Capítulo 22

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quem poderia saber?

a irmã de louis, lottie. ela havia me despachado ao telefone. perguntava-me se teria mais sorte pessoalmente.

estava voltando para o carro quando o celular tocou. verifiquei o numero no identificador, o código de área era 802. vermont.

atendi.

-ah, oi. você deixou seu cartão no café

reconheci a voz

-cookie?

-precisamos conversar -disse ela

segurei o celular com mais força

-estou ouvindo

-nao confio em telefones -objetou ela. notei um tremor em sua voz -voce pode voltar aqui?

-posso ir agora mesmo se quiser

cookie me explicou como chegar a sua casa, que não ficava longe do cafe. peguei a 91 na direção norte e tentei, sem sucesso, não correr. o coração martelava no peito. quando cheguei a fronteira ja era meia noite.

por que, perguntei-me outra vez, ela tinha agido como se não se lembrasse de mim quando fui ao cafe?

outra coisa me veio a memoria. todo mundo que eu encontrava dizia que nunca havia existido um retiro chamado renovação criativa, mas cookie dissera: "nos nunca trabalhamos no retiro." na hora não me dei conta, mas se nunca tivesse existido o tal retiro, a respostas seria algo como: "hein? que retiro?".

diminui a velocidade ao passar pelo cafe-livraria. so havia dois postes, ambos projetando sombras longas e ameaçadoras. ninguem passava. o centro da cidade estava silencioso ate demais, como essas cenas de filme de terror, antes de o mocinho ser cercado por zumbis. dobrei a direita no fim do quarteirão, segui por mais 800 metros e dobrei a direita outra vez. nao se viam mais postes agora. a unica iluminação era do farol. se eu estava passando por casas ou edificios, todas as luzes tambem tinham sido apagadas, acho que ninguem as deixava acesas por la, para intimidar os ladroes. que inteligente! na escuridão, eles nao conseguiam ver nada.

olhei para o GPS e vi que estava a mais ou menos um quilometro do meu destino. mais duas curvas. senti brotar em meu peito algo parecido com medo. todo mundo ja leu sobre a maneira como certos animais e seres marinhos podem detectar o perigo. eles conseguem sentir ameaças e ate desastres naturais iminemtes, quase como se tivessem um radar de sobrevivência. em algum momento, é claro. o homem primitivo deve ter tido essa habilidade tambem. ainda temos esse instinto de sobrevivencia. pode estar inativo ou atrofiado por falta de uso, mas a verdade é que o homem de neandertal incistivo esta sempre ai, oculto sobre nossas roupas sociais.

naquele momento, meus sentidos de Homem-aranha estavam formigando.

desliguei os farois e estacionei na mais completa escuridão. nao havia pedras delimitando a calçada. do asfalto passava-se direto aos gramados. eu não sabia o que estava prestes a fazer, mas quanto mais pensava, mais achava que talvez algumas medidas de segurança fosse necessarias.

podia ir andando dali.

saltei do carro. a noite parecia viva, cobrindo meus olhos. esperei um minuto ou dois,parado ali, deixando que minha vista se adaptasse. quando consegui enxergar ao menos uns poucos metros a frente prossegui. estava com meu celular, cheio de aplicativos que nunca havia testado, mas o unico que usava, provavelmente o mais simples e menos tecnologico, era a humilde lanterna. pensei se deveria liga-la, mas achei melhor não. se ouvesse alguem ali, eu nao queria provoca-lo com o facho brilhante de uma lanterna. fora por isso que havia estacionado longe e estava me esgueirando pela escuridão,certo?

seis anos depois ➡ l.s. (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora