nada aconteceu? Minhas olheiras dizem o que houve, dizem que eu mal dormi a noite. São oito da manhã, Noah ainda dorme. Resolvo ficar no meu quarto, tomo um banho e faço minhas higienes pessoais, pego um jeans que achei, o engraçado que tudo é do meu tamanho, mas ele nunca me perguntou nada. Como ele sabe? Eu ainda não sei o porque ele compraria tantas roupas assim para mim. Não sei nem porque ele me beijou. Uma batida na porta me assusta. Será que é...

- Srta. Miller, preciso lhe dizer algo. Sei que já está acordada. - Deus meu! Ele tinha que vir aqui, acho que já me sinto humilhada o bastante. Respiro fundo, vou até a porta e a abro.

»Ryan«

Se eu me sentia péssimo, vendo Samira assim, me sinto pior. Ela continua linda, um raio de luz. Mas em seus olhos vermelhos revelam o que eu fiz a ela. Eu entro sem perguntar se eu posso. Ela fecha a porta, caminha até a cama e se senta. Dou uma olhada no quarto.

- Vejo que você achou as roupas. - Tento parecer desinteressado, mas a verdade é que me agrada ela estar usando o que lhe foi comprado.

- Sim. - Sua voz é baixa. - Eu fiquei confusa, não sei para que tantas roupas, eu já tenho algumas. Não tinha essa necessidade.

- Não tinha, mas eu queria o seu quarto com roupas prontas para se caso tivermos que fazer uma viagem de emergência, ou até mesmo, em uma noite que eu precise que você durma aqui. - Digo distraidamente. Olho para ela, ela está brincando com suas pequenas mãos em um gesto nervoso. Me sinto ainda pior pelo seu desconforto. Resolvo ir direto ao ponto. - Sobre ontem...

- Eu sei que não foi correto. Eu não sou assim, eu... - Ela me interrompe olhando de suas mãos para meu rosto. Faço um sinal com a mão para que ela pare de falar. De onde essa mulher veio?

- Samira, a culpa não foi sua. Eu não sei o que diabos me deu, eu não me envolvo com mulheres. Você é linda, atraente, não posso negar. Mas isso não vai acontecer de novo. Eu não vou me envolver com você, ainda mais sendo uma virgem. Eu...

- O que? - Ela se levanta. - Virgindade não é uma doença, Sr. Ryan. Eu já passei por muito nesta vida, eu não sei ao certo porque eu fiz isso. Eu não deixo homens me tocar. Eu... - Ao ver tanta dor, vergonha e medo em seus olhos, eu me surpreendo e a abraço.

- Me perdoe. - Eu peço sem perceber. A vontade de protege-la, de cuidar, é maior que meu orgulho. Mas eu não posso me permitir. Me afasto. - Não quero que você crie expectativas, nós nunca vamos ter nada. Você é a babá do meu filho e nada mais. Eu sou o seu chefe, assim tem que ser. Nossos mundos não se misturam. - Uma lágrima rola de seu rosto, eu quero me esmurrar, me ferir por deixa-la assim. Foda-se suas condições financeiras, foda-se sua profissão. Eu a quero, não posso negar para mim mesmo, mas eu posso negar para ela e para o mundo. Essa mulher está fora dos meus limites. Fora! Me afasto sem esperar por uma resposta e a deixo em seu quarto, largada, abandonada, ferida. Coloco a máscara do homem frio e sem vida que criei e volto para minha rotina vazia e solitária

»Samira«

Quando a porta se fecha, eu me derramo. Lágrimas é tudo que tenho para libertar este sentimento. Eu não sei ao certo o que pensar, o que fazer. Em menos de uma semana minha vida está um caos, como posso continuar aqui assim? Por um momento penso em Wess, em como minha vida era ao lado dele, eu não tenho outra opção. Sentir essa necessidade de estar com Ryan, ou sentir medo ao lado de Wess? Eu prefiro a primeira opção. Por onde andará Wess? Meus pensamentos ficam confusos, tanto tempo sem me permitir pensar, sem deixar meus pensamentos ir até ele, mas agora é tarde demais, meus pensamentos viajam para onde ele está, meus pensamentos me levam diretamente para Wess. Me deito na cama e formo uma bola com meu corpo.







Uma Lição de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora