Parte 3: Vermelho 16 - E por falar em amor

1.1K 55 2
                                    

Lenços de seda. Finos, fortes, maleáveis. Nos tornozelos, nos pulsos, na boca, nos olhos dela. Na mão dele. Imobilizada, Marisa sentia o sussurro do tecido. O toque da seda. Ao redor dos seios, passeando pelo braço, brincando na palma da mão e no meios dos dedos... Levitando até a parte interna das coxas. Deitando no umbigo, descendo mais um pouco, parando de novo... A pele palpitava pelo toque mais incisivo que a seda apenas prenunciava.

Seu corpo se espraiava em cruz sobre o leito, à mercê dele - e a vulnerabilidade oferecia uma taça de afrodisíaco a ser sorvida devagar com um ponto de interrogação. Marco ligou o MP3 e ela reconheceu a seleção que havia lhe gravado quando se conheceram. Os sons no quarto foram abafados pela música de ritmo lento. Marisa, contudo, podia ouvir Marco remexendo na mala, o zunido do zíper, o amarfanhado de roupas, papel, plástico. Depois os passos amortecidos pelo carpete e novamente a proximidade dele.

O cheiro característico do tecido, tênue, fresco, com uma nota de amargor, misturou-se a outro mais pungente e almiscarado. As tiras de couro do chicote - o chicote que agora deslizava em sua pele antes tocada pela seda. A carícia do couro suscitava uma reação diferente e Marisa antecipava o instante em que, sem aviso, deixaria sua pegada na carne. Era como equilibrar-se à beira de um precipício. Medo de cair. E vontade de lançar-se em suas profundezas...

Ela arfou pesadamente, cerrando os dentes. Ficou ali, trêmula, à espera, a carne exposta como as pétalas de uma flor que desabrochava para ele. Uma pétala, duas pétalas, três pétalas. Seu corpo, sua fragilidade, sua alma. E a brincadeira. O jogo de adivinhação. Onde o próximo toque? Como?

Ela não tardou a descobrir.

As tiras transmitiram leves choques, que foram se intensificando. Um afago, e de repente vergastadas fortes em seu ventre e nas suas coxas. Sensações imperiosas a arremessaram num vórtice, fogo e eletricidade misturados, nem um nem outra mas algo novo. O chicote voltou a afagá-la. Marisa se contorceu com gemidos entrecortados, sem saber onde terminava um estímulo e começava outro. Seu corpo inteiro pulsava numa chama difusa e, simultaneamente, ia se anestesiando.

Quente e frio, quente e frio, ondulando com a música... As tiras escalaram suas pernas, mordiscaram os mamilos e tornaram a descer até a junção das coxas. Pararam ali, instigando correntes elétricas que se alastravam por todo o corpo como fagulhas e depois retornavam ao seu sexo com potência redobrada. E iam e voltavam até que ela quase desfaleceu de prazer. Quando os impulsos cessaram e Marco retirou a seda de seus lábios, Marisa ainda foi sacudida por um interminável espasmo.

Marco beijou-lhe a boca por um longo momento, esperando que ela se aquietasse. E ela se aquietou. As fagulhas se dissiparam, mas agora o desejo insatisfeito a devorava. Queria, precisava de Marco. E ele sabia. Desamarrou-lhe os pulsos e os tornozelos, roçando ali os lábios entreabertos. E veio o peso do corpo dele sobre o seu. Marisa o acolheu com um arquejo. Respirou Marco, procurou de novo sua boca, enlaçou-o com os braços e as pernas. Ainda vendada, tinha os sentidos avivados para o que os olhos não podiam ver. A voz líquida de Marco, a transpiração dele que se diluía na sua, o desejo de ambos que não se estancava mesmo depois do violento gozo.

Ele continuou a investir dentro dela em movimentos tempestuosos enquanto a excitava com os dedos, até fazê-la soluçar à medida que os orgasmos iam se encadeando. Depois Marco removeu-lhe a venda e permaneceram deitados com os corpos ainda unidos. Ele apoiou-se no cotovelo e beijou-lhe a fronte. Cingindo Marisa pela cintura, rolou para o lado e deixou a cabeça tombar no travesseiro.

Marisa aninhou-se nos braços dele e acariciou-lhe o peito, brincando com os pelos macios que o recobriam. Gostava de ficar assim com Marco. No passado, tinham se abandonado àquele mesmo langor, às vezes conversando, às vezes na mansidão do silêncio. Era sempre bom.

VERMELHO: Uma História de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora