5. Bom de cama

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Bem, para eu começar a contar essa história, é preciso que você esqueça tudo aquilo dito por Pietro, ele não sabe de nada e a verdade é que eu alimento esse corpo e o mantenho de pé enchendo-o de prazer. Se não fosse pelo meu prazer, Pietro nunca seria feliz. Ele tem essa horrível mania de achar que manda em tudo só porque está por aqui a mais tempo. Os índios também estavam no Brasil bem antes dos portugueses e nem por isso ficaram com o território. Eu nasci quando ele já tinha catorze anos e passei a ser dois anos mais velho que ele. Nasci para satisfazer os desejos e as vontades que Pietro nunca teria a coragem de revelar. Quando eu transo com Enzo da maneira mais lasciva, vejo que Pietro se sente a melhor pessoa do mundo, quando me envolvi com Maicon e também com Luiz, deixei novamente meu companheiro de corpo extasiado. Ele não sabe ser tão bom de cama quanto eu, ele pensa demais, tem sentimentos demais... Se alguém pretende ter algum tipo de prazer, preferencialmente sexual, precisa desligar todos os seus sentimentos e não se envolver de maneira emocional com a outra pessoa.

Sinto-me honrado por pertencer a alma de um ser tão especial. Fui eu quem causou uma briga catastrófica entre Maicon e Gabriel, mas no fim tudo se resolveu. No final, tudo sempre se resolve, é a lei da vida. Reconquistei Maicon com um agrado, eu não podia perdê-lo, é meu único amigo. Pietro tem muitos outros, mas eu só tenho esse. Maicon é como um diário ambulante de duas pernas, ele sabe tudo da minha vida. Na verdade, eu queria que Luiz Otávio fosse assim também, ele preenchia todos os pré-requisitos e tinha minha confiança, contudo, nem todos os meus planos dão certo. Aliás, meus planos não costumam dar muito certo.

Creio também que Pietro Cedrone goste de mim, eu sou o melhor produto que sua imaginação já foi capaz de criar, o relacionamento com Enzo Gabriel só aconteceu por minha causa, isso serviu até como inspiração para escrever até alguns versos sobre a situação para compor uma música. Chega dessa enrolação e vamos logo para a história, sei que quem está por aqui não está apenas interessado em frases reflexivas, se assim fosse compraria um livro de autoajuda.

João Guilherme surgiu como uma válvula de escape necessária a qualquer um, é um grito interior, o corpo precisa disso. Poucas pessoas queriam saber meu nome, elas estavam bem mais preocupadas com o comprimento e diâmetro do meu pinto. Pietro diz que eu sou usado como um objeto, mas eu uso-os também. Em quatro anos de existência, já fiz coisas com tanta gente que nem sei o nome. Sou capaz de andar na rua e identificar todos os rostos dos corpos que eu me esfreguei. Alguns até me arrependo, mas outros... daria tudo para sentir novamente o atrito, pele na pele... Um desses era Enzo, por quem se apaixonou meu pervertido coração. Enzo Gabriel era diferente de qualquer criatura que eu já conheci em toda minha vida e lhe agradeço por ter rendido a minha alma.

Lembro-me que era terça ou quinta-feira à tarde. Eu tinha curso nesses dias e precisava ficar na rua esperando por duas horas, pois era longe de casa e não valeria a pena ir da escola para lá. Eu almoçava e depois ficava vadiando por aí. Sempre colocava em prática minhas perversidades nesses dias. "Sexo" duas vezes por semana, na verdade não era "sexo", pois a gente só se chupava, raramente rolava penetração e nunca rolava beijo. Mesmo sendo gay, eu só beijava garotas, ainda tinha uma parte minha que desejava ser hétero. E eis que um dia, passeava à toa pelo shopping à procura de alguém para me dar prazer, mas não encontrei ninguém. Faltavam poucos minutos para o curso, resolvi então ir embora. Desci pela escada rolante e dei de cara com um cara lindo, óbvio que ele era hétero e não iria me querer, porém trocamos olhares quentes e ardentes. Fiquei na dúvida, ele subiu as escadas e fui atrás. Fiquei do lado oposto observando-o quando entrou numa loja, ele me olhava também. Seu olhar era misterioso e sedutor, ele era marrento, apesar de não ter mais de um metro e setenta. Seu rosto era fino, pouca barba, boca delineada e olhos castanhos.

Estava dando a minha hora e eu tinha certeza de que aquilo não daria em nada. Mas eu não conseguia parar de olhar para aquele corpo sarado, de camiseta, com os músculos saltando em seus braços, devia morar numa academia. Desisti, já estava descendo a escada quando vejo a mão dele sinalizando para que o esperasse. Subi novamente as escadas, ele saiu da loja, foi para o corredor do banheiro e lá bebeu água. Me falou para segui-lo até o carro.

Que merda! Eu tinha que ir ao curso. Se faltasse, meu pai saberia já que o professor é seu amigo. Nervoso, acompanhei-o até o carro e com pressa, fui até ele.

– Eu disse pra você me seguir, não andar do meu lado! – falou de uma maneira rude. Grosso!

– É que eu tenho que ir embora. Estou atrasado!

– Hum... Ok! Me passa seu telefone então.

– Prefiro anotar o seu.

Anotei rapidamente o telefone dele enquanto corria contra o tempo.

– Qual o seu nome? – ele perguntou.

– João Guilherme – não hesitei.

– Enzo Gabriel, muito prazer. – estendeu a mão para mim. Ele devia ter uns vinte e cinco anos (e eu quinze).

Mal sabia eu, mas ali nascia uma história de muito prazer. Enzo Gabriel mudaria mesmo o rumo da minha vida.

João Guilherme


Muito prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora