Alex Boaventura.
Não é como se eu pudesse reclamar da vida. Eu tinha quase tudo de que precisava: um apartamento a duas quadras do meu novo trabalho, um carro novinho em folha, mais dinheiro do que eu conseguia contar e todo reconhecimento que sonhei ter um dia.
Tenho que admitir que os primeiros dias foram mais difíceis. A começar pelo meu inglês que estava bem enferrujado. Eu precisava andar para cima e para baixo com o George, que era a única pessoa que falava espanhol, o que facilitou um pouco para mim. Ele até é um cara legal, têm 40 e poucos anos e, além de meu chefe, até seria um bom amigo se eu o desse essa chance. Mas faço questão de me manter reservado desde o dia em que cheguei, de modo que só conversamos sobre trabalho. Também foi difícil me adaptar ao fuso horário e ao clima da Califórnia – em fevereiro a temperatura não passava de 10º e eu sentia falta da instabilidade de São Paulo.
Eu não folgava tanto quanto no meu antigo emprego porque não havia nada que eu quisesse fazer na Califórnia além de trabalhar. Foi para isso que eu vim e até então estava satisfeito. Não que os bares daqui não fossem ótimos, mas é que eu realmente não tinha vontade de ir afogar as mágoas lá. Quando eu perdia um paciente ou sentisse que eu mesmo estava me perdendo, eu simplesmente ia conversar com minha mãe. Estou pagando um absurdo de telefone de tanto que ligo para a coroa. Às vezes eu passava quase que duas horas falando com ela pelo Skype. E então mais cedo ou mais tarde o assunto ia morrendo e eu simplesmente arqueava as sobrancelhas pra ela, que suspirava e começava a me contar sobre o que eu realmente queria saber, após um "poxa vida, você não consegue se interessar por outra coisa que não ela?".
Ela. A falta que eu sentia dessa mulher era tão grande que doía. Nina havia conseguido superar a falta da minha própria mãe, dá para acreditar? Não havia um dia em que eu não acordava e não esperava vê-la entrando no quarto vestindo apenas uma das minhas camisas. De como ela revirava os olhos para mim ao dizer "pare de ser egocêntrico, Alex" ou de como ela não conseguia segurar o riso quando eu a imitava ou dançava de toalha no meio da sala. Eu sentia falta da voz, do cheiro, dos olhos, do cabelo, do corpo que eu conhecia melhor do que o meu próprio... Às vezes essa falta era tão insuportável que eu poderia facilmente largar tudo e voltar para ela. Mesmo que isso significasse perder o meu emprego ou abandonar meus estudos sobre um novo método cirúrgico... Mesmo que isso significasse voltar atrás no que eu havia dito. No final das contas, aquele "você não poderá fazer nada para mudar" que eu disse a ela serviu apenas para que ela não conversasse comigo nas últimas quatro semanas. Deus sabe que meia palavra dela me faria voltar feito o idiota que admito ser, então, de certa forma, foi melhor assim.
Mas aí, uma semana depois de eu ter me mudado, eu estava cobrindo a falta de um colega (algo que eu tenho feito muito e que me faz ser conhecido como "o cara bacana que trabalha feito louco"), quando Nina me enviou uma foto no whatsapp. Eu quase deixei cair o suco que estava segurando. Abri a conversa e baixei a imagem: era Denis com o uniforme de um time, fazendo jóinha e esboçando um sorriso banguela enorme para a câmera. Devo ter sorrido feito um idiota na hora, mas não consegui escrever nada. Nina disse que estava cumprindo nossa promessa, o que me deixou meio puto, porque deu a entender que ela estava fazendo aquilo por nós dois por culpa minha. Até conseguia ouvi-la dizendo "ah, Denis, o doutor Alex não pôde vir, ele está ocupado realizando seus sonhos do outro lado do mundo". Sendo assim, abri a câmera frontal e comecei a gravar um vídeo para que Denis pudesse me ver, porque assim era melhor.
Nina e eu trocamos mais algumas palavras, mas depois achei melhor não responder. Eu era um fraco e ora ou outra começaria a dizer sobre a falta que ela faz. Isso se ela não começasse a perguntar sobre a minha nova vida de solteiro, o que me deixaria puto, porque nem pra isso eu tô servindo.
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Anjo (COMPLETO)
RomanceNina Novaes acaba de se formar em medicina e logo consegue uma vaga como residente no hospital da cidade. Ela só não esperava que seu mentor, Dr. Alex Boaventura, iria mexer tanto com sua cabeça - e seu coração. Como se não bastasse, Nina fica total...