9. Pretéritos da felicidade

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Dez letras, dez fonemas, cinco sílabas, cinco vogais e cinco consoantes. Felicidade! Bem, essa palavra pode até não ser um verbo, mas já aprendi a conjuga-la em todos os tempos e modos. Mas parece que meu preferido é o passado. Pretérito perfeito: Maicon. Pretérito imperfeito: Luiz Otávio. Pretérito mais-que-perfeito: Enzo. Ah, certos amores eternos amores que nunca saem nem sairão da nossa cabeça. Não me sinto tão bem falando nisso, mas é um mal necessário, desabafar para descarregar. Acho que a felicidade não gosta de mim, às vezes corro atrás dela tanto, e depois que não tenho mais fôlego para correr a vejo desfilando pela esquina. E então corro mais como se a única coisa que eu precisasse na vida fosse alcança-la, mas ela some, desaparece, e como se eu a segurasse por no máximo cinco segundos nas mãos e ela virasse névoa, pó ou lágrimas.

Lágrimas! É só aquilo que me resta para consolar as madrugadas frias e tardes vazias sem poder ser feliz. Não me culpe por relacionar diretamente o mal da felicidade com o amor, talvez eles sejam fatores que andem lado a lado ou talvez não. Parabéns para aqueles que conseguem distanciar ao máximo possível esses conceitos, mas eu não consigo. Choro pelos cantos ao saber que nunca poderei ter um amor completo, só fragmentos de coração jogados na minha porta como se eu fosse a lixeira da miséria humana. Apenas meio amores que me distribuem como se eu fosse um prêmio de consolação. Por que Deus faz isso com a gente? Será que está testando minha paciência? Porque se isso é um teste quero ser reprovado de uma vez, meu nível de paciência ultimamente tem andado a baixo de zero. Reprovado na paciência, mas aprovado na felicidade. Ou talvez tudo esteja escrito no meu destino, repleto de linhas tortas que eu nunca compreendo, acho também que nunca compreenderei. Mas me abandonem mesmo aqui, na esquina dos destinos, e quando um bom futuro passar por aqui eu correrei para agarrá-lo com todas as minhas forças. Isso! Vou me apegar ao primeiro belo futuro que eu ver passando na minha frente na esquina dos destinos. Mas não julgue um psicopata por querer meus amores pretéritos de volta. Eu ficaria com todos eles. Quem sabe eu os arrumasse na minha estante para cada dia usufruir de um.

Puxo uma cadeira bamba que é a primeira que vejo pela frente. Se eu cair, pelo menos tomo um choque de realidade. Vejo uma almofada branca amarrotada no sofá e me abraço com todas as forças a ela como se fosse o amor da minha vida, meu bilhete premiado da felicidade. E choro! Choro até esgotar todas as minhas forças. Grito desesperadamente como se aquilo pudesse resolver alguma coisa na minha vida. Ainda bem que não tem ninguém em casa, senão minha mãe ficaria apavorada com meu estardalhaço todo. Sento no chão, e sem conseguir encontrar uma posição confortável, deito. Meus olhos estão molhados de lembranças felizes. Por que a gente só acorda para a felicidade quando ela já se foi? Essa semana tinha tudo para terminar bem, fui tão feliz, desde sábado até quinta, mas hoje não. Essa sexta não é um dia feliz para mim, e não sei qual dia mais será... Bem, vamos fazer uma viagem no tempo e voltar ao sábado passado.

Era sábado, e fazia muito tempo que eu não ia a festa nenhuma. Eu estava tão animado quando a própria aniversariante dos dezoito aninhos, Bárbara. No dia anterior, ela havia me apresentado uma amiga dela, a Sarah que eu achei superinteressante. A moça tinha apenas dezessete aninhos, um cabelo moreno na altura do ombro, um sorriso meigo fofo e as bochechas rosadas que me davam vontade de apertar! Pensei que não despertaria interesses por mim, já que era bem mais bonita, mas eu estava enganado. E não é só pelo fato de ser gay que não vou achar garotas bonitas e nem deixarei de ficar com elas, nunca contei a Bárbara que sou gay e preciso manter as aparências. Fui o primeiro convidado a chegar à festa, até mesmo por ter ido acompanhado da aniversariante, pois eu não conseguiria chegar lá sozinho. Enchemos bolas e limpamos a piscina. Depois de muito tempo, chegaram os convidados e a noite também veio junto, ah, e Sarah. Vinte minutos dela na festa e a beldade passa perto o mim. Seguro em seu braço e chamo para conversar.

Muito prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora