Prólogo

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Encaro meu irmão, surpreso com sua audácia. Nosso pai faleceu há poucos meses e ele está aqui, parado na minha frente, dizendo que vai abandonar a nossa família.

- Não posso acreditar nisso, Jake. - Digo com incredulidade. - Você faria mesmo isso? Me deixaria sozinho cuidando do negócio, da mamãe e da Mikaela enquanto você gasta todo o patrimônio que papai nos deixou com viagens e mulheres?

- Não soe tão chocado, irmãozinho. Você não é melhor do que eu, você aprecia uma boa diversão tanto quanto eu aprecio.

- Eu estou tentando ser responsável aqui. Fazer o que é certo para a nossa família. Se eu quero toda essa responsabilidade? É claro que não! Mas é o que eu tenho que fazer, o que nós temos que fazer.

- Não tente jogar esse joguinho comigo, irmãozinho. Você sabe muito bem que culpa não funciona comigo. Mamãe e Mikaela vão ficar bem, elas já são bem grandinhas e sabem cuidar de si mesmas.

- E a Costa Meridionale? Quem vai me ajudar a cuidar de uma das maiores companhias de cruzeiros do mundo, hum? Do legado que papai nos deixou, o resultado do trabalho do nosso avô!

- Não seja melodramático, irmãozinho. Você não vai ter que fazer todo o trabalho sozinho, ou será que já se esqueceu de que o tio Cyrus também é dono da empresa?

- Não se faça de estupido, Jake. Papai era dono da maior parte, o que significa que agora dividimos a sua parte. Eu, você e Mikaela. Ainda somos a maioria, as decisões finais ainda são nossas! - Dou um tapa sobre a mesa de mogno, sobre os papeis ali distribuídos. Irritado. Indignado.

Jake e eu sempre soubemos aproveitar a boa vida que nos era dada, admito que ele e eu somos do tipo que gostamos de nos divertir, sem responsabilidades, sem se importar com as consequências. Demos muita dor de cabeça para nossos pais enquanto crescíamos, e depois de grandes também. Gostamos de curtir. Alguns gostam de nos chamar de fúteis, playboys, irresponsáveis. Somos tudo isso, com certeza.

Mas Jake sempre foi mais. Mais irresponsável, mais devasso, mais fútil, o que conseguia todas as garotas que queria, inclusive as que eu queria. Sempre foi uma competição, e ele sempre ganhou.

Até que uma noite, há alguns meses, tudo mudou. Nosso pai, meu herói, morreu. Sozinho, em seu escritório, enquanto relaxava com um copo de uísque na mão, seu coração não aguentou e parou.

Jake sempre foi mais apegado com a nossa mãe, já eu, com o nosso pai. A sua morte foi um choque para mim mais do que para o resto de nossa família. Ainda dói.

Eu prometi para mim mesmo, enquanto observava o caixão do meu pai ser coberto por terra, que eu não o desapontaria nunca mais. E é isso que eu estou tentando fazer agora, cuidar do seu maior legado. A empresa de cruzeiros que foi fundada por meu avô, a Costa Meridionale Cruise. Uma das maiores e mais bem sucedidas do mundo.

- Suas. As decisões agora são suas, ou serão assim que você aceitar comprar a minha parte. - Ele diz com o seu típico sorriso despreocupado, apoiando as mãos no encosto da cadeira a sua frente.

- Você é uma vergonha para essa família. - Digo com raiva, mas me arrependo assim que as palavras saem da minha boca.

A minha relação com o meu irmão sempre foi delicada, instável, mas não justifica eu ter falado assim com ele. Sei que Jake também está sofrendo com a morte de papai, do seu jeito, mas está.

- Desculpe, não quis dizer isso. - Arrependo-me.

- Tudo bem, irmãozinho. Você sempre foi o que teve mais vocação para assumir os negócios da família, de qualquer forma. - O sorriso em seu rosto mostra que minhas palavras não o abalaram. Jake tem essa capacidade impressionante de sempre manter a calma, o humor ácido, de sempre ser o inabalável.

- Se é isso o que você quer, tudo bem. É melhor que sua parte seja minha do que você vende-la para outra pessoa. - Desisto, cansado de discutir.

- Exatamente.

- Diga-me uma coisa, como você irá lidar com a reação de mamãe quando lhe contar que está abrindo mão da empresa e indo embora?

- Não se preocupe com isso, irmãozinho, eu sei como lidar com a nossa mãe. Agora, que tal começarmos a discutir o meu pagamento, hum?



Paixão a bordo (Livro 6)Onde histórias criam vida. Descubra agora