capítulo 35

171 17 13
                                    

Os homens se espalharam, abaixados.
Jed enfiou a mão no bolso e tirou a caixinha de comprimidos. Abriu-a e atirou a cápsula para mim.

- Não quero isso - falei.

- Eu estou com a arma. Vou tentar contê-los. Você procura um jeito de escapar. Mas se não conseguir...

Lá de fora, ouvimos Danny gritar.

- Só tem um jeito de se livrar desta! É sair com as mãos para cima.

Nós tínhamos nos deitado no chão.

- Você confia nele? - perguntou Jed.

- Não.

- Nem eu. Eles não vão nos deixar vivos de jeito nenhum. Tudo que estamos fazendo neste momento é lhes dando tempo para planejar algo. - Ele começou a se levantar. - Procure um caminho para fugir pelos fundos, harry. Vou mantê-los ocupados.

- O quê?

- Vá!

Sem nenhum aviso, Jed quebrou o vidro da janela e começou a apertar o gatilho. Em segundos, eles revidaram o fogo, acertando a lateral da casa e quebrando o restante da vidraça. Cacos de vidro caíram sobre mim.

- Vá! - gritou Jed.

Não houve necessidade de ele me dizer aquilo pela terceira vez. Rastejei em direção à porta dos fundos. Essa era a minha única chance. Jed começou a atirar às cegas, mantendo as costas contra a parede. Entrei na cozinha, ainda deitado sobre o piso. Cheguei à porta dos fundos. Ouvi Jed soltar um grito de comemoração.

- Acertei um!

Ótimo. Faltavam quatro. Mais tiroteio. Pesado agora. As paredes começavam a ceder, com as balas penetrando e enfraquecendo a madeira. De onde estava, vi Jed ser atingido uma e, em seguida, outra vez. Comecei a rastejar de volta em sua direção.

- Não! - gritou ele.

- Jed...

- Não se atreva! Saia daqui agora!

Queria ajudá-lo, mas percebi também a inutilidade do gesto. Não poderia ajudá-lo em nada, seria apenas suicídio. Jed conseguiu se pôr de pé, encaminhando-se para a porta da frente.

- Ok! - gritou ele para fora. - Eu me rendo.

Estava com a arma na mão. Virou-se, olhou para mim, piscou e fez um gesto para eu ir embora. Olhei pela janela dos fundos, preparando-me para correr. A casa dava para uma área
arborizada. Poderia entrar naquele bosque e rezar para tudo dar certo. Não tinha outro plano. Pelo menos, nada que me ajudasse de imediato. Peguei o celular e liguei-o. Havia sinal. Liguei para a emergência enquanto olhava pela janela Um dos homens estava na parte de trás, à esquerda, cobrindo a porta. Merda.

- Pois não, qual é sua emergência?

Disse rapidamente à telefonista que havia um tiroteio e ao menos dois homens feridos. Dei-lhe o endereço e abaixei o telefone, deixando a linha aberta. Atrás de mim, ouvi Danny Zucker gritar:

- Ok, largue a arma primeiro.

Acho que vi um sorriso no rosto de Jed. Ele estava sangrando. Não sabia a gravidade do ferimento, se era fatal ou não, mas ele sabia que sua vida estava acabada, não importava o que
fizesse. Com isso, parecia lhe ter vindo uma estranha sensação de paz. Ele abriu a porta e começou a atirar. Ouvi um homem gritar de dor - talvez outra das suas balas tivesse atingindo o alvo - e depois o estalido seco de uma pistola automática despedaçando carne. De onde estava, vi o corpo de Jed cair para trás, os braços levantados como numa dança macabra. Ele desabou dentro da casa. Mais balas o atingiram, sacudindo seu corpo sem vida. Estava acabado. Para ele e provavelmente para mim também. Mesmo que Jed tivesse conseguido matar dois deles, haveria ainda três, vivos e armados. Que chance me restava? Calculei as possibilidades em nanossegundos. Quase nenhuma. Só tinha uma alternativa, na verdade. Protelar e protelar até a polícia conseguir chegar lá. Pensei em como estávamos longe de tudo. No trecho íngreme pela estrada de terra. E em que não havia nenhuma casa num raio de quilômetros, em torno daquele lugar.

seis anos depois ➡ l.s. (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora