Capítulo 33

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Nina Novaes.

A manhã do dia seguinte foi tão corrida que nem ao menos tive tempo para pensar em sentir raiva do Alex. Quer dizer, eu sabia que a culpa não havia sido dele, mas mulher tem dessas coisas, não é mesmo? E eu também sabia que não veria Alícia nem tão cedo para poder descontar um pouco mais da minha ira.

Isso, pelo menos, era o que eu esperava.

Sendo assim, estávamos bem. Passei boa parte da manhã na emergência, onde havíamos recebido três famílias acidentadas numa rodovia pela madrugada. Só pude ver Alex quando por fim a situação se estabilizou. Lá pelo meio dia, nos encontramos no intuito de almoçarmos juntos, mas ele me puxa pela mão sorrateiramente até um quarto de descanso. Ao invés de nos agarrarmos como costumávamos fazer no início, apenas nos sentamos no beliche de baixo e respiramos fundo. O dia estava realmente puxado.

Alex apoia os cotovelos nos joelhos e enterra o rosto nas mãos. Eu sabia que ele tinha perdido algum paciente.

— Como foi? — pergunto, mas ele leva um tempinho para responder.

— Não pude fazer nada. Os pulmões dele foram esmagados...

— Ah, meu Deus... — digo, levando minha mão até seus cabelos.

Ele respira fundo de novo.

— Dois anos.

— Sinto muito, amor...

Ele assente, mas permanece na mesma posição. Sei que ele não quer mais falar sobre o assunto e que também não pode simplesmente largar tudo e ir beber como costumava fazer para esquecer, então só fico passando a mão por seus cabelos, ora ou outra dando um tapinha em suas costas. Não sei quem raios inventou que isso confortava alguém, mas era o que eu podia fazer.

— E com você, anjo? Tá tudo bem?

— Sim... Encaminhei quatro pacientes pra cirurgia, mas acho que nenhum corre risco de vida — respondo, ao que Alex torna a assentir.

Depois de um tempo em silêncio, ouvindo os passos do lado de fora do quarto, ele por fim se vira para mim. Seus olhos demonstram preocupação e é nítido que ele está cansado, mas ainda assim se aproxima de mim para me beijar. Resolvo não dar uma de infantil pelo ocorrido de ontem e o correspondo.

Quando nos separamos, ele sussurra, com a mão em meu pescoço:

— Obrigado. Sei que já conversamos sobre isso e que eu já pedi desculpas, mas... Fiquei com medo de como você poderia reagir. Por um momento pensei que fosse ver tudo errado, como naqueles filmes que você gosta, sabe? — eu assinto, com um sorriso fraco. — E então partir pra cima de mim.

Dou risada.

— Acha que eu sou louca?

— Às vezes, vai, anjo.

Assinto, irônica.

— Obrigada.

Ele ri baixinho e volta a me beijar. Não sei o que diabos tinha naquele beijo, mas quando dei por mim minha mão já estava entre os botões do jaleco dele, forçando-o a se abrir. Ele solta uma risadinha sacana e se ajeita na minha frente, já que estava sentado de lado. Me apoio nos joelhos, puxando-o para mim, e é nesse instante que ouço a porta do quarto se abrir.

Certo. Eu esperava qualquer pessoa lá. Até mesmo minha mãe. Mas não ele. Não o meu chefe! E ainda estava acompanhado de uma carranca gigantesca, não muito surpresa, mas de fato insatisfeita. A essa altura Alex já estava de pé, devolvendo o olhar do Ramon.

— Devo me desculpar por tê-los atrapalhado?

— Chefe, eu posso exp...

— Claro que você pode. Não só você, mas a senhorita Nina também. Francamente, Alex! Eu sabia que você ficava se agarrando com algumas funcionárias, mas num dia como esse? Sabe quantas famílias estamos operando hoje?

Anjo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora