15. Verdades que nunca contei

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Aquele era o dia! Sabe quando você se sente sufocado retendo tantas informações e precisa desabafar com alguém antes de explodir? Eu me sentia como o mar morto, que só recebia e recebia e não repassava nada. Bárbara me contava tudo de sua vida sexual e putarias enquanto eu continuava posando de virgem das circunstâncias, sendo um cretino puto, na verdade. Bárbara era minha melhor amiga, já a três anos. Ela tinha um belo cabelo castanho e liso, uma boca bem delineada, bochechas fofas, um corpo legal com um leve excesso de peso que eu caracterizaria como excesso de gostosura e como não poderia faltar, seu olhar de reprovação. Marquei de buscá-la após a aula para irmos juntos até a casa de sua tia que adora ler revistas da novela.

Eu ia contar. Estava reunindo toda a coragem do mundo para falar aquilo, nem sabia por onde começar. Até que enfim decidi mostrar uma foto de um dos meus amores e deixar que daí em diante as informações fluíssem com mais facilidade. Fomos andando e eu avisei que precisava contar uma coisa. Durante todo meu trajeto tentei desbloquear a tela do celular para mostrar a foto, mas não consegui de jeito nenhum.

– O que você tem que me contar?

– Eu queria te mostrar uma foto, mas a tela do meu celular tá com problema aqui no canto e não vai!

– Ia me mostrar que foto?

– Uma foto aí.

– De quem? É daquela garota?

– É!

Aproveitei que ela mesma arranjou a desculpa para mim. Ainda bem, pois eu não sabia o que dizer. Voltei para casa frustrado e engasgado com aquele segredo que ainda me rodeava.

Uma semana depois. Aquele sábado de carnaval seria o dia escolhido para fazer revelações! Vesti uma camisa dégradé presente de Enzo e uma calça jeans skinny. Encontrei Bárbara com os amigos dela – eu não bebi nada, garanto!, pedi para que fosse comigo até a praça. Ela fez uma cara reflexiva, mas seguiu minhas ordens sem tecer maiores comentários, ainda bem. Contei mentalmente até três. Respirei fundo para oxigenar o sangue, expandir o pulmão e me dar coragem para falar tudo até que estava agarrado na garganta. Nem sempre é fácil vomitar tais palavras. Peguei o celular, desbloqueei a tela e mostrei uma foto (perfeita) de Diego.

– O que é isso?

Apenas olhei para ela com um sorriso acanhado no canto do rosto. Com Bárbara é assim, comunicação telepática. Demorou uns três segundos para a cara de interrogação de Babi migrar para um olhar de espanto e depois, sincero.

– Enzo também?

– Sim.

– E Maicon e Luiz Otávio?

– Também.

– Eu já desconfiava. Lembra do dia que você precisou mandar mensagem para o Enzo do meu celular e disse pra ele não responder? Então, ele respondeu, horas mais tarde e te chamou de amor. Outra vez, Leandro me mandou uma foto da sua carteira escolar. Tinha escrito "Luiz" e um coração.

– Eu escrevi isso?! Mas esse Leandro é fofoqueiro hein...

– Relaxa, Pietro! Mas então é por isso que sua mãe não te deixa fazer nada?

– É.

– Você já beijou quantos garotos até hoje?

– Quatro. Eu só beijo garotos top.

– E eu sabia que você não ia pra casa de Enzo direto só pra jogar videogame. Bem, era um pouco suspeito. Na verdade, quando ele te chamou de "amor" pensei que fosse alguma brincadeira de vocês, mas sei lá. Ele é seu namorado?

– De vez em quando sim. A gente briga muito.

– Eu quero conhecer ele!

– Vai conhecer sim.

– Outra coisa, você é a terceira pessoa que me conta isso. O primeiro foi o Guto né.

– É. Eu fiquei chocado quando você me contou isso.

– Eu não te contei, você que fez suas suposições...

– ... De que ele e Leandro ficaram. Guto é tão lindinho e se prestar a isso.

– O segundo foi Leandro né, porque aquele lá não tinha mesmo como esconder. Mas eu estou muito feliz de você ter me contado. Era isso que você ia contar semana passada?

– Sim.

– Mas, Pietro, me conta os detalhes! São todos homens lindos hein. Exceto a cobra Celeste.

– Cobra Celeste? – disparei a rir.

– É, esse Luiz Otávio! Não sei o que você viu nesse garoto. Igual a cobra Celeste do castelo Rá-Tim-Bum.

Ri alto! Coitadinho... Se bem que ele é meio estranho mesmo, mas beija bem.

– Vou te falar a mesma coisa que eu falei para os outros: Te amo mais agora!

– Ain, Babi! Me abraça?

– Abraço.

E nos abraçamos de uma maneira terna e fraternal. Como se eu me sentisse mil quilos mais leve a partir daquele momento após a confissão.

– Pietro, na verdade você é a quarta pessoa...

– Sério!? Eu conheço?

– Sim.

– Quem?

– Não posso falar.

– É uma pessoa próxima de você? – indaguei, quero saber quem é o outro gay.

– É, da minha turma.

– A última letra é S? – pergunto

– Não!

– Ah, se ele fosse... pegava agora! – fiquei na esperança de que fosse o garoto lindo da sala dela que sempre me cumprimenta na rua – Ele estava tão gostoso ontem... Me fala a última letra!

– M!

– Ahhhh! – engoli o ar – Não acredito! – e minha alma desmaiou e o meu corpo só não fez o mesmo porque não tinha lugar decente para cair. Estou chocado.

Depois disso, só tive uma certeza: O mundo é gay!

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Muito prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora