capítulo 30

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Fui ao banco e saquei 4 mil dólares. O caixa teve que pedir permissão ao supervisor, que precisou falar com o gerente. Tentei me lembrar da última vez em que tinha ido à boca do caixa, em vez de usar o atendimento eletrônico, mas não consegui. Depois parei para comprar dois telefones pré-pagos. Sabendo que a polícia podia rastrear qualquer aparelho que estivesse ligado, desliguei o meu celular e o coloquei de volta no bolso. Se precisasse fazer chamadas, usaria os novos, mantendo-os também desligados o máximo de tempo possível. Se a polícia tinha como rastrear esses telefones, um cara como Danny Zucker poderia fazê-lo da mesma forma, eu imaginava. Era impossível ter certeza disso, mas meu grau de paranoia estava em níveis estratosféricos. Talvez não conseguisse ficar muito tempo fora de ação, mas, se o fizesse por alguns dias, seria o ideal. As coisas mais importantes primeiro. Niall disse que ninguém envolvido na Novo Começo sabia onde louis estava. Eu não tinha tanta certeza. A organização havia começado em Lanford por solicitação, mesmo que em parte apenas, do professor Malcolm Hume.

Era hora de ligar para o meu antigo mentor.

A última vez que vi o homem cuja sala agora ocupo havia sido uns dois anos antes, num seminário de Ciência Política sobre violações constitucionais. Ele chegou da Flórida, forte e bronzeado. Os dentes estavam de um branco ofuscante. Como muitos habitantes aposentados daquele estado, parecia descansado, feliz e muito velho. Passamos bons momentos, mas havia um distanciamento entre nós na época. Malcolm Hume era assim, às vezes. Adorava aquele cara. Tirando o meu pai, ele era a coisa mais próxima que tive de um exemplo a seguir. Mas o professor deixara claro que a aposentadoria era um fim. Sempre tinha detestado os tipos acadêmicos que se agarravam aos empregos, professores e administradores mais velhos que permaneciam na ativa, com o prazo de validade vencido, como esportistas que não querem encarar o inevitável. Depois de ter deixado nosso estabelecimento sagrado, o professor Hume não apreciava a ideia de voltar. Não aceitava viver de nostalgia ou dos louros passados. Mesmo aos 80 anos, Malcolm Hume era um cara que olhava para a frente. Para ele, o passado era apenas o passado.

Assim, apesar do que eu considerava ser nossa preciosa história, não nos falávamos regularmente. Essa parte da sua vida tinha acabado. Malcolm Hume agora gostava de golfe, de um clube de livros de mistério e do grupo de bridge, lá na Flórida. A Novo Começo deveria também ser algo que deixara para trás. Não sabia como ele reagiria a meu telefonema - se ficaria agitado ou não. Nem estava muito preocupado com isso.

Precisava de respostas.

Digitei seu número em Vero Beach. Cinco toques depois, a secretária eletrônica atendeu. A gravação da voz retumbante de Malcolm, um pouco mais áspera pela idade, convidou-me a deixar uma mensagem. Já ia fazê-lo quando percebi que não tinha um número para que ele me retornasse, e
ainda mais com o telefone desligado a maior parte do tempo. Tentaria outra vez mais tarde. E agora? Minha cabeça voltou a fervilhar, concentrando-se pela enésima vez no pai de louis. Ele era a solução ali. Quem, perguntei-me, poderia jogar uma luz sobre o que lhe acontecera? A resposta era um tanto óbvia: a mãe de Louis.

Pensei em telefonar para Lottie e perguntar se poderia falar com sua mãe, mas isso me pareceu outra vez total perda de tempo. Fui até a biblioteca local e coloquei meu nome na lista para usar a internet. Fiz uma busca por johannah tomlinson . O endereço que constava era o da filha, em Ramsey, Nova Jersey. Recostei-me por um segundo e pensei naquilo. Entrei no site das Páginas Amarelas e
pesquisei os estabelecimentos geriátricos na área de Ramsey. Apareceram três. Liguei para eles e pedi para falar com johannah. Todos disseram que não tinham nenhuma "residente" (os três usaram
esse termo) com aquele nome. Voltei ao computador e ampliei a busca até Bergen County, ainda em Nova Jersey. Surgiu uma quantidade enorme. Peguei um mapa e comecei a telefonar para os que ficavam mais perto de Ramsey. Na sexta ligação, a telefonista da clínica Hyde Park disse:

seis anos depois ➡ l.s. (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora