Capítulo 15

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Alex Boaventura.

O hospital me concedeu três dias de folga sem que eu precisasse sequer me manifestar - outra coisa que Nina tinha feito por mim.

Na manhã seguinte ela voltou para casa e eu apenas telefonei para o Dr. Ramon, que disse que adiaria as cirurgias marcadas e que colocaria o Roberto para me substituir por ora. De início eu achei ótimo porque não precisaria trabalhar nem lidar com outras possíveis mortes, mas ao chegar à casa dos meus pais, após o funeral, percebi que seria ainda mais difícil. Eles estavam inconsoláveis, até mesmo o meu pai que sempre fez piadas dizendo que era bom minha avó não se chamar Esperança, já que esperança é a última que morre.

O fato era que eu sempre fui muito ligado a ela, já que era minha única avó viva. Nós moramos juntos desde que o meu avô morrera e por isso sempre a tive ao meu lado, principalmente quando optei por Medicina. Agora, porém, por mais que eu estivesse morando sozinho há uns três anos, era como se um buraco tivesse se instalado no meu peito. O quarto dela estava vazio e uma parte de mim também.

No dia anterior ao que eu deveria regressar ao hospital, voltei para a minha casa e tentei colocar a minha cabeça no lugar. Eu não sabia como lidar com as coisas que estava sentindo. Quer dizer, não me referindo totalmente ao caso da minha avó, porque eu já tinha perdido pessoas próximas. Me referia desta vez à Nina.

Não preciso dizer a ninguém que já estive com várias mulheres diferentes. Passei tempo suficiente com cada uma delas para perceber que relacionamentos sérios ou coisa do tipo não me interessavam, simplesmente porque eram... Cansativos. Desgastantes. Então quando a própria Nina sugeriu "apenas sexo" eu poderia jurar que estava no céu. Só que, quando a recebi na minha casa com o único intuito de me consolar, alguma coisa mudou entre nós dois e, ao que parece, ficara nítido para ela também, que parecia mais cuidadosa com relação a mim. Eu, é claro, não estava sabendo lidar com tudo isso. Com esse cuidado e atenção dela. Nem com a vontade que eu sentia de estar com ela para fazer nada em especial. Isso mesmo, nada. Eu simplesmente acordei um dia na casa dos meus pais e senti vontade de vê-la. É ou não é o bastante para enlouquecer um cara como eu? Claro que eu me sentia ferrado.

Na hora sentei à mesa com a minha mãe e comecei a contar coisa por coisa, como se estivesse no colegial. Ela fez um esforço e abriu um sorriso para mim, seguido de um "você está se apaixonando, filho". Me neguei a acreditar nessa porcaria e pedi a ajuda do meu pai, que disse "ih, Alex, a coisa estreitou pro teu lado". Será possível que ninguém tinha uma opinião diferente? Eu perguntei a eles o que eu deveria fazer, porque "estar se apaixonando" não era nada divertido, muito pelo contrário. E a minha mãe disse o que, de certa forma, eu já sabia, só não queria dar ouvidos.

─ Se você não pretende se apaixonar, pare de ver essa moça. E se não pode parar de vê-la porque trabalham juntos, pare de dormir com essa moça. Até porque, meu filho, é antiético! Quarto de descanso? Que horror!

Quando por fim resolvi o que faria, mandei uma mensagem para a Nina e disse que queria conversar com ela antes de nossa primeira cirurgia no dia seguinte. Ela pareceu animada e eu, que já temia pelo o que faria, desejei que esse dia nem mesmo chegasse.

(...)

Após realizarmos o pré-operatório do nosso primeiro paciente, tento conduzir Nina sorrateiramente até um dos quartos de descanso. Ela resmunga de início, mas depois me acompanha.

Fecho a porta atrás de nós e sinto os braços dela ao redor do meu pescoço.

─ Pensei que tivéssemos conversado sobre quartos de descanso ─ ela diz em tom sério, mas logo um sorriso se abre em seu rosto.

─ E conversamos... Não te trouxe aqui para aquilo, anjo.

─ Não?

─ Não. Quero conversar com você.

Anjo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora