Capítulo 7

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Nina Novaes

Meu Deus.

Meu Deus.

Meu Deus.

De acordo com o relógio na mesa de cabeceira, faz três minutos que acordei e há três minutos não paro de repetir "meu Deus" na minha cabeça. Não sei se isso é blasfêmia, mas se for, já antecipo meu pedido de desculpas aos céus.

Que. Homem. É. Este. Deitado. Ao. Meu. Lado.

Quer dizer, não estou perguntando literalmente, pois sei exatamente quem é. Mas, meu Deus! Como é que ele conseguiu fazer tudo aquilo, daquele jeito, sendo apenas um homem? Meu Deus.

Dou uma olhadinha nele. Quando acordei, seu braço estava repousado em mim, pois estávamos de conchinha. Conchinha, dá para acreditar? Mas agora, porém, estou há alguns centímetros dele, de modo que consigo vê-lo melhor.

Ele está completamente descoberto e nu. Meu Deus, que bunda é essa aqui? E essas costas? Vislumbres do que aconteceu há, sei lá, três horas atrás, me passam pela cabeça e eu dou risada baixinho. Isso faz com que ele se mexa. Merda, merda, merda! Não acorde!

Espero em silêncio e imóvel. Ele continua a dormir. Suspiro aliviada e tento me levantar da forma mais discreta possível.

Não me condenem! Não é que eu esteja agindo como uma cafajeste dos filmes americanos, que transam e saem no meio da madrugada sem se despedir. É claro que não. É o Alex. Ele é quem faz isso.

Enquanto pego minhas roupas, jogadas na cozinha - onde ele começou a tirá-las (sim, na cozinha, meu Deus!) - penso que estou fazendo um favor a ele, e que mais tarde, talvez, ele até me agradeceria.

Visto peça por peça e depois prendo os cabelos desajeitadamente. Dou uma olhada ao redor da casa, agora que não estou com a atenção comprometida por aquela coisa loira espetacular. Meu Deus... Balanço a cabeça, me concentrando, e vejo alguns porta-retratos na sala. Alex, Alex mais novo, Alex e um cachorro imenso, Alex e dois velhinhos, Alex na formatura. O amor próprio reina nesta casa.

O apartamento, em si, é modesto. Fica a alguns minutos do meu prédio. Quer dizer, não que eu esteja fazendo os cálculos de quanto tempo ele levaria para chegar lá. De forma alguma. Mas, no geral, é bem organizado e muito a cara dele. Tenho até vontade de ficar mais um tempinho, apenas fuxicando as coisas enquanto ele dorme, mas já são sete horas e eu preciso trabalhar. E também não quero que ele me veja.

Não pensei muito no que vamos fazer. Quer dizer, já transei com alguns (leia-se: dois) caras à toa, mas nenhum deles era meu mentor. Então não sei como vamos agir da próxima vez que nos vermos, o que, de acordo com o relógio, seria daqui a cinco horas.

Pego as chaves do meu carro, ciente de que teria que caminhar até o estacionamento do hospital para pegá-lo. Ótimo, ao menos o exercício do dia já seria feito. O segundo exercício, já que o primeiro, vocês sabem...

Para sair da casa, sou obrigada a passar pelo corredor que leva ao quarto. Estico o pescoço a fim de ver se deixei algo meu lá. Mas aí me lembro de que, quando entrei naquele quarto, já estava sem nada, apenas com um Alex grudado na minha boca. Dou uma olhadinha nele. Está na mesma posição que o deixei. Ele e aquela bunda que dormem tão bonitinhos... Depois eu que sou o anjo da história.

(...)

O porteiro me encara com olhos desconfiados. E daí que são sete e meia da manhã? Ao invés de bom dia, tenho vontade de perguntar se ele não transa socialmente. Mas, como estou de ótimo humor (e como não estaria?), apenas sorrio e aceno, de forma que o olhar acusador dele aumenta.

Pego o elevador, aos assobios, e ensaio em minha mente como irei contar à Sofia. Já dou adeus aos meus ouvidos, porque sei que ela vai gritar até explodi-los. Já no meu andar, tiro as chaves do apartamento da bolsa e abro a porta.

Dou um grito de acordar todos os meus vizinhos quando vejo Marcelo sentado no meu sofá, alisando sua arma e de cara fechada.

- Puta que pariu, Celo! Quer me matar de susto? - eu berro, fechando a porta. Não é que eu não esteja acostumada a vê-lo em minha casa, mas, sei lá, é tão cedo que não imaginava encontrar ninguém de pé, quem dirá na minha sala e alisando uma arma.

- Qual é, Ni? Onde você estava? Não tem um bilhete, mensagem, nada... Eu tava preocupado! - Percebe-se, eu penso, o encarando. Estava todo tenso. Ele se apruma no sofá, guarda a arma e estala o pescoço; tudo em dois segundos. - Hein?

Penso no que responder. Ora, a verdade, ué.

- Você não vai acreditar! - eu junto as mãos e dou um gritinho.

- Eu não acredito que você deu pro cara!

- Eu disse que você não ia acreditar - dou risada, mas logo fecho a cara. - E não use esses termos comigo!

Jogo os sapatos no canto da sala e vou caminhando até a cozinha. Precisava beber alguma coisa.

- Nina, você conhece ele há três dias! - Marcelo diz, quase gritando, mesmo sabendo que da cozinha dá muito bem para ouvi-lo.

Ele não disse isso, disse? Volto para lá antes mesmo de chegar à cozinha.

- Ah! - eu solto, dramática. - Desculpa aí, senhor-acabei-de-conhecer-a-Luiza!

- Luiza? Que Luiza? - ele me olha como se eu fosse louca. - Ah!!! A Luiza! Mas... Mas eu sou homem!

- Você pode ir embora neste momento se for começar com esse papo machista.

- Ni, ele é o seu mentor.

- E muito gostoso, por sinal.

Ele revira os olhos, impaciente.

- Esquece! Vou pra casa, preciso dormir - diz simplesmente. Se aproxima de mim apenas para me beijar a testa, e sai porta afora.

Suspiro. Droga... Marcelo consegue ser a mistura perfeita de um pai + um irmão mais velho. Ao menos tenho alguém a quem contar que ficará feliz, eu penso, discando o número de Sofia - que precisa estar acordada.

*****

Lindas <3, esperamos que tenham gostado. Não esqueçam de votar e darem suas opiniões, tá?

Beijo pra todas e na terça tem mais!

Gabriela e Natália.

27/09/2015.

Anjo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora