*Capítulo 8*

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»Samira«

- Eu era pequena quando tudo começou. - Ryan me olhava atentamente, cada palavra que saia da minha boca ele absorvia. Ele mostra sua ansiedade quando brinca com seus longos dedos me fazendo ficar ainda mais insegura.

- Não pare, Samira. - Ele segura em uma de minhas mãos, eu olho para nossas mãos juntas, nossos dedos entrelaçados, depois olho para seu rosto calmo. Meu coração incha em meu peito, respiro fundo e me entrego as lembranças.

- Eu tinha 10 anos quando ele me olhou diferente pela primeira vez, eu senti naquele olhar que nada seria igual, que tudo mudaria a partir dali... - Engulo em seco. - No começo ele só me olhava, ele me vigiava... - Fecho meus olhos com força quando a visão do rosto do meu avô vem a minha mente. - Quando eu fiz onze anos ele começou a me ver tomar banho, me ver trocar de roupa, eu acho que ele achava que eu não o via, mas eu via. Eu... Eu via... - O aperto de Ryan se intensifica fazendo minha mão ficar em alerta. - Depois ele começou a se tocar na minha frente, ele me fazia ver, me obrigava a olhar diretamente para ele. Ele dizia que eu tinha que fazer, que ele era meu avô e eu tinha que agrada-lo, que ele havia gastado muito em me mimar, bombons, cinemas, teatros... - Minha mão começa a latejar pelo aperto, o rosto de Ryan está indescritível, ele não olha para mim, ele olha para nossas mãos. Eu não consigo continuar, não consigo contar a ele coisas que eu nem mesmo contei a minha mãe.

- Me perdoe. - Sua voz sai mais grossa que o de costume, ele leva minha mão aos seus lábios e a beija. Seus olhos buscam os meus, ele acaricia meu rosto em um jeito totalmente inocente, me encorajando a continuar.

- Eu sabia que eu tinha culpa, sabia que eu era a única culpada. Ele sempre disse isso, sempre disse que eu era um fruto carnal, que eu era o pecado, que o diabo me enviou para leva-lo ao inferno...

- A. Culpa. Não. É. Sua. - Ryan diz com seu maxilar tenso. Eu abaixo minha cabeça pela vergonha que carrego. Pela culpa.

- Ele passou a tocar nos meus seios, eu ainda nem tinha os seios formados... - Lágrimas que eu não sabia da existência transbordam dos meus olhos. - Ele cheirava, cheirava meu pescoço sempre. Ele dizia que eu tinha o cheiro do pecado, o cheiro da rosa mais venenosa... - Eu me afasto de Ryan ficando de pé. Eu começo a esfregar meu pescoço com a lembrança - Ele sempre o cheirava, eu podia sentir sua respiração em mim... - Eu limpo meus olhos fazendo minha visão se expandir. Vejo que Ryan me olha atentamente. - Eu dizia aos meus pais que eu não queria, que eu não queria ficar ali. Eles brigavam comigo achando que eu estava fazendo desfeita, diziam que eu já era uma mocinha e deveria me comportar. - Eu viro de costas para Ryan. - As coisas começaram a piorar, ele soube da minha primeira menstruação, ele dizia que eu estava me tornando uma mulher, dizia que eu tinha que começar a agrada-lo....

- Quem? - Eu me viro e vejo Ryan em pé olhando para o nada - Quem era ele, Samira? - Eu vejo tanto ódio em seus olhos, sinto medo e abaixo minha cabeça.

- Eu...

- QUEM??? - Ryan grita me fazendo pular pelo susto, eu me encolho e ele chega até mim, fazendo-me olhar para ele. Seu rosto se suavizou. - Eu sinto muito, não quis te assustar, me perdoe. Eu não consigo imaginar alguém fazendo isso com uma criança. Confie em mim, babe. - Ele diz delicadamente. - Diga-me quem era ele, por favor? - Ele implora.

- Meu avô. - Digo sem fôlego, o choro tomou toda minha respiração, eu não consigo controlar, choro compulsivamente. Ryan me abraça, posso sentir seu coração acelerado, sua respiração pesada. Eu quase posso sentir sua raiva.

- Eu vou mata-lo! - Fico chocada pelas suas palavras. Me afasto e tento recuperar meu fôlego.

- Não... Não... - Eu digo em meio ao desespero. Ryan beija o topo da minha cabeça e me embala em seus braços.

Uma Lição de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora