3. Devassa paixão

331 13 0
                                    

Sentir a fria chuva caindo no meu corpo quente era arrebatador. Naquele momento, eu estava vestido de liberdade. Me vi como um escravo que acabara de ganhar sua carta de alforria, uma hora atrás. Quem diria que eu ficaria assim por dois anos! Mas finalmente meus lábios despertaram outra vez para sentir o afago de outra boca. A chuva tinha um misterioso tom cinza de felicidade que compactuava com a minha. Quando estamos envolvidos numa paixão avassaladora parece que tudo ao redor está apaixonado. Uma boca, uma chuva, uma paixão...

Um momento atrás, sequer poderia imaginar que aquilo aconteceria.

Ele olhava para mim.

Eu olhava para ele.

Ele olhava para mim.

Eu olhava para ele.

Aquele cara do cabelo espetado aparentava ter vinte e poucos anos, seu rosto era bonito, assim como seu corpo e ele era baixinho, me lembrava até Enzo. Estávamos no banheiro, havia várias pessoas ali, e já era a terceira vez que eu ensaboava minhas mãos só para continuar trocando olhares com o gostoso. Ele usava uma camisa de manga curta com a logomarca de seu trabalho. Logo o banheiro ficou tumultuado e eu saí, ele veio atrás de mim.

Estávamos no shopping, ele mantinha uma certa distância, precisei pensar rápido em alguma saída e eis que me veio à mente: escada de incêndio, eu tinha uma emergência, precisava apagar aquele fogo ou enfim queimar em meio as labaredas do prazer. Ele captou minha mensagem, me seguindo e entrando na escada de emergência. Fui até os degraus do meio, já que era num estilo quebrado de vai e vem, na metade escolhida, não tomaríamos sustos caso alguém aparecesse, além de que seria mais fácil subir.

O carinha de um metro e setenta apareceu e ficou olhando para mim enquanto se aproximava. Estendi minha mão até o zíper de sua calça e abri, observando sua cueca preta. Abri o meu também, abaixei minha peça íntima, entregando meu pênis às suas ansiosas mãos. Comecei a tocá-lo, assim como ele já fazia comigo, mas não desviava seu pesado olhar de mim, sem balbuciar uma palavra sequer. Seus olhos invadiam demais a minha alma, a ponto de me deixar incomodado e tímido. Quando senti seu membro rígido em minhas mãos, ajoelhei-me para chupá-lo. E o fiz, com maestria, enquanto continuava me estimulando. Depois ele me chupou.

Novamente retomou seu olhar a mim num pedido de clemência implorando para me beijar, ele não precisou falar nada, seus olhos diziam por si só. Sabe aquele friozinho na barriga que se sente antes de beijar? Eu podia sentir o dele. Mas eu não beijava há dois anos. Prometi a mim mesmo só beijar garotas, mas eu não conseguia resistir àqueles lábios, um moreno sedutor todo meu e eu iria recusar? Aos poucos, nossas bocas foram se aproximando lentamente, até que explodimos em beijos quentes e picantes, libertando um desejo gutural dentro de mim. Eu o mordia e ele de volta, sua língua passeava em mim enquanto minha mão percorria seu corpo, cabelo, nuca, rosto, barriga, pênis ereto e por fim apertei sua bunda, deliciosa. O garoto ria, ainda de olhos fechados com a boca na minha. Seu gosto natural era maravilhoso, tinha sabor de quero mais, meu desejo era congelar o momento para beijá-lo eternamente. Eu mal o conhecia (já tinha visto-o uma vez no mesmo banheiro) e já sentia como se uma devassa paixão me invadisse, excitando cada parte de mim. Eu possuía aquele delicioso ser em meus braços.

Após os beijos, continuamos a sessão de sexo oral. Ele tinha um membro viril de bom alcance e relativa grossura, apesar de ser um pouco torto. Eu o chupei, logo após o moreninho também me chupou.

Até que eu gozei.

Gozei como um cavalo e ele olhou em meus olhos, demos mais um beijo. Puxou o celular do bolso e falou, pela primeira vez:

Caralho, tenho que voltar para o trabalho! – soou preocupado.

– Tchau! – dei um último selinho, mesmo tímido para tomar tal atitude.

Fui embora após resolver minha emergência, mas nem perguntei o nome dele...

Dois dias depois, era especificamente numa sexta-feira à tarde, daquela vez não chovia. O sol se escondia tímido atrás de uma espessa nuvem e eu caminhava na rua, eis que vejo o moreninho lindo com a barba por fazer. Ficamos nos entreolhando, ele parecia estranho. Foi caminhando pela calçada e eu o seguindo.

Observei-o cumprimentar um cara que eu conhecia, mas durante o resto do percurso, ele não me deu nenhuma pista para que eu descobrisse quem era.

Em casa, procurei por ele na lista dos amigos do carinha que eu conhecia e tinha visto-o cumprimentá-lo. Mas não achei, infelizmente.

O tempo passou, mais ou menos uma semana. Eram sete da noite, fui de volta para o lugar que o conheci, e dois minutos depois ele estava lá. Seu trabalho era ali do lado, e sempre que fechava a loja, passava no shopping para lavar as mãos.

O moreninho foi lavar as mãos enquanto eu fazia o mesmo. Ficamos nos entreolhando pelo espelho.

– Qual o seu nome? – ele tomou coragem para perguntar.

Parei por um momento, será que eu devia falar meu nome verdadeiro Pietro, ou o que eu tinha inventado para ocasiões como aquela, João Guilherme? Ele era tão amável, não merecia minha mentira. Fiz essa reflexão enquanto alguém abria a porta.

– Pietro – tive um surto de verdade – E o seu?

– Maicon.

– A gente podia ir na... – ia sugerindo meio sem jeito até ser interrompido.

– Não posso – avisou enquanto o único cara no banheiro saía – Minha mãe está me esperando lá embaixo.

– Sua mãe!? Você tem quantos anos?

– Vinte e três. – disse rindo – Ela trabalha comigo.

– A tá – falei quando já estava saindo.

– Ei – ele agarrou no meu braço – Onde você vai?

– Você acabou de me dispensar.

– Eu só disse que minha mãe está me esperando, mas ela pode esperar mais dois minutinhos.

Quando dei por mim, eu já estava encurralado entre o mármore frio do banheiro e sua boca quente. Maicon me beijava e minha mão passeava por ele. Delicioso. Magnifico. Gutural. Envolvente. Safado. Tudo aquilo resumido em menos de um metro e setenta. Maicon. Eu mordia sua boca e ele puxava meu cabelo, gemi em seus lábios enquanto minha mão alcançou seu membro viril. Ele riu, ainda no meu beijo e sussurrou no meu ouvido.

Safado! – e apertou o meu pênis também.

– Somos – completei.

E alguém abriu a porta, obrigando que nos separássemos abruptamente. Pisquei para ele pelo espelho e fui embora.

Maicon foi meu amorzinho especial por pelo menos um mês, até que de fato pulamos para uma nova fase, ou seja, pulamos para uma cama.

Não queira nem saber o que aconteceu. Mas eu vou contar, afinal de contas essa foi mais uma explosão de muito prazer.


Muito prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora