Capítulo 19

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Nina Novaes.

Um mês depois...

Tudo vinha acontecendo como tinha de ser. Claro que eu não podia dizer que as coisas voltaram a ser como eram quando entrei no hospital, mas não estavam ruins. Eu me sentia melhor a cada cirurgia realizada, fosse bem sucedida ou não. Raramente precisava da ajuda de alguém e estava cada vez mais certa de que me especializaria em Pediatria, embora também tivesse apreço por Obstetrícia (apesar da mentora responsável).

Continuava a sair com o Will, que neste último mês se mostrou presente e compreensivo. Eu não sabia dizer o que tínhamos de verdade, porque não conseguia rotular. Mas eu gostava de tê-lo por perto e acredito que era recíproco, porque ele dizia o tempo todo sobre como estava feliz.

Alex e eu parecíamos mais distantes do que no primeiro dia em que nos vimos. Depois do escândalo no elevador, nenhum de nós dois trouxe o assunto à tona. Simplesmente fingíamos que aquilo não havia acontecido. Não houve pedido de desculpas de nenhuma das partes, nem uma explicação ou a promessa de que esqueceríamos o ocorrido e passaríamos a ser amigos. Não houve nada. Nós só nos dávamos bom dia e boa noite. Realizávamos as visitas juntos e nos ajudávamos nas cirurgias. E isso era tudo. Raramente conversávamos sobre coisas pessoais. Eu nem mesmo sabia se ele estava saindo com alguém (alguém de silicone, cabelo ruivo e meio metro de altura). Ele, no entanto, sabia que eu continuava com o Will, mas não havia voltado a se manisfestar. Simplesmente fingia que não nos via juntos.

Mesmo que me custasse muito, eu estava lidando bem com tudo aquilo. Talvez estivesse me conformando. Ou só me acostumando com a situação. Não sei.

Numa sexta-feira, havíamos operado uma garotinha às seis da tarde e tudo havia dado certo (o que era ótimo, porque nos últimos dias havíamos perdido três pacientes). Não tínhamos mais cirurgias marcadas e poderíamos ir para casa, porque o doutor Roberto estava de plantão e o hospital havia contratado mais meia dúzia de residentes.

Estava futricando o meu celular no elevador, prontinha para ir para casa, quando ouço alguém berrar para que eu segurasse a porta. E assim faço de imediato.

─ Ah, oi. Obrigado ─ Alex diz e entra, parando ao meu lado. Nós observamos juntos a porta se fechar e ninguém mais entrar para nos tirar dessa enrascada. Ah, que ótimo, sozinhos! Só para completar a cena clichê. Só faltava o elevador quebrar! Continuo praguejando em minha mente, até que ele volta a falar. ─ Estacionamento também?

─ Sim, por favor.

Ele aperta o botão e depois olha para mim.

─ Mais nenhuma cirurgia para hoje?

─ Graças a Deus não. Não aguentava mais sair daqui às dez.

Ele abre um sorriso fraco e fica em silêncio de novo. A porta do elevador volta a se abrir e nós saímos juntos pela recepção do hospital, passando pelas portas e indo na direção do estacionamento. Havia esfriado muito desde o meio dia, o que me faz passar as mãos pelos braços a fim de esquentá-los.

─ Esfriou né? ─ ele pergunta e eu o olho sem acreditar. Minha cara deve ter falado por mim, porque ele ri: ─ O que foi? Não posso falar sobre o tempo com você?

─ Não. É esquisito.

─ Tudo tem estado esquisito.

─ É... ─ eu concordo e não digo mais nada. Volto a olhar para o celular, fingindo que não estou vendo ele olhar para mim.

─ Que milagre fez o pé no saco não estar aqui com você? Ele sempre te leva até o seu carro.

Acho que ele faz uma careta, mas não o olho para ter certeza. Detestava quando ele chamava o Will de pé no saco, mas não queria ter que recomeçar a reclamar.

Anjo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora