Epílogo

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Nina Novaes.

Estar uma pilha de nervos era um termo bonitinho para descrever o meu atual estado. Eu estava tremendo como se fizessem dez graus negativos aqui fora e suava como se fizessem cinquenta. Minhas mãos estavam molhadas de puro nervosismo e não por secarem minhas lágrimas - lágrimas essas que não existiam.

Eu tinha traçado uma meta para o dia de hoje: não choraria por nenhum motivo. Eu estava chorona e sentimental demais nas últimas semanas e hoje, o dia mais especial e mágico de toda a minha vida, não queria parecer uma descontrolada emocionalmente.

Posso afirmar com todas as letras que foi a promessa mais difícil de ser cumprida da minha vida. Por começar que já fui acordada com beijinhos e café da manhã na cama, com direito a uma declaração de doer o coração de qualquer mocinha. Eu estava me casando com a melhor pessoa do mundo e não tinha dúvidas nenhuma sobre isso. Contive as lágrimas também quando estava saindo de casa atrasada para ir buscar Sofia e minha mãe para irmos ao salão de beleza e um Marcelo todo emocionado aparece na minha sala para dizer o quanto estava feliz por eu ter encontrado o cara certo. "Espero nunca te encontrar na meu sofá chorando por ele, porque o Alex vai ser o cara mais ferrado do mundo se fizer merda com você, Ni." Essa foi sua promessa em meio à risadas, com Alex bem atrás de mim escutando a coisa toda. Mas eu sabia que embora estivéssemos rindo, ele estava falando muito sério. Nós três sabíamos.

Não preciso dizer o quão complicado foi segurar as lágrimas com minha mãe, que também estava de aniversário hoje e não se continha de alegria por termos escolhido essa data. Sofia, ao contrário de todos, só me fez gargalhar com suas piadinhas sobre casamento e sobre como estava feliz por eu me casar primeiro que ela para que eu pudesse lhe dizer se era bom ou ruim, então ela ainda teria um tempinho de desistir. Mas é claro que ninguém a levou a sério, pois não víamos mais Sofia sem Miguel ou Miguel sem Sofia. Eles simplesmente se completavam, assim como eu e Alex.

O auge do dia, até agora, tinha sido o momento em que saí do salão de beleza onde passei o dia inteirinho sendo mimada e encontrei meu pai encostado no nosso carro alugado que estava pronto para me levar até o local da festa (aparentemente eu e Alex tínhamos um estranho amor por carros antigos e não tivemos dúvidas ao ver um Fleetmaster 1947 para locação, foi amor a primeira vista). Ele estava tão elegante em seu terno preto que eu tive que chegar mais perto para ter certeza de que era ele mesmo parado ali, me esperando. Ele chorou ao me ver vestida de noiva e pediu perdão por ser o pior pai do mundo. Eu tive que rir para não chorar, porque sabia que depois do dia de hoje, tudo voltaria a ser como era antes: ele esqueceria que tinha uma filha e só me ligaria de novo no natal, desejando boas festas. Ele só estava emocionado, assim como todo mundo. Depois, me pediu para entrar comigo na cerimônia. Ele não precisou pedir duas vezes, porque no final das contas, ele era o meu pai. E muito embora não fosse o melhor, era o meu. Eu sabia que se não entrasse com ele e fosse ver as fotos daqui uns anos, eu me arrependeria. Porque ele era o meu pai, oras!

Mas agora, parada atrás dessa porta sendo clicada pela equipe de fotografia contratada, de braços dados com Seu Zé todo charmoso e sentindo o coração querendo sair pela boca, eu tive a certeza que minha promessa seria quebrada. Espremia meus lábios e olhava para cima, numa tentativa desesperada de me acalmar.

– Sossega, filha – meu pai fala baixinho e divertido.

– Estou tentando, juro que estou.

Dou umas passadas de mão pelo vestido tentando ajeitá-lo. Ele era todo rendado e no estilo sereia, aquele mais colado pelo corpo e abrindo mais depois dos joelhos. As costas ficavam totalmente descobertas e eu estava feliz por não ter engordado tanto como eu pensava. Ainda conseguia deixar as costas de fora sem nenhum problema com as gordurinhas saltando.

Anjo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora