21. Triste adeus

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Os gritos absurdos de horror e ódio ainda permaneciam intactos latejando na cabeça. A voz indócil me acusava de todos os erros cometidos como se seguir aquele caminho fosse realmente uma escolha minha. O silêncio acelerado corria naquele quarto escuro na mesma velocidade que as acusações decadentes voavam na mente. Não conseguia para de pensar no quanto as pessoas eram falsas e no quanto eu sofreria quando a bomba de fato explodisse. Mas a loucura toda poderia ser revertida se eu conseguisse tomar a decisão mais séria de toda minha vida e livrar o mundo de mais uma vergonha. As pessoas às vezes nascem com algum defeito.

Uma vez eu havia visitado uma fábrica de embalagens e todas aquelas que tinham algum defeito eram incineradas. Esse era o meu destino: Incinerador. A morte seria a solução para um viver tão decadente como aquilo tudo pelo qual havia passado e experimentado. Como eu aproveitei mal minha existência vivendo de uma loucura a um delírio. Sempre soube que os quatro personagens que adoram roubar a cena na minha vida não teriam nada inutilmente bom que pudessem me oferecer. Meus pais me odiavam, provavelmente se arrependem de ter gerado algo tão abominável que sou eu. O mundo me odeia e eu não tenho mais motivos para viver. Engraçado como tantas pessoas felizes sofrem de doenças terminais tendo tanta coisa boa para viver. Tanta gente morre nesse mundo e eu aqui....

Mas para todos os problemas surgem sugestivas soluções. Caminhei devagar pensando em meio mundo. Passos silenciosos ecoavam por toda a casa no trajeto até o banheiro. Vasculhei alucinado as gavetas na dúvida se aquela era a melhor escolha a fazer. Afinal já vivera dezessete, agora dezoito anos uma vida triste salva por pouquíssimos momentos de lucidez e felicidade. Talvez tenha tida uma vida curta, mas já sofri demais.

Depois de vasculhar a terceira gaveta enfim encontrei. Não havia ninguém em casa, portanto não teria maiores problemas. Retirei todos os comprimidos que continham na cartela, num total de doze e engoli-os todos na esperança de que morresse. Meus queridos comprimidos, por favor, me matem! Deitei no chão aguardando acordar nas nuvens, caminhando por verdes campos onde a tristeza nunca mais afligira meu coração. Sonhei com um paraíso cheio de música, sucesso e beijo. Adeus, mundo cruel!


Muito prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora