4. Talvez Lua só no céu

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Bem, não sei exatamente o que devo escrever aqui, pois tentar comunicar algo que está dentro da gente para o papel é bem complicado. Vou começar então pelo motivo ao qual fez com que Lua cortasse suas ligações comigo, e tal fato me foi tremendamente frustrante, tudo bem que havíamos nos visto apenas uma vez (pelo menos só o reparei nesta) mas não o queria longe de mim.

Eu, na minha imensa burrice e pura ignorância, acabei por revelar ao meu peguete exclusivo (ultimamente eu só fico com ele, não saio mais por ai me envolvendo com qualquer um) o Maicon, quem era o Lua. Não me lembro bem qual era o assunto em questão quando revelei tal mistério, mas acho que tratava da pessoa mais interessante que eu gostaria de pegar, e sim, era o futuro dentista mais seduzente da face da Terra, ele não precisava nem falar nada para conquistar alguém, já era lindo por natureza e isso era meio caminho andado. Lua é o apelido que dei para Luiz Otávio, um rapaz lindo e loiro que conheci dias atrás e começamos a conversar e se conhecer melhor.

Minha maior vontade foi estuprar o Maicon quando soube o que ele fez. Então quando conversei pessoalmente com Maicon um dia desses, ele me contou que só adicionou o Lua porque tinha alguns amigos em comum e me disse depois que iria apagar a solicitação, pois não imaginava tanta polêmica acerca do assunto, mas agora não adiantava nada.

O resultado dessa brincadeira foi o mais devastado possível. Lua parou de falar comigo. Não! Eu não queria isso, eu não merecia (ou talvez até merecesse), mas eu não podia! Eu precisava do Lua, não só por sua beleza ou porque eu queria me relacionar com ele pelo menos uma única vez, mas eu também gostava dele, era uma espécie de diário ambulante que sabia das minhas peripécias sexuais, e eu queria ser completamente seu. Era estranho que eu apenas vi o garoto uma vez na rua, ele me adicionou no Face (ele lembrou de qual escola eu era e procurou por mim na página do colégio) e começamos a conversar altos papos e assuntos super tendenciosos.

Então ficamos vários dias sem se falar, na realidade, o cara preferia me ignorar. Até mandei uma foto minha em mínimos trajes para que pudesse me chantagear e não achar que eu ia fazer alguma coisa com a sua foto do violão (ele estava pelado com um violão sobre as partes íntimas numa foto que me mandou). Entreguei o ouro para o bandido, mas ele se recusou a me roubar.

Acabei me esquecendo um pouco de tudo isso e resolvi dar uma voltinha na rua à noite, já havia marcado com meus colegas de turma e tal. ERA CARNAVAL! Fiquei rodando na avenida sem encontrar ninguém, até que vi duas garotas da minha sala, e sem opção de companhia, fiquei rodando com elas até que uma vontade incomum de ir ao banheiro me surgiu e sugeri que fossemos até o shopping. Paramos rapidamente numa loja de trufas pra comprar uma e então vi uma Hollister verde acompanhada de um corpo sedutor. Puta Merda! Era ele! Eu queria encontrar o Lua, mas precisava fazer xixi e se eu o encontrasse em tais condições, não conseguiria nem urinar e muito menos falar o que deveria.

Coloquei o meu capuz vermelho da Chapeuzinho e fui de encontro ao lobo mau, como eu queria ser devorado por aquele lobo mau. Quando ia entrar no banheiro, dei de cara com Lua e seu olhar não parecia dos mais felizes, um legítimo lobo mau de espécime rara prestes a me trucidar.

– Oi – falei com uma voz rouca, abafada e sem jeito.

Não ouvi nenhuma resposta, apesar de que algumas horas depois ele vai afirmar que respondeu e eu acredito nele.

Entrei no banheiro e me tranquei na cabine para ter o mínimo de privacidade enquanto me aliviava, se eu fosse ao mictório e ele aparecesse ia travar, já que tem o incrível poder de me deixar excitado. Quando saí, fiquei procurando-o, tanto é que ainda dei uma volta no segundo piso a sua procura, só que sem sucesso. Voltei para a rua e só algumas horas depois, aproximadamente às dez e meia sinto meu celular tocar, na realidade era um sms, um não, vários! No mínimo umas oito mensagens de Lua.

Ahhhhhhhhhhh! Ele resolveu falar comigo! Que feliz!

Merda! Eu não tinha crédito para responder, quanto mais ele mandava mensagens mais aumentava minha agonia já que eu não tinha crédito, e não tinha um lugar sequer aberto em que eu pudesse fazer uma recarga.

Desesperado e sozinho (porque eu acabei me perdendo do meu bando, fui procurar Maicon no bloco que ele participa e depois não achei ninguém), parei em frente a uma loja, afastado da muvuca. Tinha uma mulher parada num canto provavelmente esperando alguém e eu, desnorteado, perguntei se ela sabia como mandar sms a cobrar.

– Acho que é jogo da velha, 9090! – respondeu a moça, um pouco em dúvida.

– Obrigado! – agradeci e tentei enviar o testamento que havia digitado, mas não conseguia, só aparecia "enviando, enviando...", não sei se estava errado ou se era meu celular, já que eu não conseguia nem ao menos fazer uma ligação a cobrar.

E Lua continuava me mandando mensagens suplicando por uma resposta.

Que agonia! Eu não podia responder!

Minha mãe me ligou falando para ir para casa eu disse que daqui a pouco estaria indo. Comecei a correr no meio da avenida atrás de alguém conhecido que pudesse me emprestar um celular para um telefonema urgente, era caso de vida ou morte. Eu necessitava urgentemente falar com o Lua. No meio da multidão, encontrei um amigo meu que havia estudado dois anos atrás, peguei seu celular e liguei, mas a ideia não foi tão boa. Lua desligou na minha cara! Coitado, não foi por maldade, só não podia atender.

Sem solução, resolvi ir embora para minha casa, triste e melancólico, correndo no meio da multidão, fui agarrado por uma piranha negra da qual me desvencilhei rapidamente e corri, como se aquilo pudesse me fazer fugir dos problemas. Quando eu estava perto da rodoviária, recebi uma mensagem dele dizendo que ia a rua, se eu poderia vê-lo. Então resolvi voltar.

Nada de Lua!

Nada de Lua!

Minha tensão ia aumentando. Ele não aparecia. Até que fui saber que estava perto de uma creche, num local mais tranquilo. Eu precisava correr para chegar lá antes de ele ir embora. Corri desesperadamente como aquela garota estranha do clipe Titanium do David Guetta, eu queria encontrá-lo, e para isso precisaria chegar antes que fosse embora. Quando passei nas margens do rio em frente a um posto de gasolina, um idiota gritou quando me via correr com o celular na mão.

– Pega ladrão! Pega ladrão!

Alguns segundos depois (acho que não demorou nem um minuto para eu chegar), eu e o que havia sobrado do meu fôlego chegamos. Ele estava lá, sentado e me olhava com o olhar do tipo: "temos muito que acertar".

Cumprimentei-o e sentei ao seu lado, começando a falar, pedi desculpas e ele mal esboçava alguma reação contrária ao que eu dizia. Lua falou pouco, ainda parecia chateado comigo pelo que eu havia feito, mas fiquei feliz por ele ter se preocupado comigo, me ligado, me dado alguma atenção, ter ido até ali, ter lembrado da minha existência... Como eu podia ter tanta vontade dele assim? Não, eu não podia, mas eu queria simplesmente tocá-lo, eu precisava.

Conversamos um pouco já que ele precisava voltar rápido para casa. Sua voz era doce, terna, suave... Eu gostava de ouvi-lo. No final, ele teve que ir embora, e eu não podia deixá-lo partir sem antes um abraço. Nossa! Como eu precisava daquilo. Seu cheiro era embriagador, viciante e delicioso.

Lua foi embora. Só que dessa vez foi diferente. Eu ainda tinha um fio de esperança, um fio mínimo, quase invisível, de que poderia haver um reencontro, e dessa vez num lugar mais interessante e proporcionalmente tentador. Mesmo que fosse uma única vez, eu ainda queria tê-lo. Eu acreditava em tal possibilidade. Será?


Muito prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora