Seis anos depois...
Embora eu não tivesse como saber disso na hora, a maior mudança da minha vida chegaria entre 15h29 e 15h30.
Minha aula de politica do pensamento moral para a turma dos calouros tinha terminado naquele instante. Eu estava saindo do bard hall. O dia de aulas chegara ao fim. O sol estava forte em massachusetts naquela tarde fresca. Um jogo de frisbee rolava na quadra. Os alunos estavam espalhados por todos os cantos, como se o panfleto do campus dos sonhos tivesse ganhado vida.
Adoro dias assim. Mas quem não gosta ?
-professor styles ?
Virei-me ao ouvir o chamado. Sete estudantes estavam sentados na grama, num semicírculo. A garota que falou estava no meio.
-gostaria de se juntar a nos ? –perguntou
-obrigado, mas tenho que atender alguns alunos agora – respondi, com um sorriso.
Continuei andando. Eu não podia ficar, embora fosse adorar me sentar com eles num dia glorioso como aquele –quem não queria ? as linha que separam professores e alunos eram muito tênues e, me desculpem, por mais cruel que isso soe, eu não queria ser aquele professor se é que me entendem, que anda demais com os alunos, frequentando ocasionalmente festinhas de fraternidades e as vezes oferecendo uma cerveja no fim do jogo de futebol. Um professor deve dar apoio e ser acessível ,mas não colega.
Quando cheguei a Clark House, a Sra. Dinsmore me cumprimentou com a carraca habitual. Uma típica megera, ela era a recepcionista do departamento de ciências politicas desde o tempo do governo hoover, acho que tinha no mínimo 200 anos, mas era tão impaciente e desagradável quanto alguém com metade dessa idade.
-boa tarde, minha linda –falei –algum recado ?
-na sua mesa –respondeu a Sra. Dinsmore. ate sua voz era mal-humorada. – e a mesma fila de sempre já se formou na sua porta.
-ok, obrigado.
-parece ate que esta havendo um teste para algum musical lá.
-entendi
-o seu antecessor nunca foi acessível assim.
-ah, que isso, Sra. Dinsmore? Eu sempre vinha visita-lo aqui quando era aluno.
- sim, mas pelo menos a sua bermuda tinha um comprimento adequado.
- e isso a decepcionava um pouco, não é ?
A Sra. Dinsmore fez o possível para não sorrir.
-suma da minha frente, esta bem ?
-pode confessar
- quer levar um chute na bunda ? saia daqui.
Mandei um beijo para ela e entrei pela porta dos fundos a fim de evitar a fila de alunos que me procuravam as sextas. Dou duas horas de atendimento "não agendado" uma vez por semana, de três as cinco da tarde. O primeiro aluno não tinha motivos para estar ali, a não ser, -e estou sendo grosseiro –puxar o saco. As vezes eu sentia vontade de levantar a mão e perguntar: "por que, em vez de vir aqui, você não faz uns biscoitos pra mim?" mas me controlava. A segunda queria reclamar da nota, seu trabalho B+ deveria ser um A- quando na verdade estava mais para um B.
Era assim mesmo. Alguns vinham a minha sala aprender, outros para reclamar, conversar –tudo bem. Se os estudantes já chegassem completamente formados e sem inseguranças, qual seria a graça ?
-vai continuar B+ -falei, depois que ela terminou sua arenga. –mas apostos que você vai conseguir aumentar a nota no próximo trabalho.
O despertador do relógio tocou. Sim , o tempo é cronometrado para cada aluno. Eram exatamente 15h29. Por isso que, ao olhar para trás, para tudo que vai acontecer, sabia com precisão quando tinha começado –entre 15h29 e 15h30 da tarde.
-obrigada, professor –falou ela, levantando-se para ir embora.
Levantei-me também.
Nos dois nos levantamos da grande mesa de carvalho e apertamos as mãos . ela segurou um segundo a mais do que o necessário, então a retirei com rapidez intencional. Não, isso não acontece o tempo todo, mas acontece. Estou com 26 anos agora, mas quando comecei aqui ,isso ocorria com mais frequência .lembra-se daquela cena de os caçadores da arca perdida em que uma aluna escrevia "te amo" nas pálpebras ? algo parecido aconteceu comigo no meu primeiro semestre. So que o pronome não era "te", mas "me", e o verbo começava com C.
Quando me sentei para esperar o próximo aluno entrar, olhei para o computador no lado direito da mesa. O protetor de tela estava ativo. Era algo tipicamente universitário, acho. Havia exibições de slides da vida no campus, jovens se divertindo e interagindo com os outros e com professores, o banner no alto mostrava a logo da universidade e os prédios mais famosos, inclusive a prestigiosa capela Johnson, onde eu vira Louis se casar.
Na parte direita da tela, via-se um feed de noticias da instituição.
-e ai, professor, como vão as coisas? –perguntou Barry Watkins, o próximo aluno da fila, ao entrar.
Nesse mesmo instante , vi um obituário entre as noticias que me fez parar.
- oi barry –falei, com os olhos ainda na tela –sente –se.
Ele obedeceu e pôs os pés em cima da mesa. Sabia que eu não me incomodava, barry vinha toda semana, suas visitas eram mais uma espécie de terapia. Olhei mais perto do monitor. O que me fizera parar tinha sido a fotografia do falecido, do tamanho de um selo . não o reconheci –não aquela distancia –mas parecia jovem, de certa forma isso não era incomum nos obituários.
Entretanto, somos uma faculdade pequena, mais ou menos quatrocentos alunos por curso. A morte não era incomum. Mas, talvez por causa do tamanho da instituição ou pela minha ligação com ela, tanto como estudante quanto professor, sempre me senti envolvido de alguma forma quando alguém morria.
-ei, professor ?
-um segundo, Barry.
Eu estava tomando o tempo dele. Uso um cronometro portátil que imita um placar, estava automaticamente ajustado para uma contagem regressiva de nove minutos e agora marcava 8:49.
Cliquei na pequena foto. Quando ela abriu, ficando maior, conseguir conter um arquejo.
O nome do morto era Stanley Lucas.
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seis anos depois ➡ l.s. (Finalizada)
FanfictionHarry e Louis se conheceram no verão. eles estavam em roteiros diferentes, porem próximo um do outro. o de Harry era escritores;o de Louis pra artistas .eles se apaixonaram e juntos, viveram os melhores messes de suas vidas. e foi por isso que Harry...